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O DNA de uma casa eco-friendly

A especialista Cristal Muniz dá dicas de como construir uma vida sem lixo e uma casa eco-friendly, premissa dos seus projetos

Você tem alguma ideia do quanto de lixo você produz em um dia? Ou em uma semana? Geralmente não – por mais que com uma simples consulta à memória, ou olhada na lixeira mais próxima, seja fácil deduzir que a quantia é alta.

Foi a partir dessa observação, e do incômodo com o descarte, que Cristal Muniz criou seu projeto que, no nome, já carrega um objetivo audacioso: Uma vida sem lixo. Os números são alarmantes: o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, segundo dados do Banco Mundial. São produzidas cerca de 11,3 milhões de toneladas, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Desse total, somente 145 mil toneladas (1,28%) são, de fato, recicladas, aponta a organização WWF. Ou seja, não é preciso apenas descartar da forma correta, mas repensar a própria produção de resíduos.

Mas é possível zerar a produção de lixo? Cristal indica começar com um passo de cada vez – ou melhor, um tipo de lixo por vez. “Escolha o lixo de que você mais detesta produzir e procure como reduzir ou eliminá-lo. Depois que este estiver tranquilo, passe para o próximo. Escolha uma coisa de cada vez, assim é bem mais fácil de conseguir”, indica Cristal, que lançou um livro, com o mesmo nome do blog, com todas as dicas para quem quer diminuir o impacto negativo na geração de resíduos.“A parte mais difícil é a questão comportamental, de mudar hábitos, que é o mais complexo de mudar em outros aspectos, como para iniciar uma nova dieta ou começar a fazer exercícios”, observa Cristal. “Mas não pode se sentir derrotado quando não consegue, porque é preciso entender que a sociedade está organizada para gerar lixo e desperdício.”Para escolher o primeiro lixo que deixará de ser produzido – ou, pelo menos, reduzido – e ter uma casa mais “amiga” do meio ambiente, Cristal selecionou as dicas abaixo, organizadas por cômodos.

Para começar com a casa eco-friendly

A grande mudança, na verdade, é na mentalidade acerca do consumo e descarte. Antes de mais nada, é preciso refletir sobre o que já está em casa. Depois, pensar na função de cada coisