Exposição sobre migrantes nordestinos chega a hotel de São Paulo
Uma reflexão sobre como os movimentos de migrantes em busca de melhores condições de vida, num constante vaivém pela região, influenciaram a cultura popular nordestina ao longo do último século. Esse é o eixo curatorial central da exposição que vai ocupar de 12 a 26 de novembro a White Box, galeria do hotel Rosewood, em São Paulo.
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Um pernambucano, um cearense e um alagoano, de gerações e formações distintas, levam suas criações para este nobre espaço no Centro de São Paulo com o propósito de registrar andanças e territórios muitas vezes apagados ou mal compreendidos no imaginário nacional.
Designer de móveis e objetos, o pernambucano Fabio Melo inspira-se nas carrocerias de caminhão e em suas pinturas de filetagem – ainda que de maneira bem sutil e nada caricata – para criar bancos, cadeiras e mesa da coleção ORABOLAS, que será lançada na exposição.
Mais que fazer uma releitura sofisticada da estética dos caminhões, Fabio aborda o circular, caminhos que se sobrepõem, numa reflexão sensível sobre o êxodo rural, através da saga de famílias nordestinas migrantes que partem, em cima de um pau de arara, em busca de melhores condições de vida.
Já em “O som do chão terracota”, Heytor Borges celebra a riqueza da terra cearense. O barro, o quartzito terracota e o cristal de quartzo, todos extraídos no estado, são transformados em obras que exaltam a manualidade e a tradição artesanal.
Além de destacar as propriedades físicas dos materiais, a coleção convida o público a refletir sobre a relação entre homem e natureza, e a importância da arte popular brasileira, que aqui ganha destaque através de um olhar contemporâneo sobre as técnicas tradicionais de moldagem.
Desfilada no último SPFW, “O conto de Laura” é até agora a mais pessoal das coleções de Antônio Castro, estilista da Foz. Ele nos transporta para o sertão de Alagoas dos anos 30, em Mata Grande, onde viveu Laura Alves, sua tia-avó, que para escapar dos castigos e vigilância paterna fugiu com cangaceiros que passavam pela cidade.
Antônio recorre a relatos familiares e à sua imaginação para transformar em roupas a história do Cangaço, fugindo da fórmula óbvia de recorrer às imagens de Lampião ou Maria Bonita.
Um dos destaques da coleção sãos as estampas e bordados feitos a partir de quadros inéditos de Sil da Capela, ceramistas das mais famosas de Alagoas, que guardava este outro dom relativamente secreto, até os quadros retratando a vida no pequeno povoado de Capela serem descobertos por Antônio, ganhando vida na passarela.
As três coleções juntas propõem uma volta circular nordestina, a partir de um lugar preciso para o imprevisível. São três olhares distintos que têm em comum um profundo interesse em trazer para o debate leituras contemporâneas e originais sobre o design migratório.
EXODUS também reforça o papel curatorial do NORDESTESSE no design, na arte e na moda, indo muito além de operações de venda e realização de festivais. Assim como fez recentemente ao levar um coletivo de designers cearenses para a Semana Criativa de Tiradentes, o NORDESTESSE atua como agregador e catalizador de talentos, transformando o espaço expositivo num retrato da produção de design autoral contemporâneo na região.
As três coleções estarão disponíveis para encomenda no White Box, além de contarem com versões em miniatura de algumas peças para venda na Art Library do Rosewood.