ESTILO GASTRONOMIA

La Violetera: A reinvenção de um legado

Com uma história que remonta a 1928, a importadora de alimentos La Violetera passa por um momento de mudanças sob a gestão de Félix Boeing Jr.

Se os produtos que estavam disponíveis nas vendas, mercearias e casas de secos e molhados do passado se refletiram na cozinha e na formação do paladar dos curitibanos, a empresa La Violetera, que completou 90 anos em 2018, pode reivindicar alguma contribuição nessa história. As origens da importadora de alimentos curitibana remontam a 1928, quando o imigrante libanês Hassan Mohamed Raad começou a carregar seu caminhão com frutas frescas na Argentina para vender em sua banca na Praça Tiradentes. Neste quase um século, o negócio se especializou em trazer de fora coisas que o Brasil não dava conta de produzir — das azeitonas, que começaram a ser envasadas em uma fabriqueta em frente à loja do Mercado Municipal, nos anos 1980, às frutas secas para as ceias de fim de ano (ramo em que a empresa é líder de mercado, com market share de 15,3%). Associada principalmente aos azeites e às azeitonas, a companhia entrou em uma fase nova nos últimos cinco anos. Até então uma empresa familiar, a La Violetera adotou um perfil profissionalizado, com os donos assumindo cadeiras no conselho consultivo e as atividades operacionais sendo assumidas por executivos.

Foto: Nuno Papp

À frente dessas mudanças, está Félix Boeing Jr., desde 2013 o diretor geral da empresa. O curitibano, desde 2011 nos quadros da companhia, conduz um movimento de expansão da La Violetera em outras frentes — caso de sua nova linha de snacks, aposta na tendência da alimentação saudável, que deve puxar o crescimento no faturamento em 2018. É uma mudança em vários níveis, do modelo de gestão à cara da marca, literalmente (a ilustração que estampa as embalagens, inspirada na atriz e cantora espanhola Sara Montiel no filme La Violetera, de 1958, também foi levemente alterada). Foram R$ 10 milhões em investimentos na fábrica e no projeto de branding. “Vamos nos reinventando a cada ano”, diz Boeing, em uma modesta sala na sede da fábrica, na Cidade Industrial de Curitiba, no dia 13 de julho. “Por mais que tenha começado em 2013, é [uma reinvenção] recente para uma empresa que fatura cerca de R$ 300 milhões ao ano. Você não a move de uma maneira tão rápida”, explica.

Formado em Administração de Empresas e com um MBA em Gestão Estratégica, Boeing começou a carreira como promotor de vendas na Nestlé no fim dos anos 1980 e ficou lá por 14 anos, passando pela indústria de papel Santher anos depois. As transformações que promoveu na La Violetera envolveram medidas duras, como uma reestruturação que reduziu o número de funcionários de cerca de 500 para 281. Sob sua gestão, a companhia registra crescimentos ano a ano, “apesar da crise”. “Poder criar o seu modelo de negócio dentro de uma empresa é algo que me atrai bastante”, diz o diretor geral.
O perfil impassível de executivo, no entanto, precisa ser equilibrado com um certo jeito de dono em uma empresa com uma tradição tão forte, explica Boeing. “Um princípio que formatamos desde o começo, e que sempre tive comigo, é não perder esse DNA”, conta. “Esse amor dos donos acaba contagiando.”

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*Matéria originalmente  publicada na edição 214 da revista TOPVIEW

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