ESTILO GASTRONOMIA

Da horta para a mesa

A entrega em domicílio de produtos de feira virou tendência durante a pandemia e tende a perdurar por muito mais tempo

“É dia de feira, quarta-feira, sexta–feira, não importa a feira.” Quando o grupo O Rappa lançou essa música, em 1996, nem imaginou que o termo “feira” ficaria tão amplo a ponto de clientes comprarem seus produtos sentados em um sofá dentro de casa. Hoje no entanto, isso não é somente possível como virou uma tendência.

Não restrito somente ao mercado de hortifrútis, o delivery passou de tendência para uma necessidade e, em 2021, isso é mais evidente do que nunca. No ano passado, o Brasil foi responsável por quase metade do mercado de delivery na América Latina, chegando a 48,77%, de acordo com dados do site Statista.

“O novo comportamento de consumo é o delivery”, dispara o fundador do projeto curitibano Cesta Social, Alexandre Alberto Alves da Luz. Nascida durante a pandemia, a iniciativa vende cestas com hortifrútis adquiridos de agricultores familiares da Região Metropolitana de Curitiba, que foram afetados pelo baixo movimento em bares e restaurantes causado pela pandemia de Covid-19. Os organizadores do projeto realizam a entrega das cestas – com produtos já selecionados de acordo com os disponíveis – na casa das pessoas.

Com uma venda organizada por semana de kits com, em média, 15 produtos diferentes, sempre com reserva, o fundador garante: “Eu mesmo levo as cestas para os clientes. Assim, tenho certeza de que chega tudo certinho”, afirma.

Nesse formato, o fundador garante que o Cesta Social criou uma cadeia que ajuda o produtor familiar, o beneficiário da cesta doada e o consumidor, que recebe um produto de qualidade, com menor quantidade de defensivos agrícolas, apesar de não ser classificado como orgânico.

O projeto, com o objetivo de obter visibilidade do público, contou com apoiadores como a Gabriela Carvalho, do Quintana Gastronomia. “A pandemia reforçou a importância de que as nossas escolhas impactam e afetam todo o nosso meio. Então, essa oportunidade de receber seus produtos em casa é um caminho que, por si, só já é positivo. Projetos como o Cesta Social sempre existiram, mas foram reforçados na pandemia – e essa nova era de trabalho abriu oportunidade para beneficiar outros também. Não só conseguimos viabilizar o consumo e a compra do produtor, como, também fazer com que o apoio de outras famílias seja reforçado”, diz a chef.

A prefeitura de Curitiba, também visando apoiar os feirantes locais, lançou, em março de 2021, o site Feiras Livres, que permite a compra de frutas e verduras sem sair de casa. O site, segundo Luiz Gusi, secretário municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Curitiba, foi pensado como uma alternativa para aumentar a renda dos feirantes da capital paranaense. E, além disso, um passo inovador. “Para a maioria dos cadastrados na plataforma, tem sido, inclusive, o primeiro passo no comércio eletrônico”, comenta.

Outro projeto que pensa em toda a cadeia de alimentação é o Fruta Imperfeita, em São Paulo. Criado em 2015 já no formato de delivery – o que foi um marco na época – a iniciativa dá destino a frutas, verduras e legumes que não seguem o padrão atual de beleza. Ou seja, são muito grandes ou pequenos, de diferentes formatos ou cores, mas igualmente nutritivos.

“O Fruta Imperfeita nasceu muito com a ideia de como nós poderíamos valorizar esses produtos. Víamos muitos pequenos produtores que não conseguiam vender os hortifrútis por conta do padrão estético. A indústria até consegue comprar, mas de grandes produtores”, afirma o fundador do projeto, Roberto Fumio Matsuda.

Com o objetivo, também, de trazer conscientização e diminuição de desperdício, o projeto ajuda os pequenos produtores e cria uma cultura na sociedade que abraça a produção natural dos produtos, que começa a entender a sazonalidade e a condição dos hortifrútis.

Atualmente, o projeto existe somente na capital paulista e conta com 1.700 assinantes, que recebem, semanalmente ou quinzenalmente, uma cesta com os produtos disponíveis no momento. “Nós entregamos cerca de 10 mil toneladas de produtos por semana”, conta Matsuda. Com projetos de expansão, o fundador fala que está avaliando a melhor maneira de expandir o serviço em outras cidades.

Sem aditivos químicos 

A população está à procura de produtos mais naturais, como os sem adição de adubos químicos e agrotóxicos, por exemplo. Um reflexo disso é o crescimento do mercado de orgânicos no primeiro semestre de 2021. De acordo com a Organis – Associação de Promoção dos Orgânicos –, 69% dos que atuam nesse mercado declararam crescimento, enquanto 11% estabilização e 20% queda.

“A gente vê que o mercado ganha corpo ano a ano, com o aumento da produção e a entrada de novos players nesse movimento orgânico. A diversidade de itens é cada vez maior e a distribuição vem ganhando capilaridade”, alega Cobi Cruz, diretor da Organis.

A popularidade do orgânico está muito mais próxima do que se imagina. Segundo o Ministério da Agricultura, o Paraná é o líder nacional na produção de alimentos orgânicos, com quase 4 mil produtores certificados e em processo de certificação. São 3.502 produtores paranaenses, que representam 17,54% de participação no número de produtores de orgânicos de todo o Brasil.

Restaurantes que compram de pequenos produtores

ASU Restaurante

(Foto: Reprodução)

Alameda Augusto Stellfeld, 813 – Centro.

Restaurante Manu

(Foto: Reprodução)

Alameda Dom Pedro II, 317 – Batel.

Quintana Gastronomia

(Foto: Reprodução)

Av. do Batel, 1.440 – Batel.

Sobre o assunto

Livro: As revoluções da comida: O impacto de nossas escolhas à mesa 

(Foto: Reprodução)

por Rafael Tonon

Livro: Economia circular: conceitos e estratégias para fazer negócio de forma mais inteligente, sustentável e lucrativa 

(Foto: Reprodução)

Por Catherine Weetman

*Matérias originalmente publicada na edição #254 da revista TOPVIEW.

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