Tempo de (re)descobertas, por Igor Bispo
Sou bartender há muito tempo, mas posso confessar que só comecei a levar meu ofício a sério há mais ou menos oito anos. Coincidentemente, numa época em que a coquetelaria, como um todo, em todo o mundo, passava por uma revolução. E como em toda grande revolução cultural, eu não conseguia ver o quanto aquilo me afetaria no decorrer da minha carreira.
Nesse período, tornei-me mais exigente no que preparava e no que me inspirava. Fui agraciado com a oportunidade de conhecer pessoas extremamente sérias, que me deram um novo norte e um novo comportamento atrás de um balcão de bar. Aprendi a ver meu trabalho como algo sofisticado, rico e empolgante.
Enquanto o resto do mundo se encanta com essa “nova era de ouro” – uma espécie de renascença, com resgate de antigos valores, receitas e técnicas do final do século 19, a chamada “primeira era de ouro” da coquetelaria –, por aqui ainda temos, como consumidores, dificuldades em notá-la, e, arrisco a dizer, entendê-la. Temos um grupo de profissionais fortíssimo atuando em Curitiba. Gente realmente apaixonada, que está levando absolutamente tudo em conta: fabricação própria de licores, xaropes, tinturas, bitters, copos, técnicas novas e receitas arcanas (que podem ter mais de quatro séculos de existência e estão sendo resgatadas e elaboradas com técnicas modernas). Tudo isso com apenas um objetivo: deixar as pessoas empolgadas com os coquetéis. Precisamos ultrapassar essa barreira histórica, batida e cansada, de que coquetéis se resumem a caipirinhas de frutas diversas, e qualquer coisa além disso está reservada para cientistas malucos.
O grande fato é que ainda somos uma cidade em que as pessoas têm receio de arriscar. Falar desse tipo de característica curitibana é meio chover no molhado, mas ainda assim é um fato. Ainda existe certa resistência em se procurar coquetéis novos, bares e bartenders. O que acho curioso, visto que temos uma cena gastronômica muito valorizada e influente. Perturba-me um pouco o fato de que os grandes prêmios dados à área gastronômica ainda ignorem os profissionais de bar individualmente, ou, ainda, ignorem a “melhor carta de coquetéis” ou “novas tendências”. Existe um reconhecimento pela coquetelaria curitibana apenas fora daqui, e eu acredito, piamente, que é hora de o público curitibano, exigente como é, descobrir suas pratas da casa e redescobrir o prazer e a sofisticação dos bons coquetéis.
Para mim, também é importante incentivar as pessoas a superar a ideia de beber apenas para se intoxicar e de que coquetéis são apenas a mesa de batidas cheias de leite condensado no hall de entrada de restaurantes. Convido você a ir além e a provar um pouco desse mundo fantástico que enxergamos pelo prisma de um coquetel.