Sem tempo a perder

O melhor do Brasil é a liberdade. Ninguém pergunta sobre a sua religião, sobre a sua roupa. Você pode fazer o que quiser”, diz o sírio Wessam Al Hrak, 32 anos, dono e cozinheiro do restaurante Al Beek, no centro de Curitiba. Conhecido na região pelo atraente custo-benefício do seu shawarma, ele seria apenas mais um dos vários comerciantes estrangeiros da cidade não fosse por um traço marcante de sua trajetória: Wessam foi um dos primeiros refugiados sírios após a guerra civil iniciada em 2011.

Como se o exílio forçado não bastasse, ele ainda tem de contornar a saudade dos pais, da mulher e das filhas, que hoje vivem na Jordânia. Wessam, no entanto, não se abala. Trabalha quase 18 horas por dia, vende 850 lanches por semana (fora salgados avulsos) e, em pouco mais de dois anos, conseguiu ampliar o espaço físico da loja. “Não quero ficar rico, só preciso trazer a minha família para cá. Por isso corro tanto. Não posso perder tempo”, afirma.

Wessam já trabalhava com alimentação quando veio para o Brasil. Seu plano era acompanhar um amigo, comerciante do setor moveleiro, e voltar com algum dinheiro para a cidade de Daraa. Mas problemas no transporte das mercadorias obrigaram a dupla a permanecer por mais tempo na América do Sul. Nesse meio tempo, o que era uma instabilidade política na Síria virou uma guerra. Ele ainda tentou reencontrar a família, porém foi impedido de entrar no país por questões de documentação.

Antes de abrir o Al Beek, Wessam vendeu shawarma em feiras e foi funcionário de lanchonetes em Curitiba e no litoral do estado – uma experiência fundamental para que ele conhecesse o paladar local. “Quando abri o restaurante, tive de oferecer coxinha. Levou um tempo para o público gostar dos meus salgados”, lembra o empresário, que hoje lidera uma equipe de quatro funcionários – e não precisa mais fazer coxinhas para vender.

SERVIÇO

Al Beek: Tv. Nestor de Castro, 180, lj. 4, Centro. (41) 99750-8755.