ESTILO

Coluna Marina Bertoldi, novembro de 2017

Marina Bertoldi escreve periodicamente para a revista TOPVIEW

Muito se tem dito e escrito sobre episódios recentes na área cultural. A exposição Queermuseu foi interrompida prematuramente em Porto Alegre. Posteriormente, o prefeito do Rio de Janeiro não aceitou que a mesma exposição fosse a terras cariocas, como planejado. Mais recentemente, foi a vez do Museu de Arte Moderna de São Paulo ser alvo de críticas, pela performance La Bête, de Wagner Schwartz.

CONTEXTO

Ele confere sentido, evidencia intenções. Não se pode discutir ou interpretar a performance de Schwartz sem conhecer a obra de Lygia Clark e, principalmente, seus Bichos, que inspiraram a performance.

Se percebêssemos que a interação com o público é uma possibilidade e não uma obrigatoriedade, nos conscientizaríamos de que o nu não é necessariamente erótico, assim como o erótico não é, necessariamente, nu. O abuso pode acontecer com alguém vestido e pode não acontecer com alguém nu. Por meio da arte em seu contexto, questionar será sadio e construtivo.

LIBERDADE INDIVIDUAL

O Brasil é um país democrático, laico e possui uma Constituição. Ela organiza o Estado e zela pelos direitos individuais. Também as instituições culturais são regidas por um arcabouço legal que exige aviso prévio ao visitante quanto ao conteúdo exposto. Filmes e shows, assim como exposições, podem apresentar conteúdo que o Estado julga impróprio para menores de certa idade. Cada um, dotado de seu livre-arbítrio, decide assistir ou não, assim como decidem os representantes legais de menores. Nos casos citados, os visitantes foram advertidos, a lei foi cumprida.

Deve, então, uma criança, acompanhada de seu representante legal, ver um homem nu, não erotizado? Imagino que, nas praias alemãs, diriam-nos que sim e, no Brasil, durante o Carnaval, também. Em um museu? Sei apenas que, se eu decidir pela exposição ao conteúdo, não podem me privar, assim como eu não poderia obrigar alguém que escolheu não presenciá-lo a adentrar a sala. Isso teria outro nome. Não é arte nem pedofilia, é coerção, é censura.

DESCONFORTO

Precisamos nos sentir confortáveis até mesmo, e principalmente, no desconforto. Valiosa habilidade sentir empatia.

A arte resiste para nos mostrar que muitos outros mundos existem e que muitos outros, além desses, são possíveis. Não podemos nos privar de conhecer esses lugares de possibilidades plurais, que nos lançam a novos ventos. Estaríamos sabotando nós mesmos e as futuras gerações.

Despe-te! Vá aos museus, frequente peças de teatro, não deixe de ir ao cinema.

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