Conheça Cintia Malaquias, a mulher que deu a volta por cima (duas vezes!)
Cintia Malaquias acabou de passar pelas duas situações mais difíceis da sua vida: enfrentou uma depressão (e a superou) e passou dois anos cuidando do marido, que chegou a ser desacreditado pelos médicos por conta de uma doença rara.
Habituada a frequentar meios sociais exclusivos, incomodava-a que as pessoas que viam suas fotos glamurosas não imaginavam a dificuldade que estava passando. Então, começou a abrir a situação nas redes sociais, com textos de desabafo e fotos da realidade crua.
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A ex-life coach queria mostrar que tinha problemas como qualquer outra pessoa. E se surpreendeu quando passou a receber apoio e a se tornar conhecida. “Acho que criaram empatia”, diz Cintia, que, hoje, aos 39 anos, se vê como uma digital influencer com a missão de ajudar a desmistificar doenças mentais, falando sobre o assunto e tentando ser exemplo.
Para se curar, ela usou duas táticas: o conhecimento adquirido no período em que atuou como life coach e o próprio processo de aceitação — ela teve que se permitir tirar um tempo para cuidar de si e da família.
Mãe de quatro filhos (o mais velho tem 18 anos e o mais novo, oito meses), até hoje ela também é chamada de mãe por jogadores agenciados pelo marido, Marcos Malaquias, e a quem viu crescer, como Keirrison, do Coritiba.
Na conversa a seguir, no escritório que divide com o marido (que contribuiu em alguns momentos do bate-papo), Cintia revela que se sentia à sombra de Marcos — que foi um dos mais bem-sucedidos agentes de futebol do país — e como passou a reconhecer o próprio valor.
TOPVIEW: Como você decidiu se tornar uma life coach?
Cintia Malaquias: Isso apareceu por consequência de um tratamento de depressão bem sério pelo qual passei, por volta de 2013. Eu tinha uma amiga que era life coach e comecei a fazer [tratamento] com ela. Vi o quanto me fez bem e decidi colocar em prática.
TV: Foi o que te curou da depressão?
CM: Uns 80%. Foi um jeito de olhar para mim. Atuei como coach por um tempo, mas depois parei, porque meu marido teve um problema de saúde seríssimo [polimiosite, um tipo raro de inflamação dos músculos]. E logo depois engravidei. Então, dei uma parada com tudo. Hoje, estou atuando com imóveis de alto padrão.
TV: Como foi começar a carreira depois de ser mãe?
CM: Eu sempre fiz a retaguarda do Marcos, que foi agente de futebol por muitos anos. Mas não me via como uma profissional. Eu ajudava a cuidar da família dos jogadores quando eles iam morar no exterior. Sempre fui anfitriã também. Mas só me descobri depois de 2014, quando me profissionalizei, digamos assim.
TV: Você sentia necessidade de se profissionalizar?
CM: A gente sempre gosta de ser reconhecida, né? O Marcos me reconhecia, mas eu não. Isso foi bem importante nesse processo, de eu saber como também era uma peça-chave. A gente faz tudo meio junto, e eu às vezes me achava na sombra.
TV: Como era o seu trabalho com os jogadores?
CM: Trabalhava com gente que saía do Brasil ganhando R$ 1 mil por mês e, de uma hora para outra, passava a ganhar R$ 200 mil, R$ 300 mil. É uma mudança brusca de vida. Muitas vezes eles ficavam sem saber o que fazer. As namoradas, as mães, às vezes me ligavam e perguntavam que roupa usar numa festa, como receber, se portar. Eu achava muito interessante ser reconhecida assim.
TV: Você também participou desse processo com jogadores famosos, como o Neymar?
CM: Também. O Neymar foi terceiro jogador que o Marcos negociou com o Barcelona, então, nós já tínhamos passado por aquilo – embora o Neymar fosse o boom, o marcante. Mas ele não foi um jogador do Marcos desde o início, ele só participou da penúltima negociação. Então, a gente não fez parte da vida dele como com os outros jogadores, que o Marcos conheceu com 14, 15 anos. Tem jogador que me chama de mãe, eu quero matar (risos).
TV: Por quê?
