ESTILO GASTRONOMIA

Padaria América: De geração em geração

Fundada há 105 anos, a Padaria América se ampara na tradição para seguir evoluindo

A história começa em 1913, quando Eduardo Engelhardt abriu uma padaria e loja de secos e molhados na avenida Sete de Setembro. Um ano depois, o estabelecimento foi transferido para a rua Paula Gomes – então, rua América – para chegar, após uma década, ao endereço onde está até hoje, na Carlos Cavalcanti com a Trajano Reis. Nos quase 70 anos seguintes, mais duas gerações da família viveram a Padaria América, um negócio que se caracterizaria por seguir nas mãos da família: Evaldo, mais conhecido como Seu Bruda, e Alfonso e sua esposa, Isolde. Agora, é a vez do neto de Seu Bruda. “Como nossos avós, nós também nos criamos na padaria e passamos a infância brincando nos sacos de trigo e pulando nos sacos de farinha”, conta Eduardo Henrique Engelhardt. Ao lado da irmã, Andrea, ele administra os negócios, atualmente, como parte da quarta geração.

Foto: Nuno Papp

Tradição e modernidade

O início da década de 1990, período em que os irmãos Eduardo e Andrea passaram a assumir mais tarefas, marcou a fase das mudanças estruturais na Padaria América. A mais definitiva foi a troca dos fornos à lenha pelos elétricos e a gás. Foi uma época especialmente difícil para Seu Bruda, que não acreditava na eficiência dos novos fornos exigidos por lei. “Meu avô, assim como nós, sempre lutou por preservar a tradição”, explica Eduardo. “Nossos fregueses têm uma relação de afeto com os nossos produtos. As receitas podem ser ajustadas, jamais mudadas.” A prática está aí para comprovar suas reflexões. Em 2002, a broa de centeio, carro-chefe da padaria, foi tombada como patrimônio cultural imaterial de Curitiba.

E é assim, embasada na tradição, que a família vem abrindo caminho para o futuro. Pequenas mudanças já foram implementadas no salão, como a instalação das geladeiras de autoatendimento. Algumas novas receitas vêm sendo criadas, como o pão artesanal de grãos, lançado no ano passado. Mas a freguesia não tem com o que se preocupar. Continuaremos a consumir a broa de centeio, o chineque, o chifrinho, as bolachas caseiras e os pães de mel. Indagado sobre a nova realidade de público e mercado, Eduardo enxerga uma tendência contundente, que aponta para um caminho inverso com a volta de receitas originais, uso de matéria-prima de qualidade, de produtos naturais, do trabalho de três dias do fermento, do slow food e da slow bakery. Eis o pensamento de um mestre-padeiro experiente. O que percebemos durante uma tarde conversando com a família Engelhardt é que um ingrediente fundamental nessa receita de longevidade é estar atento às reações do freguês e ao que ele tem a dizer.

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*Matéria originalmente publicada por André Bezerra na edição 214 da revista TOPVIEW.

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