ESTILO

Uma lista de mercadinhos chiques para fazer compras em Paris

Com maior oferta de produtos orgânicos e ambientes mais intimistas, o conceito de fazer compras em Paris está sendo reinventado

Adeus carrinhos metálicos e corredores opressores banhados por uma luz fria. Olá, estilo! É verdade que ninguém entra em um mercado de Paris pronunciando essas frases, mas é inegável que esse pensamento agora ronda a cabeça dos parisienses na hora de fazer suas compras domésticas. De uns tempos para cá, os supermercados instalados na chamada região intramuros – delimitada por um anel de auto-estradas periféricas – passaram a enfrentar uma nova concorrência. Desleal, por assim dizer.

Os convencionais pontos comerciais sem graça nem décor agora precisam enfrentar o crescente número de lojas de conveniência e butiques de alimentos planejadas com todo o esmero, onde maçãs, ovos e cereais são expostos como se fossem bolsas de grife e a experiência de compras é levada a sério. Nada de caixas e funcionários carrancudos. À disposição dos clientes, vendedores simpáticos e bem treinados são capazes de explicar desde a procedência dos produtos à venda até dar dicas de consumo e preparo dos itens alimentícios. Os cestos de plásticos têm design. Ou, não raro, são lindas sacolas de palha. Tudo isso por um preço competitivo, quando não, mais baixo que no desengonçado vizinho.

Milagre? Não, contatos. Para abastecer esses novos mercados de bairro, cujo formato reduzido não permite a composição de grandes estoques, os proprietários negociam diretamente com produtores igualmente pequenos. Sem a figura do distribuidor e dos intermediários, o preço final fica muito próximo do custo de partida. E os produtos em si são de fato os garotos-propaganda ideais do novo século. Orgânicos ou naturais, livres de qualquer produto químico, produzidos em pequena escala e com toda a aura de exclusividade que isso agrega, são envasados em potes de vidro ou embalagens recicláveis etiquetadas por rótulos retrôs.

“Eu já fiz a comparação e sei que frutas e legumes orgânicos, chocolates e produtos para consumo imediato, como as conservas, têm melhor relação custo-benefício nas lojas de conveniência do meu bairro e até mesmo na Grande Épicerie do Bon Marché (a loja de alimentos parisiense par excellence) do que nos supermercados convencionais”, atesta a blogueira Sophie Delmas Guenot, autora do Gourmetise, no qual publica suas descobertas culinárias pela capital. “Além disso, elas me oferecem algo ainda melhor, que é a sensação de bem-estar de ir até lá, de ver tantas coisas bonitas em um lugar tão especial”, completa.

Já batizados como épiceries bios (algo como delicatessens orgânicas) ou supérettes bobos (conveniência de hipsters), por causa do público jovem e eco-amigável que atraem, esses mercadinhos simbolizam não só a preferência por produtos mais saudáveis, mas sobretudo o desejo de retomada do estilo de vida francês tão propagado mundo afora. É a volta daquele pequeno e charmoso comércio de bairro onde é possível abastecer os armários com os ótimos produtos do terroir e que aqui andava mantido em banho-maria por conta do fenômeno dos hipermercados.

Criado pelo grupo Carrefour, nos anos 60, esse conceito de lojas-monstro onde é possível comprar de alimentos a pneus de carros conduziu multidões de parisienses em direção à periferia, onde eles estão instalados, durante boa parte dos anos 70 e 80. O preço baixo dos grandes varejistas, até então imbatível, era o que atraia o francês médio, que deixava o vendedor da esquina como um estepe.

Foi necessário que o trânsito congestionasse de vez e, pura ironia, os norte-americanos começassem a endeusar a produção agrícola local em mercados como o Whole Foods, para que o transe acabasse e Pierres e Maries percebessem que era hora de resgatar suas origens. “Pelo menos duas gerações de parisienses cresceu achando que as compras só poderiam ser feitas em super e hipermercados. Que as lojas de bairro eram caras e serviam apenas para comprar o queijo, a terrine ou algum outro produto diferenciado”, comenta Eric Cormier, proprietário do empório Le Village.

