Em processo de aprendizagem
Estou há mais de uma hora com uma tela em branco na minha frente pensando em como escrever sobre as coisas que aprendi nesta pandemia. Mas, confesso, não consigo conjugar o verbo no passado. Ainda estou aprendendo. Aliás, cada dia tem sido uma escola – ou seria uma universidade? – para mim. Está sendo assim para você também?
Recebemos um balde de água fria que nos mostra que não temos controle sobre a maior parte das coisas que estão ao nosso redor e que passamos, em diferentes proporções e cantos do mundo, pela mesma situação. É um choque de realidade sobre uma vulnerabilidade que sempre existiu e na qual talvez nunca tivéssemos parado para pensar.
Um empurrão que tem me obrigado a aprender a viver, literalmente, cada dia como um novo dia. Depois de ver os planos de 2020 serem virados de cabeça para baixo, estou aprendendo que as pequenas escolhas e ações diárias são o que mais importam nesse momento – e nesta vida. Com isso, depois de algum tempo e algumas tentativas frustradas, estou aprendendo que não consigo abraçar o mundo. Mas eu estou entendendo, também, que consigo me colocar no lugar do outro e perceber que as minhas escolhas afetam diretamente a vida do próximo.
Nesse momento de excesso de lives no Instagram, fake news nos grupos de WhatsApp, noticiários com atualizações das centenas de mortes diárias no Brasil e, provavelmente, mais algum desaforo dos nossos governantes, vem mais um processo de aprendizagem: fazer escolhas sobre o que consumir de informação. Além disso – por mais clichê que isso possa parecer –, estou aprendendo a escolher ver a beleza de pequenos prazeres, como fazer uma refeição com afeto, sentir a brisa do vento na janela, ler um bom livro, uma ligação longa com as amigas, trabalhar com o que se ama.
Estou aprendendo, também, a perceber o privilégio de poder usufruir disso. Vez ou outra, meu desejo é ficar
o dia todo de pijama, com um pote de sorvete no sofá, assistindo a alguma coisa inútil na Netflix, mas eu não me perdoaria por passar por esse período sem maiores aprendizagens.
Como dizem na Bahia, “vá me desculpando” pela overdose de gerúndios, mas essa é a realidade: estou aprendendo a aprender com tudo isso que estamos passando. Com as descobertas e aprendizagens diárias, quando tudo isso passar, espero poder conjugar o verbo “aprender” no passado com consciência, saúde,
mas, mais ainda, com sabedoria.
*Coluna originalmente publicada na edição #237 da revista TOPVIEW.