CULTURA MúSICA

It’s a new generation

Com a vocação de se renovar, a Música Popular Brasileira traz uma nova geração de artistas que orbita entre o pop e vários outros estilos

Há 100 anos, o Theatro Municipal de São Paulo recebia um dos maiores marcos da cultura contemporânea brasileira: a Semana de Arte Moderna, que foi a porta de entrada do pensamento cultural brasileiro para novas informações estéticas que circulavam ao redor do mundo. Esse evento impactou diversos setores da arte, como a música, por exemplo.

Embora não tenha trago uma mudança imediata, mas somente anos depois, a Semana de 1922 revelou o diálogo da música erudita, de matriz europeia, com a música popular, até chegar à Música Popular Brasileira. Em uma conversa com o rapper Robbin’ Hood, a cantora Tulipa Ruiz, da nova geração da MPB, disse que os artistas que participaram do evento “comunicavam diretamente, tinham força de navalha” e trouxeram referências de dentro e fora do país. No decorrer dos anos, outros movimentos artísticos aconteceram, como Bossa Nova, MPB, Tropicália e Jovem Guarda, trazendo outras identidades por meio da fusão de opiniões e estilos.

A produtora, preparadora vocal e cantora carioca Fátima Regina acredita que a música brasileira tem a vocação de se renovar. “A partir do momento que as pessoas do Sul se encontram com as do Nordeste, acontece uma troca que faz com que o som fique cada vez mais volumoso”. Para ela, quando a nossa música viaja, ela encanta. “A nossa MPB é boa, o samba é bom. A nossa diversidade é fantástica e não podemos deixar isso morrer – é a personalidade vocal que imprime ao artista”, explica. Além disso, o universo musical moderno vem com novas representações. “Eu vejo que a música brasileira vem apresentando novas sonoridades, novas pegadas melódicas e muitos artistas legais. Eu vejo com bons olhos – com uma ressalva de que acho que os cantores têm que olhar com mais atenção para os acontecimentos ao redor”, pontua o crítico, jornalista e doutor em Comunicação e Linguagens Paulo Camargo.

O trio Gilsons, dono de hits como Várias Queixas e Love Love, mostra a diversidade citada por Fátima nas músicas, que trazem referências da Bahia. Formado por José Gil, Francisco Gil e João Gil, respectivamente filho e netos de Gilberto Gil, o grupo foi criado de forma despretensiosa, com shows pequenos para a família, até que a mãe de um dos integrantes deu o nome de “Gilsons” – e ficou. “Tudo aconteceu de forma muito natural – e a questão familiar é inevitável. É muito legal carregar a vivência junto ao Seu Gilberto”, explica João Gil. Como referências, os integrantes citam, claro, Gilberto Gil, e, também, Caetano Veloso e o Olodum. Por meio de suas músicas, eles querem transmitir “muito disco, positividade e amor”, segundo José Gil.

Gilsons (Foto: Divulgação)

Para Paulo Camargo, nós vivemos um grande paradigma, pois os brasileiros escutam músicas nacionais, mas pouca Música Popular Brasileira. “Se pegarmos as 50 músicas mais ouvidas em plataformas de streaming, vemos, basicamente, funk e sertanejo universitário, que, hoje, são produzidos em escala industrial”. Por outro lado, ele explica que os artistas de MPB encontraram o seu público. “Para ouvir algo bacana, você tem que selecionar bem, porém, os artistas da nova MPB encontraram seu público. Figuras como Tiago Iorc, Anavitória e Duda Beat são
importantes, pois eles conseguem romper com essa barreira de mediocridade e atingir esse público que consome música em escala industrial.”

Em Curitiba (PR), uma banda destacou-se durante a pandemia com o hit Pontos de Exclamação, que tocou (e continua tocando) por todo o Brasil. Jovem Dionísio, composta por Bernardo Pasquali, Gabriel Mendes, Bernardo Hey, Rafael Duna Mendes e Gustavo Karam, traz referências do pop alternativo e bedroom pop e conta com um público bastante engajado. “A JD surgiu no fim da faculdade – e o nosso som é sobre a gente. Em suma, é uma Conversa entre nós e nosso público, entre nós e nós mesmos. Estamos conversando entre a gente e, quem se sentir à vontade, entra no chat”, brinca Bernardo Pasquali. Com planos de girar todo o Brasil, a banda promete não parar. “Queremos fazer muitos shows, conhecer o extremo norte… e um sonho é fazer um show no Couto Pereira lotado”, compartilha Bernardo Hey.

Jovem Dionisio (Foto: Breno Galtier)

Podemos esperar muitas coisas boas da nova geração da MPB, segundo Fátima Regina. “A pandemia destacou muita gente legal, muitos compositores maravilhosos, e eu espero que as pessoas se antenem, que as rádios se abram para essa nova geração de verdade. A nossa música é sensacional, do norte ao sul do país”, celebra.

3 músicas da nova geração da MPB para você ouvir

Calendário – Ana Vitória

(Foto: Divulgação)

Algum Ritmo – Gilsons e Jovem Dionísio

(Foto: Divulgação)

Devagar – Mariana Cavanellas

(Foto: Divulgação)

*Matéria originalmente publicada na edição #259 da revista TOPVIEW.

Deixe um comentário