Exposição ‘Oficina Molina – Palatnik’ está em cartaz no Sesc Avenida Paulista
Dois artistas conectados pelo apreço ao lúdico e pelo prazer da invenção: assim são Abraham Palatnik (1928 – 2020) e Mestre Molina (1917 – 1998), nomes emblemáticos da história da arte brasileira que integram o Acervo Sesc de Arte. Um diálogo entre suas produções artísticas está sendo exibido ao público na mostra inédita Oficina Molina – Palatnik, em cartaz até o dia 27 de março no Sesc Avenida Paulista.
Com curadoria da equipe do Sesc São Paulo, neste encontro, o diálogo poético entre as obras de diferentes épocas da trajetória de Palatnik e Molina, artistas que compartilham um mesmo período histórico, evidencia que a ação de um objeto no espaço e no tempo, o movimento, é matéria plástica de inegável qualidade sensível.
“Representantes de vertentes artísticas tidas, de um lado, como popular e, de outro, como erudita, tanto Molina como Palatnik ocupam papel de destaque no Acervo Sesc de Arte. Se há patentes dessemelhanças entre seus processos de criação, percebe-se, todavia, que os dois artistas mobilizaram seus repertórios e universos culturais em prol de singulares sínteses moto-construtivas”, reflete Danilo Santos de Miranda, Diretor Regional do Sesc São Paulo. “O encontro entre as geringonças de Molina e os objetos cinéticos de Palatnik revela surpreendentes relações. Valendo-se de recursos e vocabulários específicos, suas criações evidenciam que a atividade espaço-temporal de construtos plásticos é hábil em gerar efeitos sensíveis próprios à experiência estética. A exposição Oficina Molina-Palatnik propõe um diálogo aberto entre esses legados, reiterando a vocação propositiva das políticas colecionista, expositiva e educativa da instituição”, completa.
O público pode visitar a exposição gratuitamente de terça a sexta, das 15h às 21h, e aos sábados, das 10h às 14h, mediante agendamento prévio pelo site. As visitas têm duração máxima de 45 minutos e o uso de máscara facial é obrigatório para todas as pessoas, durante todo o período.
Uma poética do movimento
Um dos pioneiros da arte cinética no Brasil, Abraham Palatnik – que faleceu em maio deste ano, de Covid-19 – marcou a arte moderna no país ao inserir o movimento mecânico e luz em uma obra apresentada na primeira Bienal de São Paulo. Engenheiro de formação, seu interesse pelas possibilidades criativas das máquinas evocava, por meio de sua produção artística, a relação entre arte e tecnologia.
Entre os destaques da exposição, figuram obras da icônica série Objetos Cinéticos que o artista passou a criar a partir de 1964. São trabalhos como Objeto Cinético KK-7 (1966/2007) – que integra o Acervo Sesc de Arte – , Objeto Cinético CK-8 (1966/2005) e Objeto Cinético P-28 (1971/2000), compostas por esferas coloridas que remetem planetas em órbita e se movimentam de maneira lenta, acionadas por motores e, em alguns casos, por eletroímãs.
Um inventor incansável, Manuel Josette Molina passou mais de vinte anos perambulando por regiões diversas do Brasil. Ficava pouco tempo nos locais, não tinha morada fixa e se locomovia a pé, de trem ou nos caminhões que recrutavam pessoas pelo caminho para trabalho na lavoura. Só começou a produzir suas obras aos 52 anos de idade, produzindo bancadas – geringonças, como ele mesmo chamava – que hoje são algumas das mais importantes obras da tradição brasileira de bonecos animados.
Tornou-se Mestre Molina após sua primeira exposição no Sesc Santos, em 1974, e foi quando se entendeu como artista. Suas invenções trazem o olhar quase pueril típico de um criador de brinquedos. São trabalhos produzidos com objetos rústicos como madeiras, latas, borrachas e cordas, até materiais sofisticados como silicone, gesso e tecidos especiais, que convidam pessoas de todas as idades a refletir de forma singela o cotidiano nacional.
Em Oficina Molina – Palatnik, o público poderá ver de perto um conjunto de sete obras de Molina. São trabalhos que integram o Acervo Sesc de Arte, como A Vida de Cristo, obra com 7,5m no qual o artista representa os momentos da vida de Cristo, Bar Novo (sem data), Marcenaria Natal (1969 – 1974) e Palácio dos Fantasmas (1969 – 1974), além de duas vitrines com peças desenvolvidas pelo artista.