Délio Canabrava comanda três estabelecimentos gastronômicos – e lidera um trio de minichefs pela vida
Apesar de o sonho de trabalhar com gastronomia não vir desde criança, Délio Canabrava inspira esse desejo nos seus filhos desde pequenos. Os três meninos – César, Pedro e Chico, com 17, 15 e 12 anos, respectivamente – já aprenderam muito com o pai e, hoje, até ensinam o chef também. “Eles adoram, como todo adolescente e criança, a internet. Então, agora já acontece de eles me ensinarem novidades”, conta Délio. “Para mim, é fundamental. Eu sempre estou aprendendo com pessoas mais novas. Como dizem: o ser humano precisa estar aprendendo para não envelhecer.”
Dono da Cantina do Délio, da Bella Banoffi e do CanaBenta – todos na Itupava –, o chef se interessou pela cozinha quando foi fazer um mestrado em Londres. Para sobreviver, ele precisava de um trabalho em que não necessitasse falar inglês e começou a lavar louças. “Eu vi que não era sacrifício nenhum, não era dolorido para mim. Aí, eu pensei: ‘Pô, se eu faço isso sem sacrifício, levo jeito’”, lembra sobre a o início da relação com a cozinha. No caso de seus filhos, Délio acredita que o interesse surgiu, principalmente, pela vontade de estar perto do pai. “Desde pequenos eles me ajudam na cozinha e em eventos. Querem usar roupas de chefs, tirar fotos”, afirma. “Eu sempre dou muito estímulo. Mas cuido para que isso não seja uma obrigação.”
Fast food
Délio traz para a sua gastronomia referências familiares. Mesmo o negócio (ainda) não sendo de pai para filho, os meninos já têm um espaço especial nos restaurantes. “O bauru especial Banoffi foi o César quem criou e está no cardápio”, conta o pai. A receita surgiu no período em que o filho mais velho trabalhou como aprendiz e acrescentava à receita tradicional dois ingredientes: ovo frito e molho barbecue. Até que Délio gostou da ideia e incorporou ao cardápio. Como todo pai, o chef tenta passar seu conhecimento para os filhos. E qual a melhor maneira de ensinar sobre gastronomia do que provando? Por isso, o chef faz com que os meninos aprendam por meio do sabor, experimentando pratos, ingredientes e temperos: “Para mim, o básico é isso, eles entenderem a lógica dos temperos e sabores”, explica.
Hoje, a especialidade do trio é um ingrediente simples, mas que pode ser preparado de diversas maneiras: o ovo. “Pochê, mole, omelete, omelete recheado… eles são especialistas em ovos”, garante o pai. Porém, mesmo conhecendo a boa mesa, eles não resistem ao bom e velho fast food. “Madero, Jerônimo, Outback – se falar esses nomes, eles saem correndo, largam tudo. Até falam: ‘Ah, pai! Na Cantina [do Délio] de novo, não! Vamos para o Madero’”, ri. “Eu fico um pouco chateado, mas entendo. Eles são adolescentes, né?! Gostam de fast food.” A educação gastronômica, entretanto, vai muito além dos preparos e dos sabores. “Eu tento sempre passar para eles o respeito com funcionários, clientes, fornecedores. Respeito pelas pessoas.” Se esses empreendimentos consagrados em Curitiba vão passar de pai para filhos, ainda não sabemos. Mas, esse é, sem dúvida, um sonho de Délio. “Para mim, vai ser um prazer se um deles quiser continuar nos restaurantes. Eu vou dar muito apoio”, garante. “Mas ponho na mão de Deus.”