ESTILO

Saiba qual o papel das cidades e edificações na era digital

É preciso discutir o futuro da arquitetura em um contexto de profundas mudanças sociais, rápida transformação digital e escassez de recursos naturais

Arquitetura: do grego “Arché”, significa um elemento primordial, que serviria de ponto de partida para todo o processo de criação dos seres naturais. “Arché” é a fonte da qual deriva todo o resto.

A arquitetura tem em sua gênese a idealização e a criação de realidades mais amenas, que facilitem o desempenho das atividades humanas. Ser arquiteto é dotar a ciência de intencionalidade estética, criando abrigo para qualquer função com emoção e racionalidade. Por meio da arquitetura, podemos pincelar o tempo com as tintas de uma cultura e da tecnologia, concretizando sonhos e materializando comportamentos, transformando problemas em soluções e viabilizando uma existência melhor na terra.

E se deixamos no passado aquela arquitetura anacrônica de neologismos construídos, de pastiches tridimensionais efêmeros e ultrapassados neoclassicismos – que jamais mostraram qualquer referência à história ou anseios do nosso país –, resta-nos agora discutir o futuro da arquitetura em um contexto de profundas mudanças sociais, rápida transformação digital e escassez de recursos naturais.

Um ótimo exercício para se preparar para o futuro é fazer projeções para nos precavermos de problemas e abraçar oportunidades. São vastas as pesquisas e dados fornecidos por diversos órgãos, como a ONU, contendo projeções demográficas, etárias, energéticas, urbanas e profissionais, que formam uma valiosa fonte de informação para embasar decisões da esfera pública, para nortear investidores da iniciativa privada e auxiliar profissionais liberais.

A partir desses dados, sabemos que nossa população poderá dobrar de tamanho, que nossas cidades incharão e precisarão se adensar para receber os novos moradores. Diante desse cenário, teremos qual modelo de urbanização? Nos espalharemos ainda mais, devorando os poucos recursos naturais que nos rodeiam ou verticalizaremos nossas cidades em um modelo sustentável?

“Por meio da arquitetura, podemos pincelar o tempo com as tintas de uma cultura e da tecnologia (…)”

Viveremos mais e nossa pirâmide etária assumirá o aspecto de um cilindro. Nossa expectativa de vida superará os 80 anos e a população acima dos 100 anos crescerá 50 vezes, superando 26 milhões de pessoas. De que maneira estamos nos preparando para ter uma porcentagem tão alta de idosos? Como serão nossos espaços públicos, nossas calçadas e praças? Quais serão as adaptações necessárias à arquitetura para atender uma população com restrições de mobilidade?

Nos últimos cinco anos, a energia proveniente de recursos renováveis cresceu sete vezes. No ano de 2100, o planeta não será mais movido por combustíveis fósseis. Qual será o impacto formal em nossas casas e edifícios para empregar essas novas tecnologias?

Inteligência artificial já é uma realidade e haverá mudanças drásticas no mercado de trabalho. Profissões com tarefas mecânicas e repetitivas vão desaparecer. Contadores, taxistas e cirurgiões serão substituídos por robôs de alta performance. Profissionais das áreas criativas e artísticas serão poupados. Como o mercado, as escolas e as universidades estão se preparando? Qual será o reflexo nos ambientes de trabalho com a crescente digitalização laboral?

O comércio online já representa quase 10% das vendas totais nos Estados Unidos. Até 2021, esse número deve dobrar, colocando em risco a viabilidade das lojas de rua. Qual será o impacto do e-commerce nas nossas cidades se todo comércio for realizado virtualmente?

Os desafios acima apresentados parecem uma tarefa hercúlea para ser solucionada, mas pesquisando e conhecendo bons exemplos ao redor do mundo, podemos encontrar a resposta para algumas dessas perguntas.

Cidades compactas, como Barcelona e Cingapura, emitem menos carbono, pois oferecem melhor acesso ao transporte público, incentivam percursos a pé, têm menor impacto ambiental na implantação de infraestrutura urbana e ainda liberam mais espaço para parques e praças.

A prefeitura de Copenhagen realiza workshops e oficinas envolvendo arquitetos e idosos para discutir e projetar espaços públicos adequados para essa parcela da população. A capital dinamarquesa é líder em qualidade urbana e sempre está no topo da lista das melhores cidades para se viver.

Nos Estados Unidos, a Tesla já está comercializando telhas com células fotovoltaicas geradoras de energia a preços competitivos. O novo produto do visionário Elon Musk promete revolucionar a arquitetura residencial em todo o mundo.

A prefeitura de Londres entendeu que a vida nas ruas e a qualidade urbana dependem do comércio e das lojas. Para competir com o varejo online, a capital britânica investiu pesado em bons projetos de revitalização que propuseram o uso misto, a instalação de equipamentos culturais e trouxeram conforto e segurança aos seus usuários. Após 10 anos de contínuo declínio nas vendas, os números de 2018 reverteram a tendência de queda.

E qual será a nossa postura frente a transformações e dados tão relevantes? Vamos adotar a negação e o saudosismo para continuar na rabeira do desenvolvimento ou vamos ajustar o prumo, farejar oportunidades e nos preparar para futuro?

Por Jorge Elmor

Jorge Elmor formou-se em Arquitetura e Urbanismo, em 2003, pela Universidade Federal do Paraná. Durante o curso, estudou alguns meses na Universidade de Okayama, Japão, país famoso por aliar tradição e modernidade. Em 2003, teve a oportunidade de trabalhar – e aprender – na cidade de Valência, Espanha. Entre 2004 e 2005, o arquiteto trabalhou no Studio Albertoni, em Viena, Áustria. Foi na capital austríaca que Elmor titulouse Mestre em Estruturas de Madeira, estudando na Universidade Técnica de Viena, onde foi aluno de dois dos maiores especialistas da atualidade no assunto: Wolfgang Winter e Julius Naterer. Reconhecido pelos projetos sustentáveis, Elmor realiza também um trabalho sensorial, voltado para ressaltar a personalidade de cada cliente.

*Carta editorial escrita por Jorge Elmor e originalmente publicada na edição 227 da revista TOPVIEW.

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