ESTILO ARQUITETURA & DECORAçãO

Minifeira em casa

por Luise Takashina

Melhorar a qualidade de vida é um desejo recorrente dos moradores dos grandes centros urbanos – e Curitiba não foge à regra. Como viver melhor está diretamente ligado à ideia de comer bem, ter uma horta em casa é cada vez mais uma excelente opção para a saúde. “Você sabe que o alimento não tem veneno, sabe a procedência dele”, explica Claudia Canales, paisagista da Casa das Plantas. O cultivo caseiro ainda rende mais vantagens: mexer com a terra pode ser um hobby terapêutico e um bom jeito de decorar a casa com um toque de verde. “Também é uma forma de sempre ter temperos e hortaliças frescas”, emenda Marcelo Muller, paisagista da Esalgarden.

Cultivar uma horta em casa parece tarefa complicada, mas não é. Feito do jeito certo, o hábito pode se tornar extremamente prazeroso e recompensador. Para que você tenha sucesso nessa empreitada em prol de uma vida melhor, damos o passo a passo completo de como cultivar temperos e hortaliças em casa. Mãos à obra!

 

Foto: Luise Takashina
Foto: Luise Takashina

1. Defina o local
Em uma casa, o ideal é fazer a horta diretamente na terra. No caso de apartamentos, isso varia muito de acordo com o espaço disponível. Mas é possível fazer uma horta em pequenos vasos ou em vasos pendurados na parede (as chamadas hortas verticais), que podem ficar na sacada ou mesmo na cozinha. Tudo depende, na verdade, de onde bate o sol. Para crescer, uma planta precisa de pelo menos quatro horas diárias de raios solares. Além disso, o lugar onde ela vai ficar precisa ser iluminado pela luz natural no restante do tempo. “O local ideal é o da meia-sombra: metade do dia com o sol, outra metade apenas com a iluminação natural. Luz artificial não funciona”, explica Tiago Zoller, um dos proprietários da Casa das Plantas.

A circulação de ar também é importante, mas não pode ser excessiva. Se o único ponto da casa que bate sol é também o que tem correntes de ar, a planta precisa ser protegida de alguma forma. Caso a pessoa more em um local onde não bate tanto sol, uma dica é fazer a horta em um vaso que possa ser transportado de um lugar para outro, em busca de mais luminosidade. “A planta vai ter um tempo de vida útil menor, mas vale a pena”, afirma Muller.

 

2. Escolha as plantas (e os vasos)

 

 

Os alimentos que vão ser plantados são uma escolha pessoal. Quem gosta de cozinhar e usar muitos temperos deve investir nos seus preferidos. Entre as hortaliças, a alface crespa é a que se desenvolve mais facilmente e, entre os tubérculos, o rabanete. O ideal é plantar cada alimento em um vaso separado. “Vasos menores são mais fáceis de cuidar. A drenagem é melhor”, explica Muller. Quanto ao tamanho do vaso, a dica é não economizar e pensar que a planta cresce para baixo, para formar suas raízes, e para os lados. “É preciso fazer um exercício de projeção e isso é uma grande dificuldade para as pessoas”, explica Claudia. Leguminosas, por exemplo, precisam de cerca de 50 centímetros de profundidade para se desenvolver. “Vasos pequenos limitam o crescimento da planta”, explica Zoller, que afirma que isso não mata o vegetal, mas pode inibir o seu desenvolvimento. Segundo Claudia, é preciso tomar muito cuidado com hortas verticais – feitas com vasos cortados pela metade pendurados na parede e sem suporte de prato. “É muito pouca terra e a planta não se administra”, explica. Por isso, o ideal é sempre usar vasos inteiros e de outros materiais que não a cerâmica, que absorve muita água.

Caso o apartamento seja pequeno e a pessoa opte por fazer um vaso compartilhado, é preciso tomar cuidado com a combinação de plantas. A hortelã e o alecrim, por serem muito invasivos, devem sempre ficar separados. Tomilho e orégano – temperos que são rasteiros e se espalham facilmente – merecem vasos únicos também, assim como o manjericão, que encorpa. As demais plantas podem ser misturadas, desde que se deixe um espaço razoável entre elas (o critério é o mesmo usado na hora de escolher o tamanho do vaso). Se você não sabe diferenciar bem as plantas, vale a pena sinalizá-las com plaquinhas.

 

3.Comece a plantar

 

 

É hora de colocar a mão na massa (ou melhor, na terra!). O cultivo mais comum é feito com mudas, que devem ser compradas em lojas especializadas em jardinagem (as plantas de mercado, por ficarem muito expostas à luz artificial, costumam ser mais judiadas, o que prejudica o desenvolvimento). É possível fazer o cultivo com sementes também. Nesse caso, basta colocar a semente em uma bandeja com terra areada e fina e, depois de um tempo, transportá-la para outro vaso. E um cuidado: a sementeira não deve ser exposta diretamente ao sol.

Se você for fazer a horta diretamente no solo, por questão visual e de organização, é importante delimitar o espaço com pedaços de madeira, tijolos ou pedras. Isso evita que a terra desbarranque com a água da chuva e também facilita na hora de afofá-la para o plantio. Com as mãos ou ferramentas específicas, revolva cerca de 30 centímetros de profundidade na terra misturada com húmus de minhoca. Isso vai garantir que a água penetre na terra no momento da chuva ou da rega. Depois disso, é só plantar a muda. Importante: a horta não pode ser feita sobre material impermeável, como cimento.