MAPA GASTRONÔMICO

Confira alguns endereços de mercados que se enquadram no novo conceito de compras do francês e que merecem ser visitados em uma próxima ida à Paris:

Causses

Desde sua inauguração, há pouco mais de dois anos, esse mini-mercado vem sendo apontado como o melhor exemplo desta nova era de consumo sustentável e hedonista. Em pouco menos de 400 m2, ele reúne tudo o que um mercado convencional oferece, menos produtos de limpeza e higiene pessoal. O espaço é decorado com esmero e abarrotado com os melhores exemplares da produção natural francesa, italiana e até mesmo brasileira.

Os itens à venda são escolhidos pelo seu proprietário, o ex-agente financeiro Alexis Roux de Bézieux, em função da qualidade e não do preço ou da localização geográfica. “O que me importa é o sabor e o conteúdo do que ofereço aos meus clientes”, afirma. Prova disto é a enorme lista impressa e colada em uma das paredes, na qual se pode ler todos os produtos químicos, conservantes, espessantes e corantes que são banidos dali.

As verduras e frutas, orgânicas, mantêm seu aspecto apetitoso graças a um engenhoso sistema de irrigação montado sobre o balcão, que asperge uma fina bruma de vapor d’água sobre elas, de minuto em minuto. Num espaço anexo, a Fabrique é um misto de laboratório e restaurante, onde são preparados os sanduíches e saladas do balcão de produtos, prontos para consumo. Numa bela jogada de marketing, todos os pratos servidos para o almoço são feitos com os ingredientes vendidos na loja.

Causses: 55 rue Notre-Dame de Lorette, 75009. www.causses.org

Le Village

A afetividade é outro aspecto importante, como deixa explícito esta colorida loja de esquina. Nela, o que chama a atenção é a aura de saudosismo. Reprodução modernizada das antigas mercearias, ela também reúne sobre o seu balcão uma gama considerável de doces e guloseimas. Dentro do refrigerador, há pratos salgados, tortas e bebidas que podem ser consumidos no local. E em torno, ocupando as paredes, centenas de produtos de base para o preparo de refeições caprichadas em casa.

Ou seja, massas, arroz, grãos, cereais, temperos, óleos, azeites e tudo o que um livro de receitas pode demandar. Só que em pequenas quantidades. Em sua maioria, os produtos escolhidos pelo proprietário Eric Cormier são franceses como ele, feitos a partir de receitas tradicionais, sem os já mencionados aditivos químicos, que lhe remetem aos seus tempos de garoto. “Eu negocio com os meus fornecedores, sem intermediários, e conheço pessoalmente a pessoa que fabrica as geleias que vendo aqui”, orgulha-se. Atrás do balcão durante boa parte do dia, Eric também conhece pelo nome a maioria dos seus clientes.

Le village: 25, rue Bouchardon, 75010.

Épicerie Generale

A beleza é fundamental também. No caro sétimo distrito, onde os aluguéis astronômicos parecem atrair apenas comerciantes tradicionais e sem muito gosto pelo design contemporâneo, essa pequena boutique é um alento aos olhos. Imaculadamente branca, sua decoração brinca com a despretensiosa estética cheap & chic (barato e chique) e coloca, lado a lado, mármore e palets de frutas feitos com madeira de quinta categoria. Sua oferta gastronômica, no entanto, é só qualidade.

A variedade de produtos inclui frutas e verduras de época – com elementos desconhecidos do grande público consumidor, como o bulbo de couve-flor – mais todos os itens que um cozinheiro precisa para preparar um prato de comida, da base ao molho, a preços amigáveis. E tudo orgânico, selecionado a dedo pela proprietária Maud Zilnyk pelo território francês, que faz questão de manter um estoque reduzido para evitar perdas e desperdícios.

Épicerie generale: 43, rue de Verneuil, 75.007 | www.epiceriegenerale.fr

Workshop Issé

Quando se trata de agradar uma população estimulada por uma avalanche de programas de TV especializados em gastronomia, a originalidade conta pontos também. Esta delicatessen japonesa é uma das poucas em Paris a oferecer ingredientes autênticos em cuja formulação não entram nem conservantes nem corantes. Razão que explica a alta concentração de chefs entre os clientes. “Atendo muitos cozinheiros brasileiros também, que vêm aqui para descobrir novos sabores ou abastecer seu estoque de especiarias”, comenta o proprietário Toshiro Kuroda, em tom de fofoca.

