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A ressignificação de móveis e objetos decorativos faz parte de uma forte e importante economia circular

“Ressignificar”. A palavra do momento não vem só para fazer parte da moda ou de um pequeno diálogo, mas, também, para concretizar uma mudança cultural e econômica. Quando o assunto é ressignificar coisas, esse conceito se torna ainda mais importante, afinal, ele contribui com uma economia circular, que associa o desenvolvimento econômico com o melhor (re)uso dos objetos.

A loja da Coisas de Família fica localizada no bairro São Francisco. - objeto de upcycling
A loja da Coisas de Família fica localizada no bairro São Francisco (Foto: divulgação)

Dar um novo conceito às coisas não é algo tão recente. No entanto, o movimento ganhou ainda mais visibilidade nos últimos anos, quando a sustentabilidade começou a ser discutida com mais intensidade.

Além do ganho ambiental, ressignificar peças já existentes, restaurá-las ou criar novos objetos a partir de descartes
industriais pode render uma decoração única e cheia de conceitos. Afinal, quem poderia imaginar que chapas de
contêineres marítimos poderiam virar um armário único para a sala de estar?

Poltrona Paulistana da loja Desmobilia tendência upcycling
Poltrona Paulistana da loja Desmobilia (Foto: divulgação)

A Emobilia Store, espaço upcycled de móveis, usa sobras de recortes dessas chapas de aço para desenvolver móveis e objetos. Engenheiros por formação, o casal Andrea Chaves e Leonardo Mattos explica que, ao resgatar a chapa, o material é recortado e tratado.

Isso ocorre porque ele pode estar amassado e com a pintura deteriorada após o translado. Com um número significativo de clientes em Curitiba e na região portuária de Santa Catarina – além de outras regiões do Brasil –, a dupla homenageou portos que possuem grande movimentação de contêineres com uma cor e uma coordenada geográfica na sua última coleção. “Nós associamos uma cor a cada porto específico e registramos os números da coordenada do local desse porto no móvel”, conta a empresária.

Os móveis de Cristiano Ross são do perío - do modernista brasileiro.
Os móveis de Cristiano Ross são do perío – do modernista brasileiro (Foto: divulgação)

Porém, apesar produzir peças únicas, o upcycling é importante também porque gera uma economia circular, devolvendo um material que seria descartado novamente para o mercado. “Se esse material não fosse usado para fabricação, ele seria vendido com preço de ferro-velho, causando o que chamamos de downcycling. Assim, nós estamos agregando valor a ele”, explica Chaves.

Além do upcycling, outra forma de ressignificar móveis é a venda de antiguidades. O mercado também não é nenhuma revolução no setor. No entanto, segundo o antiquário Cristiano Ross, suas vendas têm crescido principalmente para clientes internacionais – além dos compradores nacionais.

“Nós trabalhamos com móveis originais do período moderno brasileiro. Então, garimpamos esses objetos originais e, se preciso, fazemos restauração, mas sempre mantendo a originalidade do produto”, afirma Ross.

(Foto: divulgação)

Ross explica, no entanto, o quão complexo é seu trabalho. “Nós não mudamos nada, respeitamos as características originais da peça. Isso traz uma grande dificuldade, porque, por exemplo, trabalhamos com muitos móveis de Jacarandá, uma madeira de comércio proibido hoje em dia. Por isso, precisamos garimpar outros móveis com esse material para conseguir fazer a restauração”, detalha o antiquário.

Além de também reforçar a ideia de uma economia circular, ele ainda fala sobre a arte do design. “O design original é uma obra de arte. Afinal, esses móveis são vendidos hoje em galerias e feiras internacionais de arte. Sem contar a  memória afetiva. Já pensou ter em sua sala a mesma poltrona que tinha no Palácio Itamaraty?”, propõe.

HERANÇA DE FAMÍLIA

História e coisas de família. Esses são conceitos que estão sendo levados em  consideração pelos jovens no momento
de decorar uma casa, segundo Thereza Valente, proprietária da Coisas de Família, loja com objetos de decoração que
foram passados de geração em geração.

“Muitos jovens têm feito essa mistura de peças antigas e vintages com outras mais modernas. Muitos deles também têm seguido o conceito de sustentabilidade”, afirma a empresária.

O trabalho de Thereza, além de reforçar a ideia de reutilização de peças, também está carregado de memória afetiva. Quando conseguiu expor na CASACOR Paraná, em 2021, a proprietária disse que muitas pessoas que entraram na loja chegaram a chorar de emoção. “Eles disseram que muitas peças lembravam a casa de seus avós e se emocionaram quando viram. Ainda mais em uma época pandêmica, em que muitas pessoas perderam seus entes queridos”, reforçou a proprietária.

Por fim, ela defende o uso de peças antigas, reforçando a história por trás de todos os objetos e a qualidade com que eles foram feitos. “Tudo tem sua história. O que temos hoje é diferente. A qualidade dos produtos é diferente. O preço pode ser bom, mas muitas coisas não são duráveis”, conclui.

 

*Matéria originalmente publicada na edição #264 da revista TOPVIEW.

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