ESTILO

Masterchef Ivo: nosso turrão favorito

Depois de participar da edição profissional do MasterChef Brasil e assumir novos projetos em Curitiba, o chef contou um pouco sobre a nova fase

Não foi fácil marcar a entrevista com o chef Ivo Lopes. Desde que participou da primeira edição do MasterChef Profissionais Brasil, programa exibido pela TV Band em 2016, ele tem uma agenda acirrada com diversos compromissos, reuniões e viagens. “Quantas perguntas são?”, quer saber. Tem pressa. No mesmo dia ainda daria uma aula no Espaço Gourmet e prestigiaria o irmão, Ivan Lopes, chef do Mukeka Cozinha Brasileira, no comando da cozinha do Slaviero Full Jazz Bar naquela ocasião.

Ivo nos recebe com simplicidade e logo nos conta que outro dia, ao parar num posto de gasolina no Batel, ele – esse cara que  nasceu no pequeno município de João Alfredo, lá no agreste pernambucano, em uma família de 12 irmãos – teve que fugir das dezenas de pessoas que gritavam seu nome pedindo fotos e autógrafos. “Tem dia que é uma loucura”, admite.

Mas ele já se acostumou. Aos 40 anos, posa para as fotos com mais facilidade do que quando se deixou ser fotografado por nós em 2014, na edição especial de gastronomia, ao lado de outros chefs da cidade. Na época, ele liderava a cozinha do renomado La Varenne, do Pátio Batel, “o trabalho mais incrível que realizei até hoje”. Competência que o fez conquistar diversos prêmios, inclusive o título de chef do ano pela Revista Veja Comer & Beber 2014.

No restaurante franco-italiano ele criou pratos famosos, premiados e até hoje adorados pelos curitibanos, como o jarret de vitela com risoto de açafrão ao molho rústico e taioba, o tortelli de coelho ao molho do assado com creme de burrata, e a incrível entrada que traz um único ravióli recheado com bacalhau Gadus morhua e gema de ovo caipira – de fazer salivar só pela lembrança.

Não é de se espantar que, por onde passe, Ivo chame a atenção. Afinal, são mais de 25 anos de uma experiência adquirida de forma empírica, autodidata, com a cara e a coragem. Ousadia que também o levou ao programa de gastronomia mais popular do país. Com a exposição nacional, ganhou admiradores e também detratores. Mas não se arrepende. “Eu não entro nos lugares para ser mais um. Eu entro pra ser ‘O’ cara”, garante, seja na cozinha ou em um reality show.

“Tá vermelho, Ivo?”

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Quem assistiu ao MasterChef cansou de ouvir a frase acima. Repetida pelo chef e jurado Henrique Fogaça, se tornou um bordão a cada prova de pressão em que o pernambucano se mostrava nervoso. Entre os participantes, era o mais experiente. Logo na estreia, venceu a primeira prova com sua versão clássica e impecável de espaguete à carbonara.

Passou ileso por inúmeros desafios; encarou seu ponto fraco, a sobremesa; liderou várias vezes; foi elogiado, criticado… E quando estava quase com os pés na semifinal, foi eliminado na disputa com Dário Costa, seu principal colega dentro do programa.

Mas não se destacou apenas pela competência. Também se envolveu em algumas polêmicas por causa do temperamento impulsivo. Talvez o episódio mais famoso tenha sido quando, durante uma prova em que era líder, mandou a participante Dayse varrer o chão.

Na mesma hora, a frase já se espalhava pelas redes sociais e o termo “Ivo machista” era título de inúmeras publicações. Na época, a própria Dayse – vencedora do programa, inclusive – declarou que não encarou a “ordem” como um preconceito, mas como uma explosão, uma atitude tomada no ímpeto. Em meio à polêmica, Ivo chegou a pedir publicamente desculpas à colega.

O machista, na verdade, é uma pessoa muito simples. Talvez rude no jeito de ser e até meio bruto, mas nada preconceituoso. Fora da tevê, a polêmica toda parece um detalhe distante. Pai de Angélica, de 9 anos, fruto do seu relacionamento com Caroline Eiko Aracava, com quem vive há cerca de 10 anos, Ivo tem uma vida modesta, gosta de cozinhar para a filha, jantar com os amigos e andar de moto nas horas vagas.

E mesmo tendo sido taxado de arrogante e presunçoso, não nega que participar do programa foi um baita aprendizado. “Tive a oportunidade de crescer e conhecer muita coisa nova, foi incrível.” Inclusive, não descarta voltar, quem sabe até como jurado.

Um quase curitibano

A relação do pernambucano com Curitiba começou quando Rodrigo Martins, atual chef executivo do Mukeka Cozinha Brasileira, o convidou a abrir o Terra Madre Ristorante, há cerca de nove anos. “Não pensei duas vezes. Era solteiro, não tinha filhos, já tinha ouvido falar muito bem de Curitiba… Nunca tive problema em mudar de cidade”, conta quem já viveu em Belém, São Paulo e Rio de Janeiro. Para começar o negócio ele recrutou o irmão Ivan e o chef Paulino da Costa, que se tornou conhecido na cidade pelo trabalho junto na Trattoria do Victor.

Depois do Terra Madre, Ivo voltou à São Paulo com a missão de tocar o Due Cuochi Cucina. Com a expertise adquirida, montou um novo cardápio para as filiais dos restaurantes Alessandro & Frederico – incluindo (veja só!) a de Curitiba, no Pátio Batel. E atua até hoje como consultor nestas casas.

O trabalho no La Varenne veio depois e lhe rendeu muito prestígio. Melhor contemporâneo da cidade, a novidade gastronômica do ano, chef do ano, melhor entrada do ano… Ivo e suas criações foram um deleite para as publicações regionais e nacionais. Apesar de tantos laços com a cidade, não pensa em morar aqui. “Ainda quero estabelecer minha base em São Paulo”, admite aquele que se tornou fã da asinha de frango frita e do espaguete ao alho e óleo do Velho Madalosso.

Ivo com a filha, Angélica, fruto do seu relacionamento com Caroline Eiko Aracava, com quem vive há cerca de 10 anos.
Ivo com a filha, Angélica, fruto do seu relacionamento com Caroline Eiko Aracava, com quem vive há cerca de 10 anos.

Ele é um amante da gastronomia tradicional, clássica e bem feita. E defensor também. “Uma coisa que aprendi com o chef Laurent (Suaudeau, francês radicado no Brasil, discípulo do famoso Paul Bocuse) é nunca mudar o que eu faço. Ele dizia que a minha comida tem alma, tem personalidade, é comida de verdade”, conta. Nas criações de Ivo, tudo é o que parece ser. Nada de desconstrução molecular. “As pessoas não querem comida de mentira. Elas podem até provar uma invenção, mas dificilmente voltam para comer isso”, garante.

Para resgatar essa “comida de verdade”, está nos planos do chef abrir seu próprio restaurante – que deve ser uma mistura de La Varenne e Due Cuochi –, provavelmente em algum bairro da Zona Oeste de São Paulo. “Uma comida boa, criativa, com bons ingredientes, mas a um valor acessível”, adianta. Paralelo a isso, em Curitiba, assumiu os eventos do restaurante Mukeka – uma vez por mês ele trará um convidado para cozinhar ao lado de Ivan – e negocia um novo projeto com a casa de carnes Bull Prime. O MasterChef  “turrão” quer alcançar todos os públicos, deselitizar a gastronomia, fazer comida boa para todos os bolsos.

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