Entre os produtos que valem a viagem, estão os temperos, os molhos e também massas de peixe, delicadas e saborosas, que podem ser usadas na composição de saladas ou sopas. Na hora do almoço, na cozinha instalada no meio do salão, são preparadas 50 refeições compostas por entrada, prato principal e acompanhamentos, e vendidas a 10 euros. Servidas as cinco dezenas de bentôs, o patrão encerra o serviço e a grande mesa passa a servir de apoio para degustações gratuitas que ele adora promover entre os seus clientes.

Workshop issé: 11, rue Saint Augustin, 75002 | www.workshop-isse.fr

Le Bio d’Adam et Eve

Agilidade e simplificação completam a lista de conceitos relacionados a esse novo perfil de comércio alimentar, qualidades inimagináveis em grandes superfícies. Em cerca de 200 m2, esta loja instalada na região de Les Halles,concentra sua gama de produtos em três nichos.

A padaria, no centro, oferece produtos de fabricação própria, feitos a partir de matéria-prima orgânica. A mercearia reúne itens de primeira necessidade de um francês, como ovos, creme de leite, manteiga, iogurtes, queijos e embutidos. O restaurante self-service, que funciona das 11h às 20h, raridade por aqui, inclui as refeições, claro, mas também sanduíches, saladas e pratos prontos para o consumo em casa ou no trabalho.

Le bio d’adam et eve: 41, rue Saint-Honoré, 75.001 | www.lebiodadameteve.com

EPICENTRO DO BOM GOSTO (LITERALMENTE)

A La Grande Épicerie é um dos endereços de compras emblemáticos da cidade. Luxuoso, é verdade, mas também recheado de boas pedidas e artigos cotidianos, ele agrupa mais de 25 mil produtos de referência do mundo inteiro. Ou seja, porções que representam o melhor da indústria gastronômica de luxo de países tão distantes quanto Índia e Canadá.

Longe dos olhos da clientela, formada por gente que mora na região e turistas, uma equipe composta por 20 padeiros, 25 confeiteiros e mais duas dezenas de cozinheiros e aprendizes prepara todos os pães, doces, guloseimas e refeições vendidas nas áreas de produtos frescos. Para se ter uma ideia, nem todas as panificadoras da cidade fabricam suas madeleines e macarrons. Serviço cuidadoso que faz deste tradicional mercado um dos melhores fornecedores que uma cozinha doméstica poderia ter.

La GrandE Épicerie: 38, rue de Sévres, 75.007 | www.lagrandeepicerie.com

ENQUANTO ISSO, EM CURITIBA…

Na cidade, os empórios e alguns mercadinhos de restaurante são o que existe de mais próximo ao conceito de delicatessens orgânicas. Confira abaixo alguns endereços:

 

Organic Lovers
Especializada em alimentos orgânicos, a Organic Lovers possui um empório com produtos variados, desde compotas até refeições completas congeladas (nas linhas Kids, Baby, Mom, One e Family). Ainda oferece cursos de gastronomia orgânica e dietas personalizadas para diferentes níveis de restrição alimentar.

Organic Lovers: Rua Deputado Antonio Baby, 139, Batel | (41) 3151-3303 | www.organiclovers.com.br

Armazém 71 Empório e Café: Rua Rocha Pombo, 197, Juvevê | (41) 3030-4971
Bouquet Garni: Al. Dr. Carlos de Carvalho, 271, Centro | (41) 3223-8490
Clorofila: Rua Saldanha Marinho, 1.110, Centro | (41) 3222-9597
Empório Rosmarino: Rua Fernando Simas, 334, Batel | (41) 3053-3010 | Rua Doutor Manoel Pedro, 673, Cabral | (41) 3224-3010.
Empório Santa Genoveva: Shopping Crystal: Rua Comendado Araújo, 731, loja 267 – 272, Batel | (41) 3024-2490
UNO: Rua Alferes Ângelo Sampaio, 1041, loja 1, Batel | (41) 3076-8713

*Matéria escrita por Fernanda Peruzzo, de Paris, originalmente publicada na edição 151 da revista TOVPIEW.

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