ESTILO

Influência digital: micro é mais

Com a credibilidade em cheque, grandes influenciadores perdem espaço no mercado de turismo – todos os olhos estão voltados para quem tem poucos, mas bons seguidores

Eis o cenário: passagens compradas, hotéis reservados, roteiro elaborado – recheado de hotspots da moda – e malas prontas. Você atravessa o oceano a 35 mil pés por nove horas, faz conexão com avião bimotor (aquele de barulho assustador), pega a estrada por mais alguns quilômetros e atravessa o ferry para, enfim, chegar a uma ilha paradisíaca indicada pelo influenciador digital de mais de um milhão de seguidores que conhece setenta países e virou uma espécie de guru, porta- voz do mercado. “Todo esforço é recompensado com dias inesquecíveis de dolce far niente”, havia garantido ele em uma das postagens durante a viagem.

O que você não esperava era se deparar com um mar de água escura e repleta de algas, completamente diferente ao da foto em tons vibrantes divulgada pelo “expert”. Não imaginava também o serviço despreparado e o acesso restrito às atrações mais legais.

Por essas e outras, ser digitalmente influenciado pode ser um tanto arriscado. Sim, explorar destinos pouco conhecidos em um mundo invadido pelo turismo de massa é altamente sedutor – e um perrengue ou outro faz parte da realidade de quem curte viajar. Contudo com tanta informação disponível, não é sensato confiar de olhos fechados em grupos de grande alcance que costumam ser pagos para transformar destinos duvidosos em grandes atrações ou para “hypar” hotéis e restaurantes que não entregam o que vendem.

A crescente de casos semelhantes ao narrado tira, aos poucos, o poder absoluto desses perfis grandes e comerciais e o realoca para usuários menores, mais
transparentes, genuínos e com alto poder de influência entre os seus. É o velho e bom boca a boca, agora em ambiente virtual.

Sem status de celebridade, mas com um certo número de seguidores, a autenticidade dos microinfluenciadores atrai engajamento e atenção. Eles costumam ser especializados em um determinado tema ou envolvidos em uma causa – quanto mais “nichados” a destinos específicos, melhor. O resultado são dicas locais e sempre frescas e experiências verdadeiras e sem grandes interesses.

Em todos os casos, porém, fazer a tarefa de casa – leia-se pesquisar, pesquisar e pesquisar – ou contar com agentes e concierges de confiança não corrompidos pelo mercado é divertido e evita maiores dores de cabeça.

*Coluna originalmente publicada na edição #245 da revista TOPVIEW.

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