ESTILO GASTRONOMIA

Batemos um papo com Romero Brito, o “artista dos coquetéis” que chegou à final nacional do World Class!

Bem diferente do artista plástico, o bartender de 27 anos fala sobre Mandela, drinque que o classificou na etapa nacional do maior campeonato de coquetelaria do mundo

Sem ligação com o artista plástico famoso Brasil afora pelos desenhos multicoloridos, esse Romero Brito domina mesmo é a arte da coquetelaria. Há sete anos, o bartender alto-astral veio de Recife para Curitiba e logo mostrou talento na criação de bons drinques, se destacando na criação de cartas de coquetéis para bares de estabelecimentos renomados na cidade, como a Forneria Copacabana, o +55 Bar e o Bobardí.

As conquistas se intensificaram nos últimos meses, quando seu recente drinque “Mandela” o classificou  entre os oito finalistas da etapa nacional da World Class Competition 2018 – maior campeonato de coquetelaria do mundo, promovido pela DIAGEO (líder mundial de bebida alcoólica premium com marcas como Johnnie Walker, Tanqueray NºTen, Bulleit e Ketel One). A cerimônia de entrega aconteceu no dia 4 de julho e consagrou Adriana Pino vencedora. Representante do Paraná na competição, Romero Brito comanda hoje, aos 27 anos, o bar do Gin Time Drinks, uma casa de drinques que está bombando em Curitiba e vende cerca de seis mil coquetéis/mês. Quem diria que o menino vindo de Recife com os amigos, estudante de chef de cozinha no Centro Europeu e novato no +55 como auxiliar de cozinha chegaria tão longe…

TOPVIEW: Para você, o que é o drinque perfeito?
Romero Brito: Um coquetel perfeito é um coquetel que me faça bem. Não importa qual seja, mas ele tem que ter um bom equilíbrio, uma boa história e um bom destilado. Gosto muito do Bee’s Kness, que é um coquetel com base principal de gim, suco de limão siciliano e mel. É mega fresco, funciona no frio e no verão. Bem feito, é um coquetel perfeito.

TV: Como é representar o Paraná em uma competição de nível nacional?
RB: Representar o Sul e o Paraná em um campeonato de coquetelaria é uma baita de uma responsabilidade. Eu fui com toda a determinação, realmente para representar a cidade em que eu vivo e que me acolheu. Fiquei muito orgulhoso de poder levar a coquetelaria curitibana, que é muito forte, para esse campeonato.

TV: Qual drinque você levou para o World Class neste ano? Como foi a sua criação?
RB: Levei o Mandela, que acabou de ser destaque no Mixology News. O regulamento do World Class pedia para criar um drinque inspirado em alguém, e me inspirei no Nelson Mandela, que é um homem com uma história incrível e, neste mês, completaria 100 anos. A história dele é surpreendente, como muitos conhecem. Força, coragem, determinação, exemplo – isso me fez criar esse drinque.

TV: Você já participou de outras competições?
RB: Eu nunca quis competir, isso é algo meu. Neste ano, o tema me agradou muito e decidi competir. Antes, eu não tinha vontade, porque meu maior objetivo como bartender e profissional da área é levar e trazer novas experiências para os meus clientes. Eu pensava antes que não fazia muito sentido, mas eu estava totalmente errado. Faz toda a diferença.

TV: No ramo de bares, qual é a importância real de participar de competições?
RB: Hoje em dia eu percebo que é essencial. No país há muitos bartenders que são tímidos e precisam de algumas doses para se soltar. O campeonato faz com que você se solte, tenha visibilidade e conheça o que está acontecendo no seu ramo. Eu posso afirmar, o World Class é a porta que se abre para qualquer bartender do mundo ser reconhecido. Super recomendo para quem quer começar, usar a imaginação e deixar a timidez um pouco de lado. É o meu primeiro campeonato e, gostaria de deixar bem ressaltado, que só pelo fato de eu estar entre os oito finalistas, muitas portas foram abertas para mim em tão pouco tempo. A visibilidade é imensa, intensa.

TV: Você é tímido?
RB: Romero Brito não é tímido, nem atrás do balcão, nem em casa, nem com os amigos. Não faz parte do meu currículo. Eu tenho bom senso em tudo, se tenho que ser mais discreto ou mais alegre, serei.

 

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TV: Na composição do Mandela, você utilizou várias referências e ingredientes comuns da África do Sul. Um drinque também pode contar uma história?
RB: É primordial: não existe, jamais, um drinque sem história. Seja ela uma história boa, uma história ruim, seja ela uma inspiração em alguém. Mas todo drinque vem com uma história por trás, desde a base alcoólica, os ingredientes. Muitos bartenders criam drinques inspirados em pessoas da família, em pessoas que fizeram a diferença no mundo. Neste ano, eu decidi ressaltar esse homem que causou um grande impacto no mundo. [Mandela] foi martirizado, sofreu sem realmente ter culpa.

