CULTURA ARTES

A inovação na arte

Inovação, ESG e o incômodo necessário

O que chamamos de “inovação” na arte?

Já não se trata do “nunca visto”. Inovar, hoje, é um ato de coragem: é criar com o corpo aberto, mesmo diante do colapso. É suportar a vertigem de um mundo saturado de imagens — e ainda assim produzir algo que nos faça parar, pensar, estremecer.

A arte contemporânea deixou de caber em molduras. Ela escorre, escapa, provoca. NFTs, bioarte, performances, algoritmos criativos, IA que sonha imagens — tudo é arte, e nada é, porque o que importa não é mais o rótulo, mas a potência de sentido.

LEIA TAMBÉM: Exposição “Pequenos Abandonos” traz arte têxtil contemporânea ao Centro Histórico de Curitiba

Mais do que nunca, a arte atua como um organismo vivo que responde ao tempo com cor, ruído, ausência e presença. Ela denuncia, acolhe, questiona, expõe. Toca feridas abertas, revela contradições, propõe outros mundos.

É nesse terreno — fértil, denso, contraditório — que se fortalece a convergência entre arte e os princípios do ESG (Environmental, Social and Governance). O que antes pertencia ao universo corporativo agora encontra eco na criação artística, promovendo consciência ambiental, justiça social e governança ética.

A inovação, hoje, é um gesto sincero. Não é mais sobre monumentos, mas sobre sentido. Pode ser um risco no papel. Um vídeo de cinco segundos. Uma vela acesa num beco. O conceito virou corpo. O corpo virou manifesto. O lixo virou matéria-prima. O algoritmo virou pincel. O sagrado, às vezes, brilha em purpurina.

Vivemos um tempo em que a arte não quer agradar — quer perturbar. Quer refletir o excesso, o trauma, a beleza do que sobra. Quer, sobretudo, não calar.
Porque se há algo insuportável neste século, é o silêncio.

Vik Muniz – O poeta dos resíduos

(Foto: Reprodução | Instagram)

Referência mundial em arte sustentável e engajada, Vik Muniz utiliza materiais improváveis como açúcar, chocolate, lixo e entulho para reconstruir imagens icônicas da cultura. Suas obras não duram: são fotografadas e se dissolvem, deixando apenas a lembrança do gesto — e uma crítica profunda ao consumo e ao descarte.

Destaques:

  • John Lennon, feito com grãos de café
  • Elizabeth Taylor, montada com strass
  • Medusa Marinara, feita com espaguete e molho
  • Lixo Extraordinário: retratos de catadores em um lixão do Rio, que viraram documentário indicado ao Oscar

Banky – O mensageiro sem rosto

arte
(Foto: Reprodução | Instagram)

Ícone da arte urbana global, Banksy transforma o espaço público em palco de denúncia. Seu estêncil é navalha, sua ironia corta fundo. Fala de guerra, racismo, capitalismo, migração — sem pedir licença.

Destaque:

  •  Napalm (Can’t Beat That Feeling): a menina vietnamita queimada caminha de mãos dadas com Mickey Mouse e Ronald McDonald. A infância, a guerra e o capital fundem-se num mesmo grito mudo.

Adriana Varejão- o corpo ferido da história

(Foto: Reprodução | Instagram)

Brasileira renomada, Adriana Varejão lida com as feridas da história. Sua arte cutuca, desmonta certezas, sangra. Convida o público ao desconforto — e à reflexão.

Destaques:

  • Polvo: paleta com 33 tons usados pelos brasileiros para nomear a própria cor da pele — de “café com leite” a “fogoió”. Desmonta a ideia fixa de raça e revela o peso simbólico das palavras.
  •  Azulejaria Verde em Carne Viva: sob a beleza colonial dos azulejos, emergem “feridas” de carne e sangue. Uma crítica visual à violência histórica e à herança colonial.

Thales Bispo – O sagrado nas camadas da terra

(Foto: Reprodução | Instagram)

Jovem artista do Paraná, Thales Bispo mergulha na ancestralidade e na simbologia dos sambaquis litorâneos. Sua obra mistura história, espiritualidade e crítica social. Copia, interpreta, recicla símbolos — como quem escava o tempo e encontra sentido nos restos. 

Destaque:

  • Com materiais orgânicos e reciclados, cria instalações e pinturas que falam de memória, desigualdade e transcendência.

Quais são as forças que movem a arte de agora?

  • Sustentabilidade: não só ambiental, mas simbólica — obras feitas com resíduos, afetos e memórias.
  • Reciclagem: de materiais, linguagens e sentidos.
  • Tecnologia: como meio de expressão e questionamento.
  • Desmaterialização: o objeto cede lugar à ideia, ao gesto, à presença fugaz.
  • Crítica social e política: a arte como denúncia e combate.
  • Engajamento real: o artista como cidadão, voz ativa do seu tempo.
  • Colaboração: como gesto ético, poético e coletivo.

*Matéria originalmente publicada na edição #301 da TOPVIEW.

Deixe um comentário