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Champagne: o rei dos vinhos, e o vinho dos reis

Entrevista exclusiva com Vic Sarro, Brand Ambassador das Maisons Perrier-Jouët e Gh Mumm

Quarta-feira, dia 28 de outubro, é tradicionalmente celebrado o Dia Internacional do Champagne. Este ano, a comemoração foi adiantada alguns dias e iniciou no dia 23. Para os fãs desta refinada bebida, nada mais justo. Afinal, apenas um dia é muito pouco para brindar aquele que costuma ser qualificado como o “rei dos vinhos, e o vinho dos reis”. 

Inspirada pela data, a coluna traz uma entrevista exclusiva com uma especialista no assunto, Vic Sarro, Brand Ambassador de duas das mais prestigiadas maisons produtoras de champagne, a Perrier-Jouët e a Gh Mumm. Estas duas marcas contam com uma nova opção de compra em Curitiba: a distribuidora de bebidas premium Jigger Spirits já está com rótulos disponíveis na sua loja virtual e também as comercializa para restaurantes, empórios e adegas.   

O champagne se transformou no vinho que mais se identifica com conceitos de exclusividade, conquistas e sofisticação. Como foi esta trajetória e porque, na sua opinião, a bebida atingiu este patamar? 

VS: Há diversas razões para o champagne se apresentar e se identificar com conceitos de prestígio, e estar presente em tantos momentos celebrativos, pelo mundo. Começando pelo fato de que nem tudo que tem borbulha é champagne… sua história com exclusividade e raridade se inicia na limitação de produção (origem controlada), método e terroir

Além disso, há alguns fatos histórico, que contribuiram para o Champagne ser considerado o Rei dos Vinhos, e o Vinho dos Reis. A partir do século XI, por exemplo, os reis franceses passaram a ser coroados na catedral de Reims, coração da região de Champagne, e a festa de coroação era regada a champagne. 

Devido à finesse e a sofistação desse espumante, além de seu alto preço e exclusividade, ele passou a ser muito valorizado e procurado pela realeza. 

A história da Maison Perrier-Jouët, por exemplo, acampanhou e acompanha de perto grandes nomes da realeza. Entre eles a Rainha Vitoria, Grace Kelly e seu filho Alberto II, que escollheu Perrier-Jouët para ser servido em seu casamento com Charlene, em 2011.

Em 1970, Grace Kelly fez de Perrier-Jouët seu champanhe favorito e concedeu à empresa o privilégio de patrocinar o famoso Baile ‘Rose Ball’ em Mônaco.

Dificil identificar um momento historico de celebração e sofisticação no qual o champagne não esteve presente. E, com o passar dos anos, o Champagne tem feito parte também do dia a dia dos amantes de vinho e gastronomia. Não precisamos mais aguardar uma grande comemoração, para brindar com Champagne.

Quais são os tipos de Champagne e o que os difere?

Um Champagne pode ser classificado de acordo com 3 principais parâmetros:

  • UVA: 

Blanc de Blancs: 100% Chardonnay

Blanc de Noirs: apenas Pinot Noir e/ou Pinot Meunier

Rosé: blended (“rosé d’assemblage”) ou macerated (“rosé de saignée”)

 

  • AÇÚCAR:

Brut:  Menos de 12g de açucar por litro

Extra dry:  12-17g de açucar por litro

Demi-Sec:  32-50g de açucar por litro

Outros:  Sweet, Sec, Extra Brut, Brut Nature.

  • VINTAGE ou NON VINTAGE:

Vintage ou safrado: só feito em anos excepcionais. Uma expressão máxima de um ano em específico, que se mostrou “fora da curva” em termos de terroir. 

Non vintage ou não safrado: produzido todos os anos, com as 3 principais uvas da região de champagne, de diversos anos. 

Os Champagnes Brut tem uma origem ligada a Perrier-Jouët, não é mesmo?

Sim! A Maison Perrier-Jouët foi a pioneira na técnica de redução de açúcar em champagne. Até então, todos os champagnes eram super adocicados e só harmonizavam com sobremesa. Até que a Maison, após uma demanda inglesa, criou o CUVÉÉ K, o primeiro com redução de acucar. Nascia assim o eternizado e famoso Perrier-Jouët Grand Brut de 1856.

