O essencial curitibano
O mercado imobiliário de Curitiba sofisticou-se e redescobriu que edifícios bem projetados encontram uma clientela mais exigente e melhor informada, preocupada não apenas com as suas unidades, mas também com o impacto positivo que a boa arquitetura causa nas nossas cidades, em um pensamento menos individual e mais coletivo.
Em 2005, surgiu em São Paulo a Idea!Zarvos, incorporadora responsável pela revalorização da arquitetura nos empreendimentos imobiliários, lançando no mercado edifícios que logo se tornaram cult entre as parcelas mais descoladas e informadas da sociedade e rapidamente projetaram a incorporadora nacional e internacionalmente. Arquitetos responsáveis pelos melhores projetos residenciais foram chamados para desenhar os novos prédios. Edifícios ousados e com linguagem atual, plantas inteligentes e belas fachadas compõem o portfólio da construtora. Projetos que buscam maior interação com a cidade por meio de jardins abertos, grades recuadas e, eventualmente, térreo ativo e usos mistos.
Em Curitiba, em 2010, acompanhamos a incorporada L’Espace no mesmo movimento. Nosso escritório, reconhecido principalmente por projetos residenciais, foi convidado a projetar o Edifício Galerie, no Cabral, com demandas parecidas, em um prédio que deveria reunir arquitetura, design e paisagismo. O estande de vendas trazia a assinatura do escritório, em uma clara demonstração das intenções dos empreendedores.
Nesta matéria, apresentamos uma nova geração de edifícios contemporâneos, todos projetados recentemente por arquitetos curitibanos, atendendo a uma demanda que vem se consolidando nos últimos 10 anos. A arquitetura paranaense se tornou referência nacional nos anos 1970: construímos o Edifício da Petrobrás e seu vizinho, o BNDES, no centro do Rio de Janeiro. Tivemos excelentes mestres e faculdades de arquitetura na cidade, não precisamos terceirizar a nossa produção arquitetônica, principalmente aquela mais relevante, para escritórios de outras praças.
Incorporadores sensíveis e preocupados com a nossa identidade e com o desenvolvimento da arquitetura paranaense devem olhar para dentro tanto ou mais do que para fora, valorizando a produção local, evitando, assim, o deslumbramento com o que é estrangeiro e superando um sentimento de inferioridade típico de culturas colonizadas. Arquitetos locais são os que melhor conhecem os hábitos, o clima, a legislação e a cultura da região. Contribuem com o seu nome e sua clientela para o sucesso do próprio empreendimento sem deixar nada a dever aos seus colegas de outros estados. Uma cultura que apenas importa conhecimento já nasce subalterna e jamais será relevante. Boa fruição!
*Matéria originalmente publicada na edição #262 da revista TOPVIEW.