Cinco livros para adolescentes, por Julie Fank

A escritora e colunista de literatura da revista TOPVIEW Julie Fank indica cinco livros de autores brasileiros e estrangeiros que se relacionam com a adolescência — seja por seus protagonistas, temática ou estilo de escrita.

Extremamente alto & incrivelmente perto
Jonathan Safran Foer
Ed. Rocco
368 págs.

A narrativa gráfica dá suporte a três eixos que sustentam a história: o protagonista — um menino de 8 anos que perdeu o pai no 11 de setembro –, as cartas da avó e o caderno de anotações de um personagem mudo. O enredo acontece entre uma invenção absurda e a perseguição por um tal de Mr. Black, possível último desafio deixado pelo pai de Oskar Schell antes do atentado — a pista é um envelope azul com uma chave dentro. O horizonte é a letra B de uma lista telefônica inteira. São personagens de Nova York que não poderiam ser descritos por um narrador melhor.

Se um viajante numa noite de inverno
Italo Calvino
Companhia das Letras
280 págs.

Um livro nascido de muitos inícios e muitos finais possíveis. Escrito em segunda pessoa, o que poderia ser um tratado sobre a leitura denuncia um Italo Calvino fanfarrão que só quer testar se você terá paciência para terminar um livro que começa com um leitor insatisfeito com um livro com problema de impressão numa parte crucial da leitura. O final você só saberá se ele conseguirá saber, se topar começá-lo. Para insistentes.

Jóquei
Matilde Campilho
Editora 34
152 págs.

A poeta portuguesa só parece ensaiar uma voz no que é seu primeiro livro. A coisa aqui já vem coreografada e encontra eco em quem gosta de música. Ela testa nosso desassossego se propondo a atravessar um pulmão com um ritmo à base de pitadas de Frank O’hara, uma paleta carioca-lisboeta e MPB das mais brasileiras. Os poemas respiram diferente em Matilde e têm borogodó. Dica extra: ela apresenta um podcast sobre música e artes pela RTP chamado Pingue-pongue e mantém um canal com vídeo-poemas no YouTube.

Um teto todo seu
Virginia Woolf
Tordesilhas
240 págs.

É com essa idade que a ideia de sair de casa e ter um espaço todo nosso já começa a passar pela nossa cabeça. Virginia, por meio de um personagem ficcional, elenca momentos da história e da literatura contados pela perspectiva de mulheres e narrados por autoras. O silenciamento evidente a leva à defesa da importância de uma mulher ter um cômodo pra si ou um espaço físico de individualidade e independência que permita criação. Um bom texto para começar por esse emaranhado que é Virginia Woolf.

Leia um trecho de Um teto todo seu.

Nu, de botas
Antonio Prata
Companhia das Letras
144 págs.

Antonio Prata passeia por elementos pop e histórias da infância por meio de uma narração ingênua e bem-humorada. Bem ao contrário do que se pensa, o livro não é de memórias, como numa autobiografia nostálgica: o autor veste a idade de cada descoberta e conta as histórias com uma leveza magnética: difícil não ler de uma vez.

Leia um trecho de Nu, de botas.