CM: Eu falo: “gente, vocês são da minha idade, parem de me chamar de mãe”. Um deles é o Keirrison [jogador do Coritiba], que praticamente cresceu na nossa casa. Nós estávamos junto quando ele conheceu a esposa, por exemplo. A gente acaba participando diretamente da vida dos meninos. Eu gosto disso.
Marcos Malaquias: Em todos os ramos em que atuei, ela sempre esteve junto. Atrás de um homem de sucesso, sempre tem uma grande mulher.
CM: Digamos que ao lado (risos).
TV: Hoje vocês trabalham juntos?
CM: O Marcos, em 2014, saiu do futebol e abriu a MM Business, que é uma empresa de investidores, negócios. Foi surgindo gente perguntando se eu não sabia de alguma casa [à venda], aí pensei em assumir essa área.
TV: E como se conheceram?
CM: No kartódromo de Pinhais. Minha irmã era casada com o Jadson, do Corinthians, e, na época, ele estava jogando no Atlético. Uma vez, o time foi andar de kart e minha irmã pediu para eu levá-la. Cheguei lá e encontrei o Marcos. Ele veio com a sua lábia, conversinha… Depois, nos encontramos de novo em um sertanejo. Quando o conheci, eu era nova em Curitiba, tinha acabado de vir de Londrina. E ele era super comunicativo, conversava com todo mundo. Pensei em ficar amiga, porque ele era gente boa e eu ia conhecer um monte de gente. E a gente está junto até hoje. Há 14 anos.
TV: Você diria que o seu maior revés na vida foi a depressão?
CM: A depressão junto com a doença do meu marido. Não sei dizer qual das situações foi mais tensa. Os médicos chegaram a desenganá-lo.
MM: Tem uma foto que foi marcante para mim: eu estava de cadeira de rodas, bem debilitado, e ela me empurrando. Isso mostra sua força. Eu não entendia a depressão, comecei a entender com ela. Uma mulher tão forte, passar por uma doença dessas e dar a volta por cima…
TV: Como está a recuperação?
CM: 100%. Durante a doença, as pessoas me procuraram para saber do Marcos, começaram a acompanhar nossa história e tomei gosto por dividir o cotidiano. Hoje, falam que sou uma digital influencer (risos).
TV: Foi tudo ao mesmo tempo: a depressão, a doença, o bebê, os negócios…
CM: Como foi retomar a vida? Quando o bebê estava com quatro meses, decidi voltar. Faz três meses que estou na área de novo. As pessoas perguntam como a gente consegue, com bebê novo, ir para a balada. Eu digo: “a gente tem que viver”.
MM: a gente tem uma vida normal, apesar de toda essa turbulência. A mulher tem um papel importante, ela tem que estar forte para todo mundo. Eu fico abismado com como ela consegue.
CM: Vocês [homens] não conseguiriam nem menstruar (risos).
TV: Quais são os maiores prazeres que você descobriu depois desse momento tão conturbado?
CM: Nunca gostei de comemorar meu aniversário. No último, meu marido estava na UTI e eu nem atendi o telefone, porque não queria receber parabéns, não estava no clima. Agora, eu nunca mais vou deixar de comemorar, porque não sei se ano que vem vou conseguir. Parece que tudo o que eu aprendia na teoria com o coach, vivi na prática depois de quase minha família se desfazer. Teve dias que a gente achou que ele não ia aguentar, já ia preparando os filhos para o pior… E, de repente, Deus nos deu a cura e um filho.
TV: Como você descreve a sua mudança como pessoa depois desse processo?
CM: Eu sou grata. Tem coisas que são essenciais, e essas coisas eu tenho. Ano passado, o Marcos ficou cinco meses sem andar, meu filho carregava ele no colo para tomar sol. Foi uma lição, uma superação em família. Foram dois anos lidando com a doença, 2015 e 2016. Quando a gente achou que tinha passado, eu engravidei e, quatro dias, depois descobrimos que a doença [do Marcos] havia voltado. Teve momentos em que minha filha teve que dormir no quarto para ajudar a cuidar dele, e ela tem 14 anos. Hoje, a gente se vê mais forte.
TV: Nesse tempo em que você foi coach, qual era o principal motivo para as pessoas te procurarem em busca de orientações?
