Galeria Simões de Assis abre 2025 com exposição de Larissa de Souza em São Paulo
A Galeria de arte Simões de Assis dá início à sua programação de 2025 com a exposição individual da artista Larissa de Souza. Em cartaz de 28 de janeiro a 1° de março, a mostra “Fé Feitiço” será exibida em São Paulo, com 15 obras inéditas da artista, e texto assinado pelas curadoras Mariane Beline e Paula Nascimento.
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Os trabalhos foram produzidos a partir de sua pesquisa sobre simpatias brasileiras e angolanas. Mariane comenta que durante a residência artística e vivências em Angola, Larissa percebeu uma conexão entre hábitos e costumes locais que se assemelhavam a tradições brasileiras.
A produção artística explora saberes ancestrais e culturais frequentemente silenciados pela colonização, mas que permanecem vivos no inconsciente coletivo. Ao revisitar crenças populares, a artista busca reconectar-se com identidades culturais do passado, atribuindo novos significados a essas memórias.
Larissa é uma artista autodidata que se dedica à pintura majoritariamente figurativa, concentrando-se na representação da mulher afro diaspórica em seus universos particulares e coletivos. Suas obras carregam as histórias das mulheres de sua linhagem e a força de muitas outras.
Paralelamente, investiga memórias coletivas que moldam a cultura popular brasileira, criando narrativas visuais que mesclam intimidade e coletividade. Sobre a prática, Paula e Mariane destacam:
“A magia popular, que chamamos de simpatias no Brasil, e tudo o que envolve esse preceito, é fascinante. O conceito místico dos símbolos, a intenção que depositamos, os saberes das ervas, as histórias de uma crença que permeia o imaginário de um povo e que se transmite por meio da oralidade são aspectos que nos intrigam.”
Dentro da produção, a artista navega no inconsciente, com pinturas surrealistas fazem pensar que é no inconsciente que a fé reside.
As cenas retratadas por Larissa são íntimas, muitas vezes situadas em ambientes caseiros com elementos de vazio e convites implícitos para o espectador adentrar esses espaços através de janelas ou portas abertas.
Em suas pinturas, a artista subverte estereótipos históricos ao retratar pessoas negras em contextos de afeto e harmonia, criando uma sensação de familiaridade e acolhimento. Seu trabalho apresenta uma profunda reflexão sobre políticas de afetividade.
A fé sempre foi uma maneira de Larissa de Souza enfrentar as dificuldades que a vida nos apresenta.
“Acredito que nós, seres humanos, assim como fazemos parte da natureza – e somos a natureza -, também possuímos poderes transformadores por meio da fé. E a fé de que falo não se refere estritamente ao sentido religioso. Há um mistério no fato de não sabermos a raiz de onde tudo começou. Acho interessante como esse conceito se distribui no imaginário coletivo, independentemente da religião e isso me faz refletir como esses saberes se perdem à medida que a modernidade avança”, comenta Larissa de Souza.
Na exposição “Fé Feitiço”, Larissa busca retratar alguns dos saberes que aprendeu durante sua infância, mas ao mesmo tempo, traz à tona sua experiência de vida na Angola. Ela explica que o Brasil tem uma forte ligação com a cultura e crenças populares do país em questão.
A paleta de cores em “Fé Feitiço” explora tons azulados com nuances violáceas, com adição de bordados, ladrilhos e pedras. As pinturas transitam entre o lilás sutil e o púrpura denso, tons que aprofundam uma sensação de elevação espiritual.