ESTILO CULTURA

Você precisa conhecer Butcher Billy, o ilustrador curitibano que está em Black Mirror :O

Conversamos com o diretor de criação que já ganhou o mundo com suas obras que desconstroem a cultura pop

Butcher é a palavra inglesa para açougueiro. E vem da gastronomia a melhor definição para o que o diretor de criação Bily Mariano decidiu fazer com a arte: cortar pedaços de cultura pop e misturar, de uma maneira única e diferente do que os outros artistas faziam. Daí vem o nome pelo qual ficou mundialmente conhecido: Butcher Billy.

Este curitibano de 39 anos trabalhou por muitos anos como diretor de arte e de criação no mercado corporativo. Depois de uma experiência que durou cinco anos em Londres, na Inglaterra, decidiu dedicar seu tempo livre a fazer criações artísticas para colocar na internet. A intenção era ter um terreno livre para desenvolver ideias mais alternativas, que com certeza não teriam espaço no dia a dia de escritório. Cinema, quadrinhos, música, games, séries de TV, celebridades, literatura, política, religião – tudo poderia entrar nesse liquidificador de ideias, em que ficção e realidade se misturavam e o passado se chocava com o presente para criar algo novo.

E assim, em 2012, as coisas começaram a mudar. As imagens que ele vinha produzindo começaram a circular pela internet. David Bowie, Batman, Super Mario, Quentin Tarantino, Stephen King, Laranja Mecânica, Amy Winehouse, Pac-Man… E assim passaram a vir convites para participar de exposições de arte pelo mundo. Já consolidado, em 2016 ele teve a ideia de retratar os episódios da série Black Mirror, da Netflix, como histórias em quadrinhos da década de 70.

Por meio do Twitter, o criador e roteirista da série na Inglaterra, Charlie Brooker, viu o que ele tinha feito, gostou e entrou em contato. Butcher foi convidado para participar da 4ª temporada da série, onde teve algumas das suas ilustrações incluídas nos episódios. Além disso, Brooker o convidou para ter sua arte impressa em capas de discos de vinil com as trilhas sonoras dos episódios. Produtos esses que a Netflix lançou em 2017, além de convocar o artista a imprimir seu estilo pessoal na criação de materiais também para a série Stranger Things, como camisetas, embalagens, etc.

Butcher se consolidou como artista tanto na América do Norte quanto na Europa. Hoje ele busca mais visibilidade no Brasil, já que seus trabalhos ainda são pouco conhecidos aqui. Para esse ano, têm alguns projetos bem distintos: a capa de um livro para a legendária editora britânica Penguin Books; o projeto gráfico do disco de vinil comemorativo dos 40 anos do filme Despertar dos Mortos, de 1978; capas para os quadrinhos da clássica personagem Barbarella, uma exposição de arte solo em uma galeria de Chicago, e o lançamento de seu segundo livro na França, só de ilustrações, que traz um apanhado de todo o trabalho que ele desenvolveu ao longo dos anos. Descubra mais sobre esse curitibano no bate-papo exclusivo que tivemos com ele, por e-mail.

Como é ver o seu trabalho ganhar projeção internacional? A que atribui isso?
Eu comecei a produzir e lançar arte na internet, sob a alcunha de Butcher Billy, há cerca de 5 anos atrás. Logo no início, percebi que o meu estilo atraía muito mais atenção fora do país, então eu apenas não lutei contra isso. Só fui direcionando meus esforços para onde o trabalho era mais apreciado. Então, foi uma questão de tempo até surgirem convites para exposições – em cidades como Londres, Chicago, Lisboa, Paris, Dubai – e projetos para marcas como Netflix, Stranger Things, Black Mirror, NBA, Barbarella, ESPN, etc. Eu atribuo isso a uma certa obsessão por fazer um bom trabalho, somado a uma estratégia de posicionamento pessoal.

Que artista ainda o inspira? Por quê?
Tenho uma infinidade de criadores que me inspiram, mas ultimamente ando mergulhado na vida e trabalho de Keith Haring, um street artist americano que misturava pop art e graffiti na cena cultural alternativa de Nova York nos anos 80.

De que forma Curitiba está presente em sua obra?
Meu trabalho é marcado pela mistura e cruzamento de referências muito distintas dentro da cultura pop. A ficção com a realidade, o antigo e o novo, levando a criações com um caráter único. Eu vejo Curitiba de uma forma parecida: a convivência do verde com o cinza, a natureza com o concreto, a arquitetura futurista com a neoclássica e barroca, a influência das distintas culturas de imigrantes europeus e asiáticos. Tudo isso é o que torna a cidade única, e deve ser valorizado e celebrado.

Onde gostaria de ver seu trabalho exposto? (pode ser seriado, diretor de cinema, museu…)
Ando sendo convidado bastante para me envolver na criação de projetos gráficos para discos de vinil de trilhas sonoras, o que me deixa feliz pois sempre fui muito fã e sou colecionador. Agora gostaria de me envolver mais em cinema, propriamente dito. Sonhando alto, acredito que as produções da Marvel Studios e de Quentin Tarantino tenham a minha cara.

Por que a cultura pop é tão instigante?
Uma das ideias principais por trás do Butcher Billy é a manipulação de conceitos que fazem parte do imaginário coletivo que, de alguma maneira inexplicável, quebram barreiras geográficas, culturais e sociais. Quase sempre isso se traduz na forma de ícones da cultura pop. Esse senso de coletividade talvez seja o que a faça tão instigante. Eles normalmente levam décadas para se provarem icônicos. Mas, com o advento da internet e a velocidade da informação, a cultura dos memes e da viralização, vez ou outra aparecem conceitos e personalidades que se tornam clássicos instantâneos.

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