A arte de se reinventar
Provavelmente você já deve ter se questionado o que será do mundo após essa pandemia que mudou o cenário do planeta. A resposta ainda é incerta, mas especialistas de áreas diversas são unânimes ao dizer que o mundo que conhecemos antes dessa doença nunca mais será o mesmo. Isso não quer dizer que a previsão do que vem pela frente seja pessimista. Pelo contrário. Já é possível perceber em pequenos gestos como as pessoas estão mais empáticas, solidárias e humanas. É visível a olhos nus como a natureza respondeu favoravelmente a essa parada forçada no ritmo frenético que seguia a humanidade.
Se a natureza agradece, a economia sofre. Setores diversos estão tendo que se reinventar com essa nova realidade. No segmento do vinho não está sendo diferente. As dificuldades vêm desde as importações – que lutam para sobreviver com as altas do dólar e euro – dos restaurantes, wine bars e lojas de vinho – que viram seu movimento e faturamento despencar devido à necessidade do isolamento social – até as vinícolas, que sofrem com a falta de receita para manutenção das videiras que necessitam de cuidados diariamente, pois os principais canais de venda de grande parte dessas vinícolas boutique – como bares, restaurantes e as vendas para os visitantes aos vinhedos próprios – ou fecharam temporariamente ou reduziram fortemente a sua capacidade de atendimento, o que impactou em uma grande redução na comercialização de seus produtos.
E na necessidade de se reinventar nesse momento de crise provocada pelo novo coronavírus e sustentar a manutenção de seus vinhedos, a Vinícola Legado, localizada nos arredores de Curitiba, lançou o programa “Adote uma Videira”, que tem como objetivo unir pessoas para ajudar no cuidado dessas plantas e da saúde financeira da empresa. Nesse programa, além de receber duas garrafas por mês dos vinhos da Legado, o adotante ainda tem o direito de “batizar” uma parreira da sua casta favorita com o seu nome.
“As videiras são plantas perenes que produzem apenas uma vez por ano, mas precisam ser cuidadas o ano inteiro. Sem esse cuidado, elas ficam vulneráveis a inúmeras doenças e podem morrer”, explica a sócia-proprietária da Vinícola Legado, Heloise Merolli. Um novo vinhedo leva entre quatro e cinco anos para começar a produzir. “Com as atuais restrições de comércio e turismo, precisamos de uma receita mínima para manter as videiras e garantir as próximas safras”, completa. “Participar do projeto vai além de nos dar sustentabilidade financeira; Indica uma afinidade com os nossos valores de preservação ambiental, fomento de empreendimentos locais e consumo consciente. Percebemos pela reação dos nossos clientes a crise que eles percebem a importância desses valores”, complementa Heloise.
Outra prática resultante do isolamento forçado que vem agradando e fidelizando os apreciadores de vinhos são os cursos online e gratuitos que vinícolas e importadoras estão disponibilizando em seus canais de comunicação. A gigante Vinícola Concha Y Toro é uma delas. Entre outras iniciativas, a VCT disponibilizou um curso à distância para que amantes do vinho possam desfrutar de seu fascinante universo. O curso é ideal tanto para iniciantes quanto para iniciados e pode ser acessado por meio do YouTube. A importadora Porto a Porto também disponibilizou recentemente um curso gratuito de vinhos. Esse curso nasceu com o objetivo de compartilhar conhecimento teórico e prático sobre o universo dos vinhos da equipe comercial da importadora. A proposta foi simplificar informações e derrubar mitos, ou seja, profissionalizar os colaboradores. O curso foi tão elogiado que a importadora resolveu disponibilizar o acesso gratuito das 18 aulas – com tempo médio de 50 minutos cada – em formato educação à distância. As aulas vão desde a introdução no universo do vinho, passando pelos principais países produtores, enogastronomia e serviço do vinho. Quem completar o curso com nota mínima em todas as provas ainda receberá um certificado.
O momento é de se reinventar, de resiliência, de ajudar o próximo. Fazer o bem faz bem e é certo que, logo, tudo isso vai passar. Para nós, vai ficar o aprendizado: juntos, podemos mais e das adversidades, surgem as melhores oportunidades.
*Coluna originalmente publicada na edição #238 da revista TOPVIEW.