ESTILO ARQUITETURA & DECORAçãO

Diretamente dos Países Baixos, os novos talentos do design criativo

A escola holandesa vem inundando o mundo com um estilo de design autêntico e ousado na medida certa

Nada da extravagância italiana, do comedimento escandinavo ou da racionalidade francesa. O que caracteriza o design contemporâneo holandês – que vem ganhando o mundo nas últimas décadas – parece ser uma mistura muito bem equilibrada entre alta carga artística, irreverência e uma dose cavalar de ironia.

Como toda tendência europeia, a base intelectual desse movimento está numa grande universidade. A Design Academy de Eindhoven, 120 quilômetros ao sul de Amsterdã, é a principal escola de arte, design e arquitetura da Holanda. Não é de estranhar que tenha sido lá que alguns brilhantes alunos começaram a rascunhar o que viria a ser uma revolução para o segmento de interiores: o nascimento da Droog.

Fundada em 1993 pelo designer Gijs Bakker e a historiadora Remy Ramakers, a marca de peças de mobiliário, iluminação e acessórios surgiu como um coletivo de 14 designers cujos trabalhos foram apresentados no Salão de Milão daquele ano. Sob a alcunha Droog Design – termo que em holandês indica um humor seco, irônico – eles queriam chacoalhar os conceitos, técnicas e formas aplicados até então à concepção e produção de artigos para as casas.

Entre as peças apresentadas estavam o lustre 85 Lamps, formado por um grupo de lâmpadas convencionais presas entre si, concebido por Rody Graumans, e a cômoda Chest of Drawers, construída com duas dezenas de gavetas amarradas por uma larga cinta de couro, fruto da imaginação do designer Tejo Remy. O impacto foi imediato. Do dia para a noite, a Holanda passou a figurar no mapa do design internacional.

Elevadas ao posto de ícones dos anos 90 – chegando inclusive a integrar as coleções do Museu de Design de Londres e do MoMa (NY) – essas peças abriram as portas para uma turma de novos talentos. Descubra a seguir quem são as mentes por trás do renomado design made in Holland.

Maarten Baas

Apesar de nascido na Alemanha, Baas foi criado na Holanda, para onde mudou com apenas um ano de idade. Formado pela Design Academy, em 2002, seu trabalho de graduação, chamado Smoke, chamou a atenção dos críticos pelo seu método de produção: para obter a aparência orgânica e disforme que caracteriza essa série, ele ateou fogo às peças modeladas em resina epóxi. Desde 2005, o designer trabalha em colaboração com Bas den Herder, responsável pela comercialização de suas peças. Em ateliê no interior do país, ele cria linhas comerciais para editoras de grande porte, como a Moooi e a Droog, e produz séries exclusivas para hotéis, restaurantes, galerias e museus em todo o mundo. Em 2011, ele ganhou uma exposição no Museu de Artes Decorativas de Paris.

Hella Jongerius

Também formada pela academia de Eindhoven, em 1993, Hella fez parte do grupo de designers a integrar o coletivo Droog Design, que deu início à famosa marca. Na ocasião, ela apresentou a irreverente pia feita de borracha Soft Washbowl, ideal para áreas pequenas e para quem não quer correr o risco de cair e bater a cabeça. Com o tempo, o humor deu lugar à versatilidade e seu trabalho passou a ganhar o hall de hotéis e ambientes corporativos importantes, como o lounge para as delegações dos Países do Norte, no prédio das Nações Unidas, em Nova York. A escrivaninha Sphere Table é uma entre as peças desse projeto que ganharam produção industrial. Fabricada pela alemã Vitra, a bolha de acrílico que serve de divisória pode ser conectada a qualquer um dos cantos da mesa.