Ao plantar uma horta em vaso, o processo é um pouco diferente. “A drenagem é o mais importante. Sem ela, a água não escoa”, alerta Zoller. Muller emenda: “90% do sucesso passa pela drenagem.” Por isso, o vaso usado deve ter sempre um furo. Caso queira ser bem detalhista, coloque um pedaço de manta de bidim no fundo. Mas não há problemas em começar diretamente com uma camada de brita, pedrinhas ou argila expandida, que vai evitar que a água se acumule na raiz da planta. Sobre essa camada, necessariamente acrescente um pedaço de manta de bidim.

Depois, coloque um pouco de terra (que pode ser substrato com nutrientes, específica para vaso), centralize a planta e preencha o espaço que sobrou com mais terra, fazendo uma leve pressão para que a muda não fique solta. “A terra deve cobrir até o que a gente chama de colo da planta, que é onde ela começa a ramificar”, explica Claudia. O ideal é usar três vezes a quantidade de terra equivalente ao tamanho da planta.

 

Foto: Luise Takashina
Foto: Luise Takashina

4. Cuide da sua horta
Em hortas pequenas, não é preciso podar porque o desbaste acaba sendo a própria colheita para uso. Além disso, uma vez por semana é importante limpar a terra de “matos”, que podem virar parasitas. Adubos podem ser usados depois de um ou dois meses da data de plantação. Antes disso, é arriscado. “O adubo tem uma composição muito forte. Às vezes, ele entra em contato com a raiz e acaba queimando a planta, fazendo com que ela deixe de se desenvolver”, explica Zoller.

O ideal é comprar um adubo orgânico pronto, em lojas especializadas. “Em vasos, deve-se fazer a adubação contínua, pois não há de onde a planta tirar nutrientes”, afirma Muller. A prática de se jogar restos de comida – como cascas de frutas ou de ovo – em hortas externas deve ser evitada. Ao se decompor, esses itens fermentam e podem acidificar o solo. Para aproveitá-los, o correto seria esperar que eles virem um composto parecido com terra mas, como esse processo provoca mau-cheiro e pode atrair ratos e baratas, não deve ser feito nas cidades.

Caso queira fazer uma composteira em casa, separe uma caixa com furos (o ar é importante para ajudar no processo de fermentação). Use apenas ingredientes crus de origem vegetal – nada de alimentos cozidos, nem carne. O ideal é misturar os resíduos orgânicos úmidos (restos de comida e folhas verdes) com resíduos secos de jardim (galhos e folhas secas) e um pouco de terra. A cada dois dias, misture o composto. Se ele estiver quente, é sinal de que está funcionando. O processo pode demorar cerca de dois meses e está finalizado quando a mistura ficar homogênea e com aspecto terroso.

Para livrar sua horta de insetos, fungos e pragas – que deixam a planta amarelada ou com furinhos nas folhas –, use inseticidas orgânicos. A ação deles é mais lenta, porém menos prejudicial para vegetais comestíveis.

Quanto às regas, não há uma receita, pois a necessidade de água varia muito entre as plantas e de acordo com o tamanho da horta. O melhor termômetro é colocar o dedo na terra. Se ele sair seco, a planta precisa de água. Se estiver úmido, a planta está hidratada. No caso de vasos com pratos embaixo, águe a planta até que a água escorra. Assim, você tem certeza de que toda a terra do vaso foi umedecida. E não esqueça de colocar areia no pratinho para evitar o acúmulo de água e consequentemente a proliferação do mosquito da dengue.

“É importante a pessoa observar a planta. Quando falta água, ela fica sequinha, quase que esfarelando. Quando há excesso de água, ela fica murcha, mais escura”, diz Zoller. Normalmente, para temperos, uma semana exige três ou quatro regas, número que pode aumentar no verão. Hortaliças costumam precisar de mais água. O melhor horário da rega é de manhã. Assim, a planta passa o dia bem nutrida e resseca menos com o sol. Sempre regue a planta com água fria e, se for viajar, use um dosador de gotas para garantir a saúde da sua horta.

 

CUIDADO COM O FRIO
Plantas que ficam expostas ao tempo merecem atenção especial no inverno, principalmente quando há previsão de geada. Se sua horta fica em um vaso, coloque-a em um local coberto. Se for uma horta no chão, faça uma cobertura com lona – mas o material não pode encostar nas plantas. Na manhã seguinte, retire a proteção e regue. A água em temperatura ambiente vai fazer com que eventuais pedaços de gelo derretam, garantindo que as plantas não sejam prejudicadas pelo frio.

2 comentários em “Minifeira em casa”

  1. Olá,

    parabéns pela matéria. Muito boa!

    Peço ajuda: eu plantei em vasos na varanda do meu apartamento: manjericão, tomate cereja, salsinha, camomila, girassol, etc.

    De manhã o sol batia diretamente, a tarde, apenas iluminação. As mudinhas já tinham entre 10 e 15 cm, mas o “sol virou”, e agora não bate mais sol em minha varanda. Para que as plantas sejam expostas ao sol eu tenho que carregar os vasos para o chão do meu quarto, janela da cozinha, etc. Mas não posso deixá-los lá.

    Se eu levar as plantas apenas umas 2 ou 3 vezes por semana para tomar sol, será que elas vão se desenvolver?

    Obrigada.

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