CULTURA ARTES

Bienal de Curitiba vai homenagear a China

Entre as novidades para 2017 está ainda a criação de um conselho curatorial formado por profissionais brasileiros e estrangeiros

A Bienal de Curitiba, que nasceu com foco na arte latino-americana e foi ampliando seu escopo ao longo de 14 anos, agora cruza o mundo para homenagear a China. A parceria para a edição de 2017 do evento, que abre em 30/9 e segue até fevereiro do ano que vem, foi oficializada na última quarta-feira (22), na sede do Ministério da Cultura. Participaram do encontro o vice-ministro da Cultura da China, Yang Zhijin; o ministro da Cultura brasileiro, Roberto Freire; a presidente e o diretor-geral da Bienal de Curitiba, Luciana Casagrande Pereira e Luiz Ernesto Pereira; o secretário da Cultura do Paraná, João Luiz Fiani; e a diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika.

Segundo Luiz Ernesto Pereira, o sucesso entre o público e o fortalecimento da arte chinesa contemporânea no cenário global contribuíram para a escolha. “As obras e os artistas chineses, durante as edições, têm despertado imenso interesse do público, de especialistas e da imprensa”, afirma Pereira, destacando o sucesso de uma instalação do artista, ativista social e crítico do governo chinês Ai Weiwei em 2013. “[Além da] cultura milenar chinesa, a produção de artistas contemporâneos vem ganhando visibilidade e integra coleções dos museus mais renomados do planeta.”

O país asiático também terá destaque no Festival de Cinema e na Curitiba Literária, eventos que somam outras linguagens à Bienal, por meio de uma retrospectiva de um cineasta e homenagem a um escritor chinês, a serem definidos. Seguem à frente da curadoria de cinema Paulo Camargo e Denize Araujo, e Rogério Pereira em literatura.

 

O secretário da Cultura do Paraná, João Luiz Fiani; o vice-ministro da Cultura da China; a diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika; e o diretor-geral da Bienal de Curitiba, Luis Ernesto Pereira, em reunião no Ministério da Cultura que oficializou a homenagem à China.
O secretário da Cultura do Paraná, João Luiz Fiani; o vice-ministro da Cultura da China, Yang Zhijin; a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika; e o diretor-geral da Bienal de Curitiba, Luiz Ernesto Pereira, em reunião no Ministério da Cultura que oficializou a homenagem à China. (Foto: Divulgação)

 

Outra novidade é a criação de uma equipe de curadores, em substituição à figura de um único curador. O time será anunciado em breve, bem como o conceito do evento e artistas já confirmados, mas a organização adiantou à Top View os nomes de alguns curadores: o paraguaio Ticio Escobar, que neste ano também representa o Chile como curador na Bienal de Veneza; Llilian Llanes, diretora-geral da Bienal Internacional de Havana; Iatã Cannabrava, fotógrafo e ex-organizador do Paraty Em Foco; e Tereza de Arruda, curadora independente brasileira radicada em Berlim. A decisão de dividir o trabalho curatorial se dá, segundo a instituição, pela sua dimensão: em 2015, ela ocorreu em mais de 100 pontos da cidade.

O lugar da política


Essa é a primeira vez que um país é homenageado pela Bienal, que até então garantia o posto para artistas — Julio Le Parc, no caso da última edição. A China ocupará o espaço de honra do evento, o Olho do Museu Oscar Niemeyer, com seus “melhores e mais famosos artistas” — seleção que está a cargo do próprio país asiático. Sem espaço para Ai Weiwei, que já foi preso e censurado pela República Popular da China, então, ainda que seja um dos artistas mais célebres no mundo? Pereira refuta essa relação e justifica a ausência de Ai pela sua participação prévia.

“A ideia é evitar repetição e mostrar artistas estrangeiros que não tenham exibido seu trabalho em Curitiba”, explica, ressaltando que a Bienal é uma instituição apolítica e apartidária. “Não cabe à Bienal divergir dessa ou daquela atitude desse ou daquele país. É uma bienal de arte contemporânea que não se mete em questões políticas“, afirma o diretor-presidente da instituição, assegurando que tal posicionamento não envolve a curadoria e obras que podem vir a ser apresentadas: “Naturalmente os artistas e curadores abordam essas questões, porque a Bienal sempre é reflexo do que está acontecendo naquele momento. Os artistas têm liberdade absoluta, juntamente com os curadores, de abordar o que está acontecendo. (…) Mas aí é uma iniciativa dos artistas e dos curadores”.

 

Crise econômica
Diante do cancelamento da Oficina de Música, da diminuição de recursos para as escolas de samba neste Carnaval e da paralisação temporária do Balé do Teatro Guaíra e da Orquestra Sinfônica do Paraná, em âmbito municipal e estadual, é inevitável pensar em como as dificuldades econômicas vão influenciar a próxima edição da Bienal de Curitiba.

Seu diretor-geral reconhece que ela será “um pouco menor”, sem especificar quanto. “A Bienal está sendo realizada dentro da possibilidades e limites impostos pela situação”, situa Luiz Ernesto Pereira. Nesse cenário, ele destaca a cooperação dos países cujos artistas vão participar da programação, que devem arcar com custos como transporte de obras e passagem aérea dos integrantes. “Essa sinergia, esse esforço gigantesco de instituições brasileiras e estrangeiras é  que vai tornar possível mais uma edição da Bienal.”

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