CM: Vejo que as pessoas que me procuram são mulheres casadas, com filhos e que querem saber como fazer as coisas sendo mãe.
TV: E como você dá conta?
CM: Não tem receitinha. Quando me perguntam, eu digo que tem que ter uma equipe. Saber pedir ajuda, que você não dá conta de tudo. Muitas pessoas me procuram também porque eu transito bem em todos os meios. Do mesmo jeito em que estou à vontade na festa da esquina, a gente vai para uma festa da Dolce & Gabbana no Fasano.
TV: Isso é algo que você aprendeu?
CM: É algo meu, mas acho que dá para desenvolver a habilidade, se necessário.
TV: Você publicou um vídeo contando que queria criar o hábito de fazer exercícios físicos. Conseguiu?
CM: Acho que nunca estive em melhor forma. Comecei a fazer exercício por conta desse desafio há três, quatro anos, e não parei mais.
TV: O que falta a você hoje?
CM: O processo de negociação. O Marcos é meu professor. Eu falo para as minhas amigas: onde tem um bom negócio, lá estarei eu. Uma business woman, é a marca que quero criar.
TV: Você se considera famosa?
CM: Famosa não, mas conhecida. Em vários lugares que chego, as pessoas pedem para tirar foto, dizem que acompanharam o processo com meu marido, que oraram pela gente.
TV: Gosta disso?
CM: Não me incomoda, mas não faço questão. Hoje, estou aprimorando a minha rede de relacionamentos, sou forte no Instagram. Antes, era mais uma coisa para dividir com amigos, hoje me preocupo em falar algo que possa influenciar alguém.
TV: Como é circular com gente famosa, viajar com eles, aparecer no jornal?
CM: Se tornou uma coisa comum. No começo, eu era fã, depois acontece de estar em uma roda, conhecer e virar amigo. Acaba criando mais impacto nos outros do que na gente.
TV: Por que você acha que tem tanta gente infeliz hoje?
CM: Digo que é um vazio que a pessoa sente. E falta de se conhecer. Quando a gente se conhece, sabe o que falta para preencher esse vazio. Quando tive depressão, achava um absurdo ter que tomar remédio. Eu pensava: “poxa, mas tenho uma família ótima, não perdi ninguém, por que isso está acontecendo?”. Quando aceitei que era uma doença, foi mais tranquilo. Mas demorei para aceitar, eu não me permitia estar com essa doença. Passei por um tratamento e hoje não tomo mais nenhum comprimido, o que foi uma libertação.
TV: Você teve que chegar ao fundo do poço para reconhecer que precisava de ajuda?
CM: Sim. No sentido de ter a minha família maravilhosa e não querer estar junto. De querer me isolar, ficar em um spa, longe. Quando vi que não queria ficar com as pessoas que mais amo na vida, percebi a gravidade.
TV: Como influencer, você tenta falar sobre saúde mental?
CM: Sempre que tenho oportunidade, relato o que aconteceu comigo. Quanto mais falado for, menos gente vai passar por isso, de se sentir sozinho, sem esperança. A gente vê pessoas que chegam ao ponto de cometer suicídio porque, às vezes, não tiveram um exemplo. Elas podem me ver e pensar: “a Cintia já teve, ela conseguiu superar, então eu posso me permitir ter essa doença, me tratar”.
TV: É a sua missão hoje?
CM: Uma delas. Poder falar sobre isso, poder expor. A outra é cuidar da minha família.
TV: Onde buscar felicidade no mundo, hoje?
CM: Quando a gente descobre valores essenciais para a nossa vida, já andou mais de 50%. Os outros 50% é se dedicar a eles.
TV: Você se preocupa com a imagem que passa, em um mundo em que reputações são destruídas rapidamente por um deslize nas redes sociais?
CM: Quando tive os problemas em casa, eu às vezes desabafava na internet, mostrava a realidade. Acho que as pessoas criaram uma empatia com isso. Mostrando que sou descuidada, que tenho problemas, acho que não corro tanto esse risco. As pessoas gostam do que é de verdade.
*Matéria escrita por Amanda Audi e publicada originalmente na edição impressa número 17 do TOPVIEW Journal, novembro de 2017.
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