Certos champagnes não tem safra impressa no rótulo, enquanto outros possuem esta informação. Por que isso ocorre e quais as diferenças?

Um champagne pode ser safrado ou não. Os não safrados, não possuem um ano de safra especifico, são feitos a partir das 3 uvas principais da região de champagne (Pinot Noir, Menuier e Chardonnay), vindas de diversos anos. É um “blend” de safras. Já os safrados são champagnes produzidos apenas com uvas de um único ano, mas não qualquer ano… um ano excepcional, na visão e experiência do Chef de Cave, de cada Maison da região.

Champagnes não safrados são produzidos todos os anos. Já os vintages ou safrados, apenas em anos excepcionais, em termos de clima e terroir. São eles mais raros, produzidos em menor escala e seu “sono de beleza” (tempo de guarda em cave) é bem maior.

Qual a temperatura ideal para servir o champagne? 

O Brasileiro possui o hábito de degustar bebidas extremamente geladas. Esse hábito precisa ser ponderado quando o assunto é champagne. Quanto mais gelado seu vinho, menos percepção aromática e no paladar você terá. 

A temperatura ideal varia sim, conforme o champagne. Minha sugestão, para rótulos não safrados é de 7 a 9 graus, e para os safrados, de 10 a 12 graus. 

E sobre as taças? Qual você recomenda para o Champagne? Quais os prós e os contras dos tipos de taças?

Cada taça irá lhe entregar um ou mais atributos do Champagne. A pergunta sobre a taça ideal, começa por se perguntar “O que eu mais quero valorizar nesse Champagne?”. A partir daí teremos a resposta da taça ideal para aquele champagne em especifico. 

A taça flûte, por exemplo, conhecida no Brasil como a taça de champagne, está cada vez menos presente na mesa do consumidor de espumantes. É uma ótima taça para se apreciar a perlage do champagne, porém seus benefícios param por aí. Em evolução a essa taça, temos a taça “tulipa” crescendo sua presença e se mostrando tão charmosa quanto a flûte, porém sua abertura estreita permite que o vinho respire e sua complexidade e riqueza ali apareçam.

Não podemos deixar de mencionar a taça de vinho branco, que é super versátil e funciona como um coringa para a degustação de borbulhas, permitindo que os aromas se expressem de forma abundante e “descomplicando” o consumo de champagne, hábito esse que sou super a favor. 

Como o Champagne se sai em harmonizações? 

Seja qual for sua pergunta sobre harmonização ideal, eu diria que 99% das respostas poderá ser respondida com “champagne”. Extremamente curinga – e, claro, muito sofisticado -, o champagne é super gastronômico e performa muito bem à mesa, do inicio ao fim. Se um vinho branco é leve demais para uma carne vermelha, e um tinto, muito intenso para uma saladinha de entrada, vá de champagne! O champagne é a única categoria versátil o suficiente para acompanhar diversas linhas gastronômicas, e descomplicar (sem perder requinte) sua experiência à mesa. 

Isso se dá devido a acidez do champagne, responsável por limpar seu paladar e transformar cada garfada em uma nova experiência. Sem pesar e de forma equilibrada, também possui a função de aumentar a salivação e potencializar os sabores. Funciona muito bem com fritura, por exemplo, limpando e estimulando seu paladar.  

Isso não se resumo ao universo da gastronomia, mas pode ser também ser levado em consideração, por exemplo, com charutos. Uma combinação inesperada que irá te surpreender. Cada baforada, uma nova experiência, quando harmonizada com champagne. 

Vic Sarro (Foto: divulgação)

Os rosés crescem muito na preferência dos brasileiros, mas ainda são menos consumidos. Quais os mitos que ainda cercam os rosés, em especial os champagnes?

O rosé é uma das categorias que mais cresceu nos últimos anos, e claro, o champagne “surfa essa onda”. Claramente observamos as grandes Maisons da região, reagindo a essa tendência, aumentando sua variedade de rosés ou mesmo dando maior visibilidade a essa categoria. O crescimento de rosé é relevante não só no Brasil e precisa ser levado a sério. Falando em levar a sério… esse é um estilo de vinho que por muitos anos, não foi levado muito a sério, por especialistas e sommeliers. Não era a primeira, nem a segunda opção dos grandes entendedores do mercado, e passou a ser o queridinho, principalmente da geração Y: maiores consumidores globais de vinhos e espumantes rosés

De acordo com dados da Ideal Consulting, entre 2014 e 2018, o consumo de vinho rosé aumentou de um milhão de litros para mais de cinco milhões – um aumento de 278%; sendo 40% somente em 2018.

