ESTILO

Dicas de livros para ler em 2021

Novo ano, nova lista de livros. Selecionamos 11 obras essenciais para quem quer entender o momento atual do mundo

O AVESSO DA PELE

Jeferson Tenório
(Companhia das Letras)

(Foto: divulgação)

O terceiro romance do professor e escritor – considerado um dos destaques literários de 2020 por diversas publicações especializadas – trata do racismo e da violência policial de forma atual e contundente. Na história ficcional contada em segunda pessoa, Pedro vai em busca do passado da família após a morte de seu pai, o professor de escola pública Henrique. De forma sensível e densa, Tenório destaca um país que é marcado pelo racismo e por um sistema educacional problemático. Trata-se, assim, de uma intensa narrativa sobre as relações entre pais e filhos e a respeito da vida de um homem negro vivendo em um país racista, tendo de viver com suas dores e superações. A obra foi desenvolvida por Jeferson Tenório a partir de experiências que remetem à vida pessoal do autor, pai de um menino de 10 anos.

UMA TERRA PROMETIDA

Barack Obama
(Companhia das Letras)

(Foto: divulgação)

A aguardada obra de memórias do primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos vendeu quase 890 mil cópias nas primeiras 24 horas de lançamento. No livro, Barack Obama narra sua jornada: da juventude e formação política aos momentos marcantes de sua vida política. Conta, ainda, os detalhes de seus oito anos como presidente. Inclui reflexões sobre períodos delicados que precisou enfrentar no cargo mais importante do país, como a crise financeira global, a estratégia militar estadunidense no Afeganistão, a reforma de Wall Street e a Operação Lança de Netuno, que terminou com a morte de Osama Bin Laden. Cita, inclusive, um encontro com o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Obama ainda relata os efeitos da presidência em sua vida familiar e na relação com Michele, sua esposa.

PARA O MEU CORAÇÃO NUM DOMINGO

Wislawa Szymborska
(Companhia das Letras)

(Foto: divulgação)

Um dos nomes mais importantes da literatura polonesa, Szymborska também já foi laureada com o Prêmio Nobel de Literatura. A mais nova obra reúne 85 poemas, que tratam de temas cotidianos, como amor, morte, sonhos, mitologia e história, “sempre com o olhar curioso, generoso e bem-humorado de uma das poetas mais extraordinárias do século XX”, como ressalta a descrição do livro. É uma boa porta de entrada para a obra da poeta, que tem publicados no Brasil os livros Poemas (2011) e Um Amor Feliz (2016).

GAROTA, MULHER , OUTRAS

Bernardine Evaristo
(Companhia das Letras)

(Foto: divulgação)

Vencedora do Booker Prize em 2019, a obra chega ao Brasil já aclamada por personalidades como Barack Obama, Roxane Gay e Ali Smith. Com isso, Evaristo se tornou a primeira mulher negra a ganhar a premiação inglesa. O livro também foi listado como um dos melhores do ano por jornais como The Guardian, Time e The New York Times. O cenário da história é uma Londres pós-votação do Brexit, com clima hostil e a população na luta para sobreviver e para ser ouvida. Com esse pano de fundo, Evaristo traz reflexões atuais sobre o racismo, o machismo e a estrutura da sociedade, mais precisamente por meio da história de 12 personagens – em sua maioria, mulheres negras. O gênero é híbrido, uma combinação de poesia e prosa, o que a autora chama de “ficção de fusão”.

VIDA MENTIROSA DOS ADULTOS

Elena Ferrante
(Intrínseca)

(Foto: divulgação)

Após cinco anos, a consagrada escritora italiana, conhecida pela Tetralogia Napolitana, volta com um novo romance, indicado pela revista Time como um dos 100 melhores livros do ano. A autora narra o crescimento de Giovanna, entre os 12 e 16 anos, como residente de um bairro de classe média de Nápoles. Após um comentário do pai sobre sua falta de beleza em comparação com a tia, Vittoria, a curiosidade de Giovanna é despertada e a menina decide partir atrás da tia. As periferias de Nápoles ambientam a história, que retrata, por meio de Giovanna, as perdas e os ganhos da transição entre a juventude e a vida adulta. Ainda com a identidade em segredo, Ferrante já vendeu mais de 12 milhões de exemplares da Série Napolitana.

COLETÂNEA DA OBRA DE LOUISE GLÜCK

(Farrar, Straus and Giroux)

(Foto: divulgação)

Ainda inédita no Brasil, a vencedora do Nobel de Literatura deste ano, Louise Glück, deve ter seus livros lançados no país pela Companhia das Letras no primeiro semestre. A coletânea reunirá três de suas obras mais recentes, Faithful and Virtuous Night (2014), A Village Life (2009) e Averno (2007). Esta última, inclusive, é a indicação da poeta para quem quer começar a ler suas obras. O título referencia Avernus, na Itália, visto na mitologia clássica como um portal para a Terra dos Mortos. Retomar a mitologia greco-romana é uma das características de Glück, mas sem perder a simplicidade e a fluência da escrita – alguns dos chamarizes de seus livros. A autora chegou a receber, do ex-presidente Barack Obama, a Medalha Nacional de Artes e Humanidades, em 2015.

