Constelações edificadas
Destacamos, nesta edição, no encerramento da matéria 70’s — Os Mais Representativos Edifícios Residenciais de Curitiba da Década de 1970, o Conjunto Cosmos, eleito vice-campeão nas redes sociais do nosso escritório — com o Edifício Springfield como campeão e o apoio da IDEE Incorporadora. Ambas são obras sínteses do período de afirmação do movimento modernista paranaense e condensam importantes características de sua época, imprimindo um justo e adequado registro cultural na paisagem construída da nossa cidade. Edifícios adaptados ao seu momento social e histórico.
A civilização e as cidades se constroem com o desenvolvimento. Avanços tecnológicos viabilizam formas e soluções antes impensáveis, novas maneiras de morar e novos pactos sobre um sempre mutante conceito de beleza, características que permeiam a verdadeira arquitetura.
Indo muito além de qualquer projeto passadista (como os lamentáveis edifícios autodenominados “neoclássicos”, meros pastiches), que negam o presente e o desenvolvimento, mal transportando épocas e culturas pregressas e contribuindo para a criação de uma paisagem urbana falsa e artificial. Esses edifícios são, típicos de culturas subalternas, tão ostensivamente descontextualizados quanto as grotescas estátuas da liberdade da Havan, porém, mais nocivos, pois não colapsam com o vento. Precisamos olhar com respeito e orgulho o nosso patrimônio modernista e entender a importância de sua preservação e continuidade. É mandatório construirmos a nossa própria história.
Convidei o arquiteto Guilherme de Macedo, idealizador do projeto Prédios de Curitiba, para me ajudar nessa tarefa.
Guilherme de Macedo
É arquiteto e urbanista formado pela UTFPR com MBA em Incorporações e Negócios Imobiliários pela FGV e em Cidades Responsáveis pela IMED. Atua como diretor-executivo do Lona Group.
Conjunto Cosmos
“Um conjunto de estrelas vigilantes pairam sobre o ar, astros inveterados postos atentos seguem como donos da quadra, da rua, da bola, fazem ser vistos, avistam…” Galileu, Copérnico, Kepler e Newton dão nome ao conjunto que considerado um dos mais admirados na região do Alto da XV, formado por quatro grandes torres com vinte e seis andares residenciais cada uma e localizado entre as avenidas Visconde de Guarapuava e Souza Naves, na altura da Rua Schiller.
Conhecido como Conjunto Cosmos, o projeto tem a autoria dos arquitetos Jaime Wasserman e Salomão Figlarz a obra foi construída na década de 1970 pela Construtora Independência, a qual tinha Wasserman como sócio-proprietário. Jaime nasceu no Uruguai, mas veio para Curitiba ainda criança. Posteriormente, concluiu os estudos do curso de Engenharia Civil, fazendo parte também da primeira turma de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná. Wasserman foi um grande empreendedor no segmento de conjuntos habitacionais, com a realização de grandes obras, como o Conjunto Independência e o Parque Residencial Fazendinha.
O empreendimento foi implantado em uma área de vazios gerados pela desativação de fábricas na região. Projetado ao espírito do Plano Voisin (1925), de Le Corbusier, que inspirava grandes áreas livres e alta densidade, suas quatro torres se conectam por meio de um grande bloco horizontal, o qual comporta vagas de estacionamento na parte inferior e recebe uma grande área de convivência no nível acima. As torres na cor ocre tem a planta ocupada por quatro apartamentos por andar, com dois dormitórios cada. Já as torres na cor azul possuem três dormitórios e são distribuídas com a mesma racionalidade e simetria.
Considerado um dos protagonistas do skyline curitibano, sua fachada ganha destaque pelas escadas de incêndio pré fabricadas em concreto armado, evidenciadas externamente no volume principal do edifício, com acabamento bruto de concreto aparente, que ressalta padrões geométricos trabalhados em relevo. O conjunto foi um dos pioneiros na utilização do chapeamento metálico como vedação. Segundo alguns moradores, o barulho da reverberação das chapas, por conta dos fortes ventos, pode ser ouvido nos andares mais altos.
*Matéria originalmente publicada na edição #259 da revista TOPVIEW.