Filmes-concerto: shows em cinema conquistam o público
Nos últimos anos, uma nova forma de vivenciar a música ao vivo vem ganhando espaço no circuito cultural: assistir a shows no cinema. A proposta, que combina som de alta definição, imagens em grande escala e a emoção coletiva da sala escura, caiu no gosto do público e passou a ocupar lugar fixo nas programações das principais redes exibidoras do país. Em 2025, essa tendência se consolidou com força, trazendo uma alternativa atrativa para quem busca uma experiência diferente e, muitas vezes, mais acessível do que a dos grandes espetáculos presenciais.
A prática não é totalmente nova. Em 2009, o lendário show This Is It, de Michael Jackson, já indicava o potencial dos filmes-concerto. Mas foi a partir de 2023 que o formato ganhou novo fôlego, impulsionado por fenômenos como Taylor Swift: The Eras Tour e Renaissance: A Film by Beyoncé, que lotaram salas ao redor do mundo. Desde então, artistas e distribuidoras passaram a investir em exibições de shows e turnês com data e hora marcada, reforçando o caráter de evento e transformando o cinema em palco para superproduções musicais.

Esse movimento tem sido chamado de event cinema, um modelo de distribuição pensado para conteúdos especiais, com exibições limitadas e experiências diferenciadas. A lógica é simples: se nem todos os fãs conseguem assistir a seus ídolos ao vivo, o cinema oferece uma forma de aproximação que mantém a emoção, amplia o alcance e garante conforto. Além disso, com menos lançamentos inéditos nas telonas, as salas de exibição viram nesses eventos uma maneira de diversificar a programação e atrair novos públicos.
A experiência é, de fato, imersiva. Com sistemas de som avançados, projeções em 4K ou IMAX, poltronas confortáveis e zero distração digital, o ambiente favorece a concentração e potencializa o impacto do espetáculo. Não à toa, muitas sessões se tornaram momentos de celebração entre fãs, sendo comum ver plateias cantando junto, usando figurinos temáticos e interagindo entre si antes e depois da exibição. É um show, só que de outro tipo.
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Outro atrativo é o preço. Em geral, os ingressos para shows no cinema custam uma fração do valor de um ingresso para apresentações presenciais, o que torna o acesso mais democrático. Para muitos, também é uma oportunidade única de assistir a shows que aconteceram em outras cidades ou países, algo especialmente relevante no Brasil, onde as grandes turnês internacionais ainda se concentram em capitais.
Em 2025, os exemplos não faltam. No primeiro semestre, fãs de Jão lotaram salas para assistir Superturnê – A Primeira e a Última Noite, registro audiovisual da turnê do cantor no Allianz Parque. Em março, foi a vez do Imagine Dragons ganhar as telonas com Live from the Hollywood Bowl, uma superprodução que uniu os sucessos da banda à performance da LA Film Orchestra. Já em maio, Björk: Cornucopia chegou aos cinemas de mais de 25 países, incluindo o Brasil, com uma proposta visual ousada e trilha sonora impactante. Roger Waters também levou seu show às telonas com “Roger Waters This Is Not A Drill: Live From Prague – The Movie”, com canções autorais e clássicos do Pink Floyd com uma construção performática.
As produções voltadas ao público de k-pop também se destacaram. BTS ARMY: Forever We Are Young, documentário sobre a base de fãs do grupo sul-coreano, estreou no final de julho com sessões em várias cidades brasileiras. E a expectativa para os próximos meses inclui o aguardado filme da reunião do Oasis, previsto para estrear ainda este ano, com direção do criador da série Peaky Blinders.

Os shows em cinema apontam para uma transformação no modo como cultura e entretenimento são cosnumidos. O ato coletivo de se reunir para assistir a um espetáculo, mesmo que gravado, recupera algo essencial: a experiência compartilhada da música, agora ampliada pelo poder da imagem cinematográfica.
*Estagiária sob supervisão da jornalista Brenda Iung.