Conheça Burle Marx, o rei do paisagismo brasileiro
Em 1909, nasce Roberto Burle Marx, em São Paulo, filho de Cecília Burle, de tradicional família francesa, e Wilhelm Marx, judeu alemão. Aos 19 anos, Burle Marx se muda para a Alemanha. Estuda canto e pintura e acaba encantado pela Arte Moderna. Em seu retorno ao Brasil, estuda arquitetura e pintura na Escola Nacional de Belas Artes.
Ao longo de sua profícua carreira, realizou mais de três mil projetos, em 20 países. Além de paisagista, atuou como arquiteto, desenhista, pintor, gravador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, designer de joias e muralista. O terraço-jardim que projetou para o Edifício Gustavo Capanema, em 1938, com uma configuração inédita no país e no mundo, é um marco disruptivo do paisagismo brasileiro. O artista que relevou a flora nacional nos projetos paisagísticos.
Outro trabalho de grandes proporções foi o Aterro do Flamengo, em 1954, que atesta sua versatilidade na abordagem das diferentes escalas do projeto paisagístico, do vaso à escala urbana. No Aterro de Copacabana, em 1970, Burle inverte o sentido do desenho do famoso calçadão e desenha um conjunto espetacular de praças e calçadas, incluindo todos os conhecimentos adquiridos na ininterrupta atividade pictórica. Uma síntese notável entre artes plásticas e um paisagismo seco, com pouca ou nenhuma vegetação.
Em 1949, adquire o Sítio Santo Antonio da Bica, nas proximidades do Rio de Janeiro, onde passa a viver e trabalhar a partir de 1973. Nesse exuberante cenário, em grandes estufas, bem como em elaboradas composições ao ar livre, reúne exemplares muitas vezes raros da flora brasileira, até 1994, ano de sua morte. O sítio foi doado ao governo federal em 1985 e é caracterizado como unidade museológica pela UNESCO.
No início do século passado, muitas cidades e jardins brasileiros adotavam plantas europeias, que gozavam de prestígio em metrópoles e jardins de renome. Com Roberto Burle Marx, aprendemos a valorizar nossa bela e incomparável flora, tão apreciada por estrangeiros que nos visitam.
Traçados e soluções paisagísticas são itens de afirmação cultural que devem ser incentivados pelo poder público na construção das nossas cidades. Contrariamente, no entanto, Curitiba insiste em nos oferecer um Jardim Botânico com um traçado pretensamente francês, deseducando a população, mal gerenciando recursos públicos e nos colocando em posição subserviente, característica de culturas menores e eternamente colonizadas. Salve Burle!
*Coluna originalmente publicada na edição 230 da revista TOPVIEW.