 

Piet Hein Eek Winkel

Colega de faculdade de Hella Jongerius, Piet Hein transforma materiais normalmente rejeitados, como sobras de madeira e alumínio, portas antigas e esquadrias de janelas em móveis, luminárias e acessórios exclusivos e cheios de personalidade. O mais regional entre os designers de sua geração, suas peças são produzidas em pequena escala e não raramente esculpidas por ele mesmo em sua oficina, em Eindhoven. A linha Crisis, composta por armários, cadeiras e mesas utiliza folhas de compensado sem acabamento e faz uma irônica crítica à crise econômica de 2008. Hoje, é vendida em galerias de design em todo o mundo. Nada mal para um visionário que conquistou fama em 1990, quando apresentou uma série de armários feitos de aparas de madeira como projeto de conclusão de curso.

Studio Makkink & Bey

Trabalhando juntos desde 2002, o designer Jurgen Bey, um dos nomes mais importantes do país, e a arquiteta Rianne Makkink já desenvolveram inúmeras peças para a Droog. A mais famosa delas é o banco Tree-trunk bench. Da peça, que coloca em evidência a relação do design com a natureza, apenas os encostos das cadeiras, feitos em bronze, são produzidos em série e vendidos. O discurso ético da dupla aparece também na coleção Kokon Furniture, na qual cadeiras e mesas já existentes recebem uma camada de fibra sintética. Essa cobertura elástica e agradável ao toque une as partes usadas, formando novas peças multifuncionais. Apenas 12 unidades foram produzidas – o que explica a astronômica cifra de 19.900 euros cobrada por cada uma delas (e vendidas pela Droog, claro).

Kiki van Eijk

À primeira vista, as criações de traços leves e suaves, marcadas pelas formas lúdicas e o uso de cores delicadas de Kiki van Eijk parecem contrastar com aquela dos seus conterrâneos. Um olhar mais atento, porém, mostra que a essência contestadora da escola de Eindhoven também se faz presente. Especialmente nos móveis multifuncionais, carregados de conteúdo nostálgico, nos quais a artista aplica técnicas antigas de marcenaria, tapeçaria e cerâmica para produzir coleções em série. No armário Sewing Box, por exemplo, o mecanismo de abertura imita aquele das caixas de costura de madeira. Para realizar o relógio Soft Clock para a Moooi, foi confeccionado um modelo de tecido à mão, que serviu de molde para a peça de cerâmica.

 

Marcel Wanders

O estilo limpo caracteriza as obras de Wanders, no qual se percebe a economia dos detalhes em detrimento da valorização das formas e materiais, quase sempre propondo uma brincadeira com o arquétipo das peças mobiliárias. Certamente o mais famoso nome desta geração de designers holandeses, ele ganhou reconhecimento internacional com a cadeira Knotted, produzida pela Droog em 1996. Depois, seguiram-se produções exclusivas para algumas das principais marcas de móveis e luminárias da atualidade, como a Flos, a Alessi, a Cappellini e a Moroso, entre outras, até assumir o cargo de diretor criativo da Moooi, em 2001. Fundada por ele, a marca de móveis é hoje responsável pela criação de algumas das peças mais irreverentes e polêmicas do design mundial.

MAPA DA MINA

Veja onde achar, em Amsterdã, as peças dos designers citados na reportagem.

Moooi
Com nada menos que 850 m de área, o showroom da marca apresenta móveis, objetos de decoração e acessórios assinados por talentos holandeses, e também nomes da cena internacional, como Jaime Hayon e Neri & Hu. www.moooi.com

Frozen Fountain
A loja deseja oferecer a mais completa amostra da criação na área do design do país. Além de móveis e luminárias, abre espaço para uma ampla seleção de tecidos e cerâmicas. www.frozenfountain.nl

Droog
Misto de loja e galeria, o endereço ainda sedia um charmoso café e um hotel totalmente decorado e equipado com as criações da marca. Por lá, também costumam acontecer workshops, seminários e exposições. www.droog.com

*Matéria publicada por Fernanda Peruzzo, de Amsterdã, originalmente na edição 160 da revista TOPVIEW.

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