Habitar a quarentena
Camila é uma jovem arqui-teta que, em 2012, fundou o Metropolitano Arquitetos, em Porto Alegre. Venceu seis concursos nacionais em curto período de tempo. Participou da Bienal de Veneza em 2018, trabalho depois exposto em Roma e Beirute. Tem participado como jurada em prêmios de arquitetura. Profissional de feitos superlativos e personalidade vulcânica, não passaria a quarentena de maneira contemplativa. Ao se dar conta da enorme transformação nos relacionamentos interpessoais, mediados pelo espaço que cada um habita, preferiu transformar esse período em escola e laboratório. Nada mais legítimo e interessante para um arquiteto. A intenção é que as contribuições sejam as mais diversas possíveis. Acesse o perfil @habitaraquarentena no Instagram e participe com seu relato e fotos!
Com a quarentena, as obras e os serviços considerados não essenciais foram paralisados e os clientes passaram a postergar tomadas de decisões. Assim, com menos horas de trabalho demandadas, mesmo me adaptando à nova rotina, a cabeça não sossegava. Com essa inquietação, perguntei-me como as pessoas estariam habitando nesse momento tão singular, coabitando de maneira tão intensa, adaptando suas atividades ao lar e, ainda, se esse período influenciaria na arquitetura daqui para frente.
Passei a achar que as pessoas começariam a perceber que morar bem é uma questão de qualidade de vida e que a adaptabilidade na moradia é um aspecto essencial. Buscando respostas, criei o Habitar a Quarentena para refletir sobre os efeitos do distanciamento social no morar contemporâneo. Por meio dele, pretendo captar a relação das pessoas com as suas moradias e como os atributos espaciais dos lares interferem no convívio e nas relações dos moradores. Por fim, refletir se as estratégias projetuais na arquitetura sofrerão alterações visando possíveis situações futuras de isolamento.
Em uma primeira fase, via Instagram (@habitaraquarentena), o projeto é colaborativo e coleta insights (por meio de relatos e fotos) de diferentes experiências durante o isolamento. Todo esse material coletado fomentará, futuramente, uma pesquisa acadêmica em arquitetura. Mais do que resolver inquietações pessoais, o Habitar a Quarentena propicia uma atividade de reflexão para quem envia seus relatos e, ainda, cria uma rede de compartilhamento de vidas e de casas reais, em que as pessoas se identificam (ou não) com as diversas histórias publicadas.
Por meio das mensagens dos participantes, vejo que há um senso de admiração coletivo pelo que é compartilhado. O projeto se tornou um meio de registrar como cada um de nós habita nesse momento tão singular, uma coletânea do nosso presente para o futuro. Torço para que cada vez mais pessoas de diferentes perfis, realidades e localidades participem do projeto para que essa coletânea seja a mais rica e representativa possível.
*Coluna originalmente escrita por Camila Thiesen, convidada de Marcos Bertoldi, e publicada na edição #236 da revista TOPVIEW.