ESTILO

Experiências históricas

Os estudantes que optaram por realizar um intercâmbio em 2020 tiveram de lidar com uma pandemia fora de casa

A ida do carro até o aeroporto é marcada por expectativa e ansiedade. A despedida antes de embarcar é dolorida, mas a vontade de alçar novos voos se junta com o anseio pelo novo e acalenta a tristeza. A viagem, muitas vezes, é longa, mas é compensada pela sensação de chegar a uma cidade que será como um lar – e por um tempo considerável. É ali que serão construídas novas memórias e amizades, as quais poderão ficar marcadas para sempre na história de vida do estudante. Esse é o retrato do início de um intercâmbio perfeito.

O que nenhum dos intercambistas que optou por dar vida a esse retrato em 2020 imaginou era uma pandemia. O novo coronavírus afetou, de diversas maneiras, as experiências dos estudantes que moram fora do Brasil: as aulas passaram a ser online e as festas e os encontros de amigos não existiram.

A estudante de Jornalismo Isabella Decolin está em Vic, na Espanha, realizando um intercâmbio universitário pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) na Universitat de Vic. O começo do intercâmbio dela foi relativamente parecido com o retrato detalhado no início desta reportagem: “primeiro, foi aquela adrenalina de planejar coisas, viagens e festas. No começo, foi ótimo. Fizemos bastante amigos. Nós sabíamos do corona, mas não sabíamos da gravidade, então nossos planos ainda estavam de pé. Em março, veio a quarentena. Não vivi coisas grandiosas no começo, mas o que eu vivi valeu a pena.”

Isabella afirma que a quarentena começou repentinamente: “nós estávamos em um bar de intercambistas e o dono disse ‘a partir de meia noite, só poderemos atender com a capacidade reduzida. Então, aproveitem’. No dia seguinte, o governo já falou em lockdown.”

Centro Histórico de Vic, na Espanha. (Foto: Shutterstock)

A estudante aponta que dois dos momentos mais tristes do processo foram observar os colegas europeus voltando para os países de origem deles e se despedir dos primeiros colegas de apartamento dela, que são brasileiros. “Ver a galera indo embora foi horrível. Meus primeiros colegas de quarto foram embora e foi bem triste. Nós passamos a quarentena inteira juntos e eles foram embora no começo de maio”. Sobre as aulas online, a aluna conta que, no início, foi difícil, pois não existia motivação para estudar.

Os números
De acordo com dados da Brazilian Educational & Language Travel Association (Belta), entidade especializada em agências de intercâmbio, o segmento teve uma queda de 75% a 80% por conta do coronavírus. Lídia Kovalski, coordenadora de mobilidade internacional da PUCPR, afirma que, dos 180 estudantes da instituição que estavam fora, 82% decidiram permanecer no local de intercâmbio. A especialista sugere que a possibilidade da realização de aulas online foi um fator que auxiliou a decisão dos estudantes que resolveram retornar ao Brasil.

O futuro
Fazendo parte da estatística dos estudantes que permaneceram fora do país, Isabella diz que o futuro do intercâmbio não está sendo planejado: “eu aprendi muito nestes meses. Eu estou meio à deriva. Decidi não fazer mais planos, porque todos eles iam por água abaixo. Eu vou lidar com o que vier e aproveitar as oportunidades que são palpáveis.” O final do intercâmbio dela e o de muitos outros estudantes que optaram por viajar em 2020 não será igual ao de intercambistas que passaram por essa experiência anteriormente. Ainda assim, o relato desses estudantes evidencia um aspecto: viver um intercâmbio durante uma pandemia pode não ser perfeito, mas é histórico. 

“Decidi não fazer mais planos, porque todos eles iam por água abaixo. Eu vou lidar com o que vier e aproveitar as oportunidades que são palpáveis.” — Isabella Decolin

*Matéria originalmente publicada na edição #239 da revista TOPVIEW. 

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