Trânsito sustentável: as tendências do setor de mobilidade
Por: Luciana Prieto
Em 1962, o canal estadunidense ABC lançava Os Jetsons. Com uma abordagem bastante futurista, a animação, que foi um sucesso nas décadas seguintes, tem como um dos grandes destaques a mobilidade. Há mais de 60 anos, seus criadores, William Hanna e Joseph Barbera, arriscaram imaginar como seria o transporte no futuro. Mas, de lá para cá, o que realmente mudou?
Carros voadores vão esperar. Em 2022, ainda não existem veículos circulando no nosso espaço aéreo – mas a promessa sim! A Eve, empresa da Embraer voltada ao desenvolvimento dessa tecnologia, anunciou que pretende lançar os primeiros carros voadores brasileiros até 2026.
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A previsão da empresa é que, em 2035, mais de 200 carros voadores estejam disponíveis para transportar cerca de 4,5 milhões de passageiros anualmente em mais de 100 rotas previamente estabelecidas. “Nossas soluções foram pensadas considerando necessidades essenciais de mercado, como acessibilidade, segurança, sustentabilidade e preço da passagem”, afirma Flavia Ciaccia, vice-presidente de experiência do usuário da Eve, em comunicado.
Fora do país, em outubro, durante a conferência GITEX GLOBAL 2022, em Dubai, foi realizado com sucesso o primeiro teste de voo público de um carro voador, desenvolvido pela HT Aero, filial da startup chinesa Xpeng. Durante a demonstração, o modelo Xpeng X2 conseguiu realizar um passeio de 90 segundos. Com o resultado positivo, a fabricante reforçou que quer dar início à produção em massa de carros voadores em 2024, com os veículos a partir de um milhão de yuan, o equivalente a mais de R$ 750 mil na cotação atual. Além disso, a marca tem trabalhado continuamente com entidades reguladoras, a fim de receber as autorizações necessárias
Enquanto os céus não são dominados, a crescente massificação dos centros urbanos tem gerado uma série de desafios referentes à ampliação e ao desenvolvimento do ecossistema da mobilidade terrestre. No Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), mais de 85% da população vive em cidades. Para a fundadora do Multiplicidade Mobilidade Urbana, Glaucia Pereira, isso representa um grande desafio para todos os cidadãos, mas fundamental – mente para o poder público.
São muitos os motivos que fazem com que a mobilidade afete diretamente a qualidade de vida. Os congestionamentos geram atrasos – tanto de pessoas como no transporte de mercadorias –, aumentam os níveis de estresse e poluem o ar, ao ponto de serem considerados uma das causas de morte prematura nas metrópoles. Com esse cenário, como é possível adaptar o modo de transporte e, ao mesmo tempo, cuidar da saúde humana e do planeta?
“Nós temos diversos marcos legais importantes, como o Estatuto das Cidades, de 2001, a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), de 2012, e outros marcos que estão sendo construídos, a exemplo da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, que vem sendo pensada nas últimas duas décadas. Precisamos de governos comprometidos com a construção de cidades melhores”, afirma Glaucia.
Dessa forma, priorizar o transporte público e os modos ativos, como a bicicleta e o caminhar, são fundamentais. A especialista reforça que, com a priorização dessas iniciativas, a grande maioria das pessoas poderá deixar de utilizar carros, garantindo ruas melhores, menos poluição e calçadas seguras para todas as pessoas – incluindo as mais velhas, com deficiência e mobilidade reduzida.
A criação de cidades inteligentes, com o uso de macroferramentas como o big data, por exemplo, podem permitir a compilação e a análise de dados que veículos, pedestres, semáforos e demais elementos e circunstâncias do trânsito urbano geram a todo momento, de forma a organizá-los para que esse ecossistema funcione com maior eficiência.
“A chave é reverter o processo histórico de privilégio do automóvel. Não dá para pensar uma mobilidade do futuro sem rever o principal erro do passado e do presente. Precisamos abrir mão de ideias de conforto que nos foram incutidas por uma cultura do automóvel. Estamos perto do ponto de não retorno e, se continuarmos a emitir gases de efeito estufa, não teremos mais o planeta para viver”, reforça Pereira.
4 tendências que remodelam o transporte urbano
Mobilidade sustentável
Os veículos elétricos são o futuro. Embora no Brasil a eletromobilidade ainda caminhe a passos lentos, essa é uma tendência que deve se consolidar nos próximos anos.
Mobilidade compartilhada
Além de gerar economia, o compartilhamento de veículos auxilia na redução do tráfego e na emissão de gases poluentes.
Veículos inteligentes
Os veículos inteligentes são carros que, graças à Inteligência Artificial (IA), podem se deslocar sem um motorista. Um carro autônomo pode recolher uma pessoa e deixá-la no seu destino utilizando sempre a melhor rota.
Mobilidade conectada
A Internet das Coisas (IoT) vai permitir que todos os elementos envolvidos no trânsito se comuniquem entre si: veículos, semáforos, sinais, etc. Além disso, com o 5G, os carros poderão receber informações sobre vagas de estacionamento livres ou riscos.
*Matéria publicada na edição #270 da revista TOPVIEW.