A versatilidade do champagne, por Leandro Pellegrinello
Paralelo quarenta e nove. Este é o ponto do mapa-múndi que marca a fronteira final para o cultivo da uva ao norte da França. De uma rocha de giz e calcário, com até 300 metros de espessura, coberta por uma fina camada de terra arável composta de marga, argila, areia e gesso brecha, brotam as videiras de onde são colhidos os frutos com os quais se produz o champagne, o vinho vitrine no mundo por excelência.
Com mais de 300 anos de história e a partir de um acordo comercial assinado em 1919, representantes dos vignerons e das maiores fabricantes de espumantes da região de Champagne se reúnem todos os anos para fixar o valor pelo qual o primeiro venderá as uvas ao segundo. Não o preço real de mercado, mas o valor máximo que será pago apenas para as melhores e preciosas uvas.
Os segredos do champagne são muitos, mas três deles são especiais: o clima continental rígido da Île de France; o subsolo calcário que absorve o calor do sol e distribui água para as raízes; e a qualidade dos vinhedos de onde vem o champagne. Pela legislação francesa, as únicas uvas autorizadas para produção na região de Champagne são a chardonnay, cultivada no sul de Epernay, que dará elegância e finesse à bebida; a pinot noir, na montanha de Reims, que dará poder e corpo ao espumante; e a pinot meunier ou pinot moleiro, que só cresce nessa região e é assim chamada porque as uvas apresentam uma leve camada de poeira esbranquiçada que as fazem parecer polvilhadas com farinha, que garante ao champagne o frescor. É uma mistura de castas – desculpe-me, cuvée – insuperável, que fez escola e que dispõe de inúmeras imitações.
Diz a lenda que o inventor do champagne foi Dom Pierre Pérignon, um monge-enólogo e diretor do vilarejo de Hautvillers por trinta e sete anos (1678-1715). Hoje, uma boa dica para acompanhar uma leitura é o Dom Pérignon 2003.
Feitas essas considerações históricas, vamos à prática. O champagne é o vinho para se fazer um brinde por excelência e sempre consegue gerar entusiasmo ou, pelo menos, bom humor. O perlage, ou simplesmente o estouro da rolha, estimula o cérebro e libera a serotonina, neurotransmissor responsável pela euforia. O efeito positivo é garantido!
E nunca houve um período na história mais “espumejante” do que o atual. Não é ao acaso que isso esteja ocorrendo justamente em um período difícil da economia mundial. O boom no consumo de vinhos espumantes e frisantes está associado aos preços cada vez mais acessíveis e ao fato de que, mesmo em meio às crises, existem sempre motivos para se festejar e brindar.
Além disso, os espumantes têm se mostrado ótimos companheiros de degustação, não só em ocasiões de festividades ou celebração, mas também servem para todas as refeições harmonizadas, onde convive com muitos pratos tradicionais, locais e internacionais. Por isso, viva o mundo dos espumantes!