A Casa Mundo
Para ela, não há um item mais importante do que o outro, já que todos eles são carregados de muitas histórias. No entanto, quando Consuelo fala sobre os artigos de Rafael Bordallo Pinheiro, um artista português conhecido por suas caricaturas de 1870, seus olhos chegam a brilhar. “Ele fazia caricaturas debochadas do rei. Se você analisar a obra dele daquela época, vai ver que é super-atual. Tinha corrupção, tinha tudo!”, conta ela.
Por isso, durante 40 anos, Consuelo buscou canecas com caricaturas de uma coleção com 14 itens. Apesar de não ter encontrado todas, ela conseguiu juntar seis peças. “Elas não são as canecas de 1800 – [porque] itens originais ficam em museus –, mas são da Cerâmica Bordallo Pinheiro. Cada vez que eu achava uma, eu comprava. Vários amigos meus me ajudaram a achar também”, relata.
Além das canecas, Consuelo também ganhou uma escultura de Humberto e Fernando Campana – também conhecidos como Irmãos Campana –, dois dos principais nomes do design brasileiro e internacional.
A arquiteta ainda explica que costuma trazer suas peças no colo, uma por uma. E foi dessa forma que trouxe seu último objeto, um bode de cerâmica que passou anos procurando. “Esse bode é de uma ceramista chamada Rosa, bem famosa. Achei o bode supersimpático”, brinca.
Também com muita memória, a arquiteta Angela Chinasso e sua filha, a influencer e fashion stylist Laura Kubrusly, definem suas casas como “história”. Para a jovem, “casa precisa ter cara de casa, com um objeto de cada canto. Alguns herdados pelos avós, outros garimpados em viagens. Tenho pavor daquelas coisas “compradas”, sabe? Sem história alguma”.
Justamente por isso, ela e a mãe trazem objetos de diversas partes do mundo. “Acho incrível o quão diferente é cada cultura, cada língua, cada culinária, e isso se replica nos objetos, não só nos decorativos, mas, também, nos utilitários. O que para nós pode significar apenas um gorro, em algumas culturas, pode ser como uma aliança”, reflete Angela.
Quando Angela foi visitar Laura em Berlim, na Alemanha, ambas se apaixonaram por um jogo de copos, mesmo não tendo espaço nas malas para levá-los embora. “Custava muito barato e, por isso, levamos. Colocamos na mala mesmo, enrolados nos moletons e calças”, relembra Laura.
LEIA TAMBÉM: Projeto personalizado ou com personalidade?, por Eduardo Mourão
Uma situação parecida aconteceu quando a influencer viajou para a Rússia. Ela diz que se apaixonou pela história do país, dos palácios e da riqueza. No entanto, como estava viajando a trabalho, também não tinha espaço para levar objetos embora. “Eu bati o olho em um ovo de cristal vermelho, pior peça para desejar – pois é superfrágil e complicado de levar –, e pensei: ‘é esse’. Levei o objeto na mão por mais 20 dias até voltar para o Brasil”, diverte-se ela.
HISTÓRIAS E LOCAIS IMPROVÁVEIS
Assim como Consuelo, que costuma ficar na casa de amigos nos países que visita – e, por isso, acaba conhecendo lugares inusitados e pouco explorados por turistas –, Elvira Ramon, do lar, trouxe um objeto de decoração da Rússia de uma forma inusitada.
Elvira viajou para o país quando o local ainda era uma nação comunista. Por isso, não era possível comprar objetos em qualquer lugar, apenas em lojas especializadas para turistas. “O problema é que era tudo muito caro nessas lojas. Eu gostei de umas caixinhas russas, só que, na época, elas custavam mais de mil dólares”, relembra.
Pelo preço, Elvira decidiu que não iria levar o objeto da loja dos turistas. No entanto, quando saiu de lá e andou pelas ruas, viu a mesma caixinha por US$ 50. “Eu fiz um sinal para o vendedor indicando que iria comprar e ele me mandou andar e abrir a bolsa.
Quando fiz isso, pensei que ele iria me roubar. Mas eu dei o dinheiro e ele largou a caixinha dentro da minha bolsa”, conta. Ela conta que ficou com muito medo de ser revistada e não ter uma nota para comprovar a compra do objeto – como era exigido à época. “No fim, ninguém nos parou e consegui sair com as caixinhas. Foi um fato curioso, comprar no mercado ilegal”, brinca.
*Matéria originalmente publicada na edição #264 da revista TOPVIEW.