Apesar do rosé ainda não ser a categoria mais consumida no Brasil, estamos entre os 20 países que mais o consomem, e ao meu ver, esse número só tende a crescer. Acredito que esse sucesso se dá ao fato do Rosé ser o mais gastronômico dos champagnes, e também é impactante no visual e no paladar. Também não podemos deixar de mencionar a estética romântica que o cerca, e a sua essência alegre e jovial. Além disso tudo, é uma categoria autônoma. Não está necessariamente competindo com o champanhe tradicional e não precisa mais ser verão para o Rosé estar em alta. Ele é bem vindo o ano todo!

Um dos fatores que pode barrar a velocidade de seu crescimento no Brasil, é o valor. Rosé é normalmente mais caro que o branco, devido sua complexidade de produção. 

A Maison Perrier-Jouët tem uma identificação muito grande com a arte, não é mesmo? Poderia falar um pouco sobre isso?

A Maison Perrier-Jouët surgiu do amor entre um jovem casal por champagne, por arte e um pelo outro, em 1811. Mesmo após mais de 200 anos de história, a ligação entre arte e a Maison só cresce.

O início dessa ligação se dá com a garrafa Belle Epoque, simbolo da Maison e uma verdadeira obra de arte viva. É a moldura dos nossos vinhos safrados, e só feitos em anos excepcionais. Em 1902, o artista e mestre Emile Gallé cria a icônica anêmona envolta em ouro, que seria escolhida posteriormente como a obra de arte que engarrafou a Perrier-Jouët Belle Epoque da safra 1964. Assim se inicia a história da Maison com arte e que até hoje se desmenbra em diversas colaborações com artistas renomados globalmente. Inclusive o incrível Vik Muniz já realizou sua colaboração artistica conosco, e em 2005 assinou uma editação limitada de 240 garrafas. 

 A pandemia afetou muito o consumo do Champagne? 

A pandemia modificou o consumo, valores, e a forma de se pensar de tudo e todos, ao meu ver. Inclusive o consumo de cultura, de gastronomia, de entretenimento… e claro, de champagne também. O hábito não deixa de existir, ele se modifica e se adapta… O consumo em casa, de forma mais introspectiva, cresceu muito. Consumidores que já possuíam interesse na categoria, tiveram mais tempo para aprender sobre a ela, consumiram mais conteúdo e fizeram cursos sobre o tema. Agora temos consumidores ainda mais exigentes e com sede de novidades.    

Que mensagem você poderia deixar para quem pretende celebrar 2021 com Champagne? Esta incrível bebida pode nos ajudar neste momento tão difícil por causa da pandemia? 

Napoleão Bonaparte dizia sobre o Champagne: ”nas vitórias é merecido, nas derrotas é necessário”

Além de concordar com essa frase de Napoleão, sou da ideia de não precisarmos aguardar uma ocasião especial para degustar um bom vinho, ou champagne. A jornada é tão, ou mais, importante que a linha de chegada. Champagne é um vinho com alma, uma alma celebrativa e alegre… a vida já esta bem complicada e instável, e eu os convido para um momento de leveza e prazer, com uma taça de champagne em mãos. Momento esse que não necessariamente precisa ser sobre festividade, mas também pode ser introspectivo e reflexivo. Há algo de muito especial em um bom champagne, e seu momento íntimo com ele. A arte de degusta pode e irá te levar para longe. Assim como um bom livro, um filme…. acrescente champagne nessa sua lista de prazeres e hábitos. 

Mas claro, a chegada de 2021 está aí e um belo brinde em grupo, com amigos e familiares, olho no olho e com sorrisão, é mais do que bem vindo. Aproveitem o requinte do champagne, para entrar nesse novo ano, degustando o Rei dos Vinhos e o Vinho dos Reis. 

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