Artigo: economia criativa e o envolvimento da sociedade, por Juliana Vosnika
Sempre que participei de alguma atividade em que acreditava e gostava sentia que chegava a uma versão melhor de mim – sou economista por formação, mas o destino me encaminhou para a área da gestão; trabalho que me realiza profissional e pessoalmente. Esta ocupação também me dá a oportunidade de acompanhar as tendências mundiais em diversos setores, principalmente os da chamada economia criativa, isto é, a feitura e a comercialização das artes e da cultura em geral. É aí que encontrei o meu nicho.
Também, por gosto pessoal, foquei na moda, na arte, na gastronomia, nos eventos e no turismo; atividades que podem parecer um pouco mais glamourosas do que outros setores da economia, mas são importantes geradores de riquezas, empregos e estabilidade para muitas famílias. Oscar Wilde, com sabedoria, refinada disse: “Deem-me o supérfluo, porque o necessário todo mundo tem”. Aos poucos no Brasil está sendo desconstruído o mito ibérico/religioso de que o que é bonito, estético e agradável e aquilo que as pessoas consomem em momentos de lazer são coisas fúteis.
Nos últimos tempos percebi que a gestão da economia criativa é complexa e, por causa disso, pouco compreendida. E só uma gestão inteligente nos processos e na administração da ânsia dos seus protagonistas pode amadurecê-la. Gestores profissionais passaram a ocupar os lugares dos amadores bem-intencionados e os da turma do “eu acho que”. Recursos escassos e disputadíssimos requerem boa engenharia de funding.
Verifiquei que os modelos de gestão evoluem e são agora mais colaborativos e participativos. Buscam atrair pessoas que usam seu prestígio empresarial e social, para apoiar causas culturais: são os programas de patronato ou de associações de amigos. Reúnem pessoas que não precisam ou querem “aparecer”, mas sim contribuir para uma sociedade melhor, atitudes que devem ser reconhecidas e valorizadas.
O Gala do Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque – um dos principais eventos de arrecadação de recursos para o MET – é um exemplo disso; seu baile reuniu celebridades, fashionistas e hipsters e se tornou o evento da moda mais importante da temporada, mais comentado que o tapete vermelho do Oscar. Ao reunir um show da Madonna, uma das madrinhas do evento, com Anna Wintour e Amal Clooney sob o tema (com o apoio da Santa Sé) Heavenly Bodies: Fashion and the Catholic Imagination, impactou a mídia e as redes sociais, aqueceu as áreas da arte e da moda e arrecadou milhões de dólares, superando os 12 milhões de dólares de 2017.
Na Ópera Nacional de Paris, é possível adotar uma poltrona fauteuil e colocar o seu nome nela. Uma atitude que poderia parecer exibicionista, mas é uma forma de contribuir para a manutenção da instituição e deve servir como exemplo. Indo mais longe, a pessoa pode comprar duas e, quando não puder comparecer a uma apresentação, doar seus lugares a pessoas que não tem acesso à cultura e a ópera.
Aos bem-intencionados digo que não há necessidade de ir a Paris ou Nova Iorque para se engajar; existem muitas instituições culturais no Brasil carentes de contribuição. Foi o que fizemos na minha gestão do Museu Oscar Niemeyer – criamos um programa de patronato e graças as doações adquirimos mais de 25 obras que, sem este apoio, jamais iriam fazer parte do acervo do MON. Participar como apoiadores ou protagonistas dos muitos eventos que a economia criativa cria enriquece nossas vidas dando-nos a satisfação do deixar um bom legado às próximas gerações.
Participar torna as pessoas mais criativas e inspiradoras.
Participar faz as pessoas chegarem a sua melhor versão.
Participar torna as pessoas mais felizes.
Para saber mais: MON 15 anos: museu faz aniversário com novo curador e novos desafios