ESTILO CULTURA

MODA: o que esperar do Oscar de melhor figurino? Confira detalhes

Com indicações de dramas de época e fantasia, a categoria homenageia grandes figurinistas – e o grande vencedor será revelado no dia 25 de abril

Os cinéfilos já estão fazendo suas apostas. Um mês antes da premiação do Oscar, que será realizada no dia 25 de abril, muitos estão fazendo maratona dos filmes indicados ou já têm seus palpites sobre quem serão os grandes vencedores. Aos amantes de moda e beleza, duas categorias saltam aos olhos: de melhor figurino e de melhor maquiagem e penteados. As indicações deste ano para a primeira seguem o costume da Academia, que tem como favoritas as produções de época. 

VEJA TAMBÉM: Maratona Oscar 2021: onde ver os filmes indicados

Os cinco longas permeiam entre uma Inglaterra do início do século 19 e da era do Jazz dos anos 1920 ao mundo da fantasia. O que fez surgiu uma questão a partir das indicações: a Academia deveria criar uma nova categoria para figurino de filmes contemporâneos? Isso porque, desde a criação da categoria tal qual é hoje, apenas três filmes contemporâneos levaram a estatueta. 

“Se olharmos os filmes [indicados], não tem um novo [que se passe no período atual], estão sempre ligados a um passado e um período específicos”, analisa a historiadora de moda Dani Nogueira. “Vamos precisar de representantes da vanguarda. Não é polarizar, é encontrar o caminho do meio. É preciso abrir espaço para o novo. Se a gente não tem o novo, não tem a capacidade de evoluir.”

Em entrevista ao Hollywood Reporter, Jeffrey Kurland, governador do ramo de figurinistas da Academia, pondera que os “trajes para filmes contemporâneos definitivamente contam uma história tão forte quanto uma de época, exceto que é mais difícil porque você não tem todo o rebuliço que vem com época.”

“O figurinista vai contribuir, por meio dessa comunicação não-verbal, a dar dados sobre o aspecto emocional do personagem” – Gabriela Garcez Duarte

Independentemente de ser de época ou contemporâneo, o figurinista é peça central na construção de um filme. “O figurinista vai contribuir, por meio dessa comunicação não-verbal, a dar dados sobre o aspecto emocional do personagem, qual é o estereótipo psicológico que existe ali – como o herói ou o vilão – e a demonstrar aspectos básicos, como idade, classe sócio-econômica, e a demonstrar a própria trajetória do personagem”, resume Gabriela Garcez Duarte, professora de moda, design e coolhunting e gestão de tendências na PUCPR.

Nem todas as informações estão nos diálogos. Por meio das peças, é possível aproximar o personagem do espectador e lhe fornecer mais informações para desvendá-lo. “A gente ainda lê as pessoas pelas roupas que elas usam. Por mais plural que esteja a moda, a gente tende a ver o impacto da roupa como uma das primeiras coisas que comunicam pra gente.”

“A questão do Oscar transcende o filme e a arte  – ele leva em conta o institucional americano” – Dani Nogueira

Para Nogueira, a forma como estamos consumindo informações visuais hoje pode ser determinante na escolha. “Estamos em um momento de muita informação e contraste visual. Nosso olhar está acostumado a uma confusão imagética, aquilo que é extremamente organizado e harmonioso tende a causar uma sensação de ‘duvido que seja tão perfeito assim’, então tendemos a buscar o atrito. Talvez o que tenha mais atrito e contraste seja o ganhador.”

Segundo a revista Variety, o longa Emma é o favorito a levar a estatueta. Para Nogueira, quem mais se conecta ao momento atual do mundo – e, em especial, dos Estados Unidos, casa da premiação – é o filme A Voz Suprema do Blues. “A questão do Oscar transcende o filme e a arte  – ele leva em conta o institucional americano. [A escolha] Vai muito da política daquele momento americano e da mensagem que eles querem passar. Ele passa um momento muito interessante dos americanos, que mostra um pouco como eles superaram uma crise, dos anos 1929. A Academia pode ver isso como um reposicionamento frente às questões sociais, com os negros e as mulheres. Além de ter o ator Chadwick Boseman, que faleceu no último ano. O filme tem muitas coisas dentro dele.”