A VIDA NÃO É ÚTIL

Ailton Krenak
(Companhia das Letras)

(Foto: divulgação)

Um dos maiores pensadores brasileiros, o líder indígena Ailton Krenak reúne, em seu novo livro (Companhia das Letras), reflexões tidas no período da pandemia de Covid-19. Na obra, aponta, outra vez, as tendências (auto)destrutivas de nossa sociedade, como o consumismo, a devastação ambiental e uma visão equivocada e simplista do que é a humanidade. O autor apresenta observações sobre temas essenciais para entender os nossos tempos, como a propagação da pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e o aquecimento global. A Vida não é Útil integra textos adaptados de palestras, entrevistas e lives realizadas por Krenak entre novembro de 2017 e junho de 2020. Neste ano, Krenak recebeu o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano.

COMO SALVAR O FUTURO

André Carvalhal
(Editora Paralela)

(Foto: divulgação)

Em seu quarto livro, André Carvalhal apresenta uma verdade difícil: com as crises acentuadas pela pandemia, o amanhã é assustadoramente incerto, já que, para ele, “estamos nos deparando com uma possibilidade tangível de cancelamento do futuro”. O autor argumenta que, se a única coisa que temos é o presente, precisamos usá-lo para fazer as mudanças sistêmicas necessárias para garantir nossos próximos passos enquanto humanidade. Ao mesmo tempo, apresenta as atitudes que estão nos destruindo, como a exploração do meio ambiente e a opressão de indivíduos minorizados, a exemplo de mulheres, indígenas, pessoas negras e a população LGBTQIA+. As saídas perpassam o autoconhecimento e as mudanças no consumo e na educação.

THE VANISHING HALF: A NOVEL

Brit Bennett
(Riverhead Books)

(Foto: divulgação)

A obra, ainda sem título em português, foi considerada um dos livros mais aguardados do ano e se tornou best-seller do The New York Times. A trama narra a trajetória de duas irmãs gêmeas que têm suas vidas separadas após seguirem caminhos opostos. Moradoras de uma cidade no interior da Louisiana, na década de 1950, onde a população é inteira negra de pele clara, enfrentam um dilema: não são claras o sufi ciente para serem aceitas pelos brancos e, do outro lado, não são retintas o bastante para se integrarem aos negros de pele escura. Ainda na adolescência, as personagens fogem da cidade – e logo se separam. Tempos depois, uma delas volta à cidade para viver com a filha. A outra passa-se por branca para seu marido, que desconhece seu passado. Diante desse cenário, as irmãs voltam a se encontrar em uma trama que envolve o colorismo e a formação da identidade racial. O livro chegará ao Brasil pela Intrínseca, ainda sem data de lançamento.

MÃE PÁTRIA

Paula Ramón
(Companhia das Letras)

(Foto: divulgação)

Um retrato da situação da Venezuela a partir de um ângulo diferente: a história e vivência de uma família. No livro (Companhia das Letras), a jornalista Paula Ramón faz um relato de como a crise de um país afeta a intimidade de uma família. A mãe é uma professora aposentada que toma as decisões de gestão do núcleo familiar; o pai, um espanhol que emigrou para a América Latina após ser libertado de um campo de prisioneiros na Segunda Guerra Mundial; os irmãos, um apoiador do regime chavista que se desilude com a política após virar policial, outro um empreendedor em busca de uma nova vida. Nesse cenário, é possível entender como as estratégias dos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro influenciam a intimidade e os afetos da população para além da situação política e social. Ramón conta a história de seu país ao mesmo tempo em que explicita as sequelas da escassez nas relações interpessoais.

A MÁQUINA DO ÓDIO

Patrícia Campos Mello
(Companhia das Letras)

(Foto: divulgação)

Uma das maiores jornalistas da atualidade, a brasileira Patrícia Campos Mello trata, na obra (Companhia das Letras), sobre as fake news e a violência digital – e como isso ameaça a liberdade de imprensa, em especial no Brasil. Tudo começou quando, dias antes do segundo turno das eleições de 2018, a jornalista publicou uma reportagem – a primeira de uma série – sobre o fi nanciamento de mensagens disparadas em massa no WhatsApp e em redes de propagação de notícias falsas – a maior parte benefi ciando o então candidato Jair Bolsonaro. A partir daí, a repórter se tornou alvo do chamado “Gabinete do Ódio” e suas milícias digitais. No livro, Mello relata como as redes sociais são manipuladas por líderes populistas para difamar e intimidar “inimigos”, agora por meio de robôs no Twitter, Facebook, WhatsApp e Instagram, além de mostrar os bastidores de suas reportagens e dos ataques que sofreu.

*Vitrine originalmente publicada na edição #245 da revista TOPVIEW.

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