Curitiba: uma história
*Por Diego Antoneli
Uma das capitais com maior diversidade étnica do país, Curitiba tem na sua região central um dos principais marcos do início do seu desenvolvimento. A riqueza cultural proveniente de diferentes grupos étnicos e o crescimento urbano se entrelaçam, moldando a cidade que conhecemos hoje.
Mas o fato é que foram os colonizadores portugueses os primeiros europeus a se instalarem em Curitiba. Ainda no século XVII, a Região do Primeiro Planalto do estado era tomada por garimpeiros vivendo em abrigos improvisados cobertos por folhas na tentativa de faiscar ouro.
Os garimpeiros foram organizados pelo administrador de minas nos distritos do Sul do Brasil, Eleodoro Ébano Pereira, que comunicou oficialmente a descoberta de ouro na região às autoridades portuguesas por volta de 1651. Nessa época, ele era o único representante das autoridades governamentais na localidade que atualmente integra Curitiba. Apesar de ser um emissário do governo, ele não era propriamente um povoador da região. Pereira havia organizado, a partir de Paranaguá, uma expedição em direção ao planalto curitibano em busca de ouro.
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Motivados, sobretudo, pela exploração de ouro e também para a captura de indígenas para serem escravizados, alguns bandeirantes portugueses passavam pela loc
alidade, porém, sem deixar povoadores. Apenas um ou outro era atraído – foi o que aconteceu com os primeiros “moradores” da futura Curitiba: Carrasco do Reis e Mateus Leme, que foi nomeado em 1668 capitão-povoador da localidade. No final do século XVII, a povoação de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais contava com uma população de 90 “homens bons” – denominação que se dava aos homens adultos, casados e proprietários de bens e escravos.
Muitos deles haviam construído suas casas ao redor da capelinha existente no centro da atual Praça Tiradentes. O crescente aumento da população exigia o estabelecimento de regras que normatizassem a vida em sociedade. Para resolver a situação social, bastante caótica, alguns moradores solicitaram, por meio de requerimento, a realização de eleições e a criação da Justiça e da Câmara. A partir de então, em 29 de março de 1693, o capitão-povoador Mateus Leme promoveu a primeira eleição para a Câmara de Vereadores e a instalação da Vila, como exigiam as Ordenações Portuguesas. Estava fundada a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, depois Curitiba.
Entretanto, ainda era necessário que as vilas fossem “organizadas” por ouvidores ligados ao reino português. Assim, em 1721, chegou à vila o ouvidor Rafael Pires Pardinho, que organizou o crescimento urbano, determinando ruas retilíneas e contínuas, além de separar áreas urbanas e rurais. A vila evoluiu gradualmente até se tornar a capital do estado do Paraná.
Não se pode ignorar que, desde meados de 1550, os europeus decidiram pelo tráfico de moradores da África para servirem aos senhores brancos que habitavam o Brasil. Em Curitiba, a situação não foi diferente. Os africanos escravizados desempenharam um papel fundamental na economia e na sociedade local. Foram as pessoas negras escravizadas que construíram muitas obras usando tecnologia negra, como a técnica de construção de pilão de pedra e de pilão de taipa.
Já a partir do século XIX, a cidade passou a receber imigrantes, como poloneses, ucranianos, alemães, italianos, ingleses e franceses. Esses grupos deixaram marcas indeléveis na arquitetura, gastronomia, festas típicas e tradições culturais, enriquecendo a identidade curitibana e impulsionando o desenvolvimento urbano.
Curitiba, uma cidade plural, que carrega em cada rua, praça e edificação as marcas de sua história multicultural. Da influência indígena que batizou a cidade aos colonizadores portugueses, passando pelos africanos escravizados e pelos imigrantes europeus, todos contribuíram para moldar a capital paranaense. Essa rica diversidade é a essência de Curitiba: uma cidade que preserva o passado, celebra suas raízes e olha para o futuro com o compromisso de valorizar sua herança cultural e histórica.
*Matéria originalmente publicada na edição #298 da revista TOPVIEW.