TV: Você utiliza o mesmo nome do artista Romero Britto (com uma leve diferença na grafia). Como é isso?
RB: Foi uma coincidência. Eu não tinha o sobrenome do meu pai biológico na minha certidão de nascimento e minha mãe me deu o nome de Romero em agradecimento ao médico que realizou meu parto, que foi de risco. Quando eu completei 24 anos, comecei a ir atrás do meu pai biológico, sem o consentimento da minha mãe. Por acaso, o sobrenome dele era Brito. As pessoas associam muito a arte da coquetelaria com a do artista plástico, mas não foi nada esquematizado. Foi por acaso mesmo!

(Foto: Ale Virgilio e Rafa Cusato)

TV: No tempo livre, quais bares você gosta de frequentar?
RB: Meu preferido em Curitiba é o Gards, no Pátio Batel. Em São Paulo, o SubAstor e o Frank Bar.

TV: Quais as características da coquetelaria curitibana? Por que ela tem se tornado mais forte?
RB: São diversas. O que faz a cidade ter um conceito em coquetelaria são os bares e os profissionais que fazem os drinques, que buscam mais conhecimento. Curitiba tem se tornado um point da coquetelaria do Brasil porque os bartenders estão buscando mais conhecimento que o próprio país tem a oferecer, não só referências de fora. Mais insumos brasileiros, conhecendo mais outras cidades, fazendo diferença na coquetelaria moderna.

TV: Você fala que cada bartender tem seu estilo, qual é o seu?
RB: São releituras, brincar com os clássicos. Deixar a essência presente, porém ao meu estilo e ao estilo do lugar que eu trabalho. Eu acho fantástico ter essa interação Romero Brito com os drinques.

TV: Em seu Instagram, você afirma que “loucura total é comigo mesmo”. Como é o estilo de vida Romero Brito?
RB: Essa é a melhor parte: adoro falar do meu estilo de vida! Acordo, tomo um banho bem quente e, antes de tomar meu desjejum, sempre faço uma gim tônica. Tomo, relaxo minha mente e começo a planejar meu dia. Me alimento particularmente bem, porém, nessa correria do dia a dia, me descuidei um pouco. Meu estilo de vida é acelerado, Romero Brito é muito acelerado. E, claro, não pode faltar Coca-Cola, nem requeijão na geladeira. Jamais.

TV: Depois do gim, qual é a aposta de bebida da vez?
RB: Sem sombra de dúvidas, o gim ainda vai ficar muitos anos na moda e sendo muito consumido. Mas a bebida da vez, que vai entrar bem pesado no próximo ano, é o rum. Coquetéis com rum de boa qualidade vêm com força. Neste ano, a maioria dos meus coquetéis foram baseados em rum e uísque. Eu garanto que o povo vai adorar provar. É um destilado que também faz parte da nossa cultura, já que utiliza o melaço da cana de açúcar.

TV: Uma bebida de que não gosta?
RB: É uma bebida sem álcool (brinca). É uma bebida que remete a falta de amor, que eu vejo que não foi produzida com algum propósito.

TV: E qual foi o melhor drinque que você já tomou?
RB: Foi um clássico, um dry martini feito por Spencer Amereno Jr., dono do Frank Bar (São Paulo). Realmente, um coquetel que me surpreendeu, por ser um clássico, mas feito de uma forma incrível. Foi o melhor drinque que tomei na vida.

TV: Com essa nova onda de sustentabilidade que pede para não utilizar canudos de plástico, como os bares daqui têm visto essa iniciativa?
RB: O World Class focou muito nisso, em reutilização 100% dos insumos, em não utilizar canudos nos drinques. Os que precisavam de canudos usavam os de papel ou de macarrão [sim, a nova alternativa é comestível]. Então, cheguei a Curitiba com uma nova visão: a gente já estava usando menos canudos, porém, hoje aderimos canudos de papel. Os sócios do Gin Time estão de olho nessas iniciativas de cuidado com o planeta. Vamos começar a usar espaguetes, que é uma opção ainda mais sustentável. Isso está sendo muito bacana: trabalhar com pessoas que têm essa visão.

TV: Qual é a sua dica para quem trabalha como bartender?
RB: Humildade acima de tudo. Sem humildade você não vai a lugar nenhum. Hospitalidade com seu cliente: ele está tirando um tempo da vida dele para tomar um drinque feito por você. Então, dê o seu melhor, todos os dias. É isso o que falta em muitos bartenders nos dias de hoje.

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