Confira os indicados a melhor figurino:

Emma 

(Foto: reprodução I Adoro Cinema)

Dirigido pela estreante Autumn De Wilde, a nova adaptação da obra de Jane Austen encanta pelas cores e uma abordagem divertida. A figurinista do longa já é figurinha marcada no Oscar: a britânica Alexandra Byrne foi indicada cinco vezes – e conquistou a estatueta pelo filme Elizabeth – Era de Ouro, em 2018. Aclamada pela indústria por suas criações em dramas de época, Byrne alia conhecimento com adaptação, já que as maneiras de produzir peças e a própria silhueta mudou muito entre o período em que se passa a história e os dias atuais. “Você tem que respeitar o período, mas também, como figurinista, você precisa criar um mundo confiável para a história viver, então você tem que entender o período para ser capaz de levá-lo até onde você quer e apoiar a história você está contando”, disse sobre seu trabalho no filme, em entrevista ao portal Hero.

 

A Voz Suprema do Blues

(Foto: reprodução I Adoro Cinema)

Adaptado de uma peça de teatro, o filme retrata a era do Jazz dos anos 1920, nos Estados Unidos. O figurino é assinado pela figurinista Ann Roth. Com isso, a veterana se classifica como a pessoa mais velha indicada ao Oscar, aos 89 anos. A estadunidense, inclusive, já levou a estatueta por seu trabalho no filme The English Patient, em 1997, além de ter recebido outras cinco indicações por alguns dos mais de 100 filmes para os quais já conduziu o figurino. Por mais que a personagem principal, Ma Rainey (interpretada por Viola Davis) seja uma pessoa real, a versão do filme se inspira na cantora Aretha Franklin, pois suas medidas foram mais fáceis para Roth rastrear. A essência de seu trabalho, ela descreve, é ajudar o ator a encontrar o personagem.

 

Mank 

(Foto: reprodução I Adoro Cinema)

A era de ouro de Hollywood é cenário para o filme, todo em preto e branco, que mostra os bastidores da criação de Cidadão Kane. Estreante no Oscar, quem assina o figurino é Trish Summerville. Uma das vantagens em sua criação para Mank é que estava recriando looks baseados em pessoas reais – ou seja, tinha acesso a diversas fotografias e materiais para se inspirar. Isso ficou claro em seu trabalho com a personagem Marion Davies, interpretada por Amanda Seyfried. Não foi a primeira vez que trabalhou com o diretor David Fincher, que dirige o filme. “Muitas das coisas dele são atemporais. O que aprendi com ele é como realmente mostrar a vida nos personagens e manter as coisas muito autênticas e divertidas, ao mesmo tempo em que me mantenho muito fiel ao personagem”, contou, em entrevista à Variety.

Mulan 

(Foto: reprodução I Adoro Cinema)

A nova adaptação de Mulan, da Disney, teve o figurino assinado por Bina Daigeler. Por conta das cenas de luta, houve diversos desafios com relação às roupas. As armaduras, por exemplo, eram costuradas à mão usando cordões de couro. Por conta disso, foi necessário uma equipe de duas pessoas treinadas para amarrar nós de marinheiros, a fim de evitar que o material soltasse durante as cenas – mas nem sempre funcionava nas cenas de ação. Assim foi preciso criar seis versões diferentes, para cada tipo de cena. “Tem uma mulher oriental e um figurino de muita força, que traz de pano de fundo o tema das origens”, analisa Nogueira. “O fundo é mais cinzento e esverdeado e o figurino é como um ponto dentro desta tela, com esse contraste das peças vermelhas.”

 

Pinóquio 

(Foto: reprodução I Adoro Cinema)

Baseado em peças dos séculos 18 e 19 de seu próprio acervo, Massimo Cantini Parrini assina o figurino da nova adaptação do clássico Pinóquio. Com ares mais sombrios, o longa mostra a história do boneco que deseja ser um menino de verdade. O figurino chegou a ser exibido no no Museu Têxtil em Prato, na Itália. O italiano coleciona, desde a infância, fantasias, encantado em como as roupas podem contar a história das peças e da sociedade. Já trabalhou com o figurino de mais de 50 filmes. “De todos, se observarmos com atenção, é um dos filmes que mais nos ensinam coisas através da roupa. Mas um aprendizado mais slow, não em algo que vai ser consumido agora”, pontua Nogueira. 

Deixe um comentário