ESTILO

Amor na quarentena

Artista curitibana conta como entende a música no contexto de isolamento social e destaca: ‘Apesar de tantas coisas ruins que estamos vendo, também há muito amor”

Totalmente influenciado – mesmo que digitalmente – pelo novo single da cantora curitibana Rê Gugli Nosso Amor Não Entra em Quarentena, te convido a conferir um bate-papo super interessante que tive com ela, no qual falamos sobre esse período de pandemia e, claro, sobre a nova música. 

A revista chega ao fim da trilogia e o tema é evolução. Qual o significado dessa palavra para você?  
Existem vários tipos de evolução, mas a acredito que a principal é a interna, a que vem de dentro para fora. É se desprender de crenças limitantes, de pré-conceitos, é aprender com o outro, ter senso de comunidade. Principalmente nesse momento. E não se comparar com os outros, mas sim com você mesmo.

Qual papel da música para as pessoas no momento atual? 
O papel da música, das artes, da cultura em geral sempre foi imenso. O consumo da cultura, justamente, nos faz pensar, questionar, respeitar mais as diferenças e consequentemente EVOLUIR. Tem influência direta na qualidade de vida das pessoas. Além da importância econômica – atividades culturais representam 4% do PIB do Brasil (uma pena que ainda assim sejam subvalorizadas por muitos). Nesse momento, em casa, as músicas, os livros, os filmes têm sido a companhia de muitos. Podem acalmar, tirar nossa mente do estresse, alegrar, empolgar. As lives também se tornaram uma forte fonte de entretenimento e de doações, e nos dão a possibilidade de ver artistas que admiramos em casa, de maneira mais natural e mais próxima. Acho que posso resumir a importância da arte e da cultura nesse momento com a frase que ouvi de um colega, Igor Cordeiro, que trabalha com cultura há mais de 10 anos: “Não há melhor consumo do que aquele que alimenta e veste nossa alma.”

(Foto: divulgação).

Alguma inspiração que te marcou para a nova música? Conte um pouco mais desse single, dos artistas, produtores e equipe envolvidos.
A inspiração mais forte foi a própria quarentena, o momento que o mundo vive. Pessoas separadas justamente por amor – não apenas casais, mas pais e filhos, irmãos, amigos. No dia que escrevi, estava me sentindo muito abalada com tudo isso, peguei o violão e pensei apenas em tocar e escrever, e a letra foi saindo, se encaixando. Fui relacionando a história de amores separados com os objetos da casa, que é o lugar mais presente nas nossas vidas hoje. Acho que estamos vendo nossa casa diferente, notando os pequenos detalhes, movimentos, barulhos.

A equipe envolvida foi a mais reduzida possível: eu e mais dois amigos. Mas não nos encontramos em nenhum momento. O Yuri Lemos gravou o violão e a guitarra na casa dele (de madrugada, pois ele mora no centro e os ruídos de dia são muitos).

Eu gravei a voz em um estúdio que fica na garagem de outro amigo. Apenas eu e o Rafael Skraba, que captou tudo. Eu tirei a máscara só para cantar. Fiz meus próprios back vocals também. E o Skraba e o Yuri terminaram o arranjo juntos, à distância, fazendo o beat e alguns outros elementos. A música é bem enxuta mesmo, condizente com o momento.

Acha que a música pode ter um papel “terapêutico” na vida das pessoas nesse momento? 
Com certeza! Como falei, a música pode ter vários efeitos em nós. Ela mexe com as emoções e pode acalmar, trazer alegria e energia. Eu mesma, quando estou para baixo, pego o violão para tocar e cantar e isso já me traz outra energia.

Uma referência musical que você gosta e indica?
Difícil escolher uma [risos]! Tenho escutado muito um músico inglês chamado Tom Misch, não sei se posso considerar muito uma referência pois tem um estilo diferente do meu, mas com certeza é inspirador. John Mayer também tenho escutado muito. Música brasileira também: Marisa Monte, Caetano, Silva… temos muita música boa! 

Conte-nos seus planos futuros. Orange Cab? 
Fazer mais e mais músicas para vocês! A próxima deve sair em julho já. Com esse meu projeto solo vou fazer um show no palco alternativo do Coolritiba que, a princípio, está marcado para 03 de outubro! Com a Orange Cab também espero voltar aos shows logo pra animar a noite curitibana e fazer muitas festas legais, esse ano completamos cinco anos de banda. Vem uma Laranjada boa por aí!

(Foto: divulgação).

E aí? Amor entra ou não entra em quarentena?
Não entra! Porque o amor não é apenas físico, ele transcende. Ficar longe para proteger: isso é amor. Fazer um FaceTime com os amigos para jogar stop e beber um vinho: isso é amor. Ajudar as pessoas que estão passando dificuldades: isso é amor. Apesar de tantas coisas ruins que estamos vendo, também há muito amor.

Queria também expressar o quanto este período está difícil para quem trabalha em toda a indústria do entretenimento. Quatro meses já sem a possibilidade de trabalhar. Técnicos de som, de luz, bartenders, músicos, produtores de eventos, etc. Um momento muito delicado para todo o setor, que foi o primeiro a parar e provavelmente será o último a voltar. Se a cultura e o entretenimento são tão importantes e presentes em nossas vidas eu espero realmente que sejam mais valorizados e apoiados nesse momento.

“(…) o amor não é apenas físico, ele transcende. Ficar longe para proteger: isso é amor. Ajudar as pessoas que estão passando dificuldades: isso é amor.”

*Coluna originalmente publicada na edição #237 da revista TOPVIEW.

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