Expansão MASP: nova arquitetura, mesma alma
A nova expansão do MASP é mais do que uma obra arquitetônica — é um posicionamento sobre o futuro da cultura no Brasil. Um museu que escolhe crescer de forma conectada à sua origem, que investe em educação, acessibilidade e experiência estética, demonstra que a sofisticação não está apenas no design, mas na intenção. Ao reinterpretar um edifício histórico e atualizá-lo com propósito, o MASP não apenas se reinventa: ele ensina. E, como toda obra atemporal, nos convida a olhar para o novo com a mesma reverência que temos pelo passado.
O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) inicia uma nova fase em sua trajetória com a expansão que dará origem ao edifício Pietro Maria Bardi — uma das mais relevantes intervenções desde a inauguração de sua sede na Avenida Paulista, em 1968, concebida por Lina Bo Bardi. Trata-se de um marco que reposiciona o museu em termos físicos, simbólicos e funcionais, conectando passado e futuro em um mesmo gesto arquitetônico.
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O projeto é assinado pelo escritório METRO Arquitetos Associados — liderado por Martin Corullon e Gustavo Cedroni — em colaboração com o arquiteto Julio Neves. A escolha não é aleatória: desde 2015, o METRO mantém uma relação próxima com o MASP, tendo sido responsável, por exemplo, pelo redesenho dos icônicos cavaletes de cristal. Agora, com a expansão, a autoria se fortalece em um trabalho que equilibra técnica, respeito histórico e inovação.
Com 14 andares e 7.821 m² adicionais, o novo edifício amplia em 66% a área expositiva do museu. Cinco andares serão dedicados exclusivamente a exposições — um aumento significativo de 60% em sua capacidade atual — e a estreia ao público será marcada pelos Ensaios sobre o MASP, com cinco mostras temáticas de obras do acervo. A estrutura também acolhe, pela primeira vez, um espaço fixo para a Escola MASP, projeto educacional presente desde a fundação do museu, que agora ocupa um andar inteiro com três salas e novos eixos pedagógicos.
Sua volumetria pura — um prisma metálico sobre base transparente — não compete com a monumentalidade do prédio original, mas a complementa com leveza e sofisticação. A chamada “pele” metálica perfurada da fachada, além de definir a estética do prédio, atua como um elemento de eficiência térmica e energética, reforçando o compromisso com a sustentabilidade e a longevidade.
Entre os destaques, estão a circulação vertical invertida, inspirada em museus internacionais, e o túnel subterrâneo que conectará os dois edifícios, facilitando o fluxo de visitantes e o transporte de obras. A bilheteria, agora no subsolo, devolve ao icônico vão livre sua função original de espaço público aberto — uma reverência direta aos princípios defendidos por Lina Bo Bardi.
Mais do que um novo prédio, o edifício Pietro Maria Bardi representa uma ressignificação urbana. A partir da estrutura do antigo edifício residencial Dumont-Adams — dos anos 1950 e adquirido pelo MASP em 2005 com recursos da Vivo —, a intervenção transformou o que antes era moradia em um complexo cultural contemporâneo, duplicando pés-direitos, demolindo trechos do concreto original e preservando elementos estruturais. Essa operação urbana dialoga com a identidade mutante de São Paulo, enquanto materiais como concreto aparente, pedra basalto e madeira preta mantêm uma continuidade sensorial com o projeto original. Já os sistemas de iluminação e climatização de alta tecnologia, aliados ao design atemporal, preparam o museu para o futuro sem abrir mão da experiência estética.
A inauguração do edifício Pietro Maria Bardi é considerada o feito mais significativo do MASP desde 1968, quando o museu deixou sua antiga sede nos Diários Associados, na Rua 7 de Abril, para ocupar o prédio modernista de pilastras vermelhas que se tornaria um ícone da arquitetura brasileira.
“A expansão foi pensada para ser complementar ao edifício de Lina, criando um organismo único”, afirma Martin Corullon, um dos fundadores do escritório METRO Arquitetos Associados. A afirmação resume o espírito do projeto: mais do que crescer, o MASP se reinventa com coerência, sofisticação e propósito — como um verdadeiro ícone que continua a moldar a paisagem cultural e urbana do Brasil.