O caos que transforma a arte
Lev Semionovitch Vigotski foi um psicólogo bielorrusso, pioneiro da psicologia cultural-histórica no final do século XIX. Pensador importante em sua área e época, foi o primeiro a afirmar que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Em uma de suas pesquisas, o especialista concluiu que os signos criados pela humanidade, como a linguagem, o desenho e os sistemas numéricos, apresentam a capacidade de transformar o funcionamento mental, configurando funções psicológicas e, também, ocasionando alterações nelas.
Músicas, livros, pinturas e outras formas de arte, portanto, são constituídas pela linguagem — mesmo que o artista, inicialmente, não esteja consciente disso ao criar. Ao adquirir forma, a obra de arte exige a participação da consciência do fruidor. Essa qualidade da mente, portanto, desde o início da pandemia da Covid-19 tem sofrido metamorfoses, influenciando diretamente no resultado das obras de arte. É o que acredita André Baía, artista plástico nascido em São Paulo que mudou-se para Curitiba ainda criança.
Ele conta que essas transformações, inclusive, começaram a acontecer ainda nos primeiros meses do caos sanitário mundo afora. De acordo com ele, foi quando surgiram sintomas desse impacto. “Logo de cara, as primeiras mudanças foram as restrições de aglomeração, afinal, isso afetou diretamente as exposições de arte”, explica.
A rotina, portanto, era muito mais ativa fora do atelier, em tudo que envolvia o trabalho. Segundo André, por exemplo, era possível ir até as lojas que vendem materiais artísticos e moldurarias, o que interferia na produção. “São coisas que eu gosto de fazer, gosto de resolver pessoalmente. Ver os materiais, ver as novidades, o que é que tem. Sentir as coisas”, afirma
Outro ponto destacado por Baía é a possibilidade de se reunir com outros artistas: seja comercialmente ou encontros que envolvam projetos culturais — até mesmo visitas a museus. “Hoje, tudo isso precisa ser resolvido pela tela do computador e do celular”, lembra.
“Portanto, as obras feitas durante a pandemia têm uma carga dramática maior — e que refletem certas dificuldades, aquelas que temos em relacionar a nós mesmos no período de isolamento, e consequentemente os efeitos psicológicos disso”, reitera o paulista.
Para André, essas metamorfoses têm o ajudado a discernir um tipo de compromisso apenas pelo ato do fazer artístico. “Contudo, a produção acaba refletindo temas mais densos. Fica uma pintura mais descompromissada e espontânea, aquela que você faz sem pensar muito”, explica, acrescentando: “A arte tem esse poder de expressar o que não se consegue dizer com palavras. Coisas que estão ali na nossa psique, que têm a ver com psicanálise, que investiga a livre associação e as manifestações do inconsciente”.
Visualmente, as obras produzidas durante a pandemia são mais marcantes. Trazem uma expressividade maior, com mais força. André acredita, inclusive, que são mais ricas no quesito de variação de técnicas. Além de sentir, também, que não há um compromisso em agradar esteticamente.
Contudo, Baía afirma que não houve foco em uma técnica específica, mas, na verdade, em um conjunto de coisas. “Tive a chance, com mais tempo, de abraçar mais a minha pesquisa artística e, consequentemente, experimentar novas técnicas e novos caminhos criativos”, elucida o profissional, que revela também conseguir, hoje, estudar mais a fundo artistas que admira e que chamam sua atenção.
“O trabalho todo sofreu uma evolução, que é natural quando você está buscando novos caminhos e novas abordagens. Porém, sempre mantendo as minhas particularidades e características, que são próprias dos meus trabalhos. Sempre tomei cuidado com isso. Acho, então, que quando expandimos a mente para uma nova ideia, ela não volta mais para o tamanho original”, conclui.
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