CULTURA ARTES

Relato de uma artista com Parkinson

Nesta coluna, trago o meu relato sobre como a condição de Parkinson impulsiona a minha visão artística

Minhas obras são testemunhas de que a sensibilidade e a criatividade não adoecem. Fazer arte é concentrar toda a minha energia em uma tela, enquanto o corpo deixa de resmungar para mergulhar em um universo paralelo. Aí está a maneira mais extraordinária de enfrentar a realidade.

A vulnerabilidade do meu corpo não me detém. Adapto-me às circunstâncias quando elas surgem, com todo o vigor, mas também com respeito. Pintar é liberdade — e, sendo assim, exerço minha imaginação plenamente. Não deixo que os sintomas tomem conta do meu momento, muito menos da vontade ferrenha de pintar que nasce da minha consciência.

Faço tudo o que está ao meu alcance para conter os avanços do Parkinson, inclusive manter-me com o espírito aberto e colher as alegrias da vida.

A arte é um refúgio para quem convive com doenças neurodegenerativas — um exercício de resistência física e emocional. Com maior ou menor grau de limitações, o gesto de criar, seja qual for a
forma, nos traz novas sensações, renovações e transformações inesperadas no cotidiano. A obra está ali, desafiando o tempo, o corpo e as emoções — retrato de uma reinvenção diária, por meio da cor, da forma e da essência.

Obras de artistas com limitações não têm medida: têm vida expressa na forma desejada.

Oliveira

Oliveira, 0,80 cm x 0,40 cm, óleo sobre tela, 2025, por Reco Marder. (Foto: divulgação)

Assim como a arte, a natureza também guarda exemplos dessa força que insiste em florescer.

A oliveira me lembra terrenos áridos, ventos fortes, secas e calor escaldante. E lá está ela, vivente há séculos, produzindo ouro puro.

Sua aparência e suas estruturas físicas retorcidas revelam que as estações da vida foram adversas, mas também evidenciam uma extraordinária capacidade de resiliência.

Mostram que a vida, mesmo desprovida de beleza, mesmo querendo nos atropelar e dar rasteiras, continua a produzir seiva, a alimentar a alma e, apesar das marcas, mantém de pé — por meio d raízes profundas — a esperança e a força vital que nos move.

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Uma carta de meu personal trainer

Queridos leitores,

Sou o personal trainer Maurício Lopes Sgaraboto e atendo Reco Marder há mais de cinco anos. Especializado em treinamento para pessoas com comorbidades, desenvolvi, ao longo de duas décadas, um trabalho específico para pacientes com neuropatias — como a Doença de Parkinson.

O Parkinson, segunda doença neurodegenerativa mais incidente no mundo, exige seriedade, respeito e conhecimento técnico. Nesse cenário, Reco é exemplo de coragem e determinação. A prática regular de atividades físicas diversificadas tem sido fundamental para amenizar os sintomas e manter sua qualidade de vida.

Sua base no balé clássico, aliada ao pilates, à musculação e às atividades lúdicas, contribui para um desempenho físico e mental notável. Com bom humor, vitalidade e fé inspiradora, ela prova que o movimento é uma poderosa ferramenta de enfrentamento.

Com admiração,

Maurício Lopes Sgaraboto
Personal Trainer – CREF 6885G/PR

*Matéria originalmente publicada na edição #304 da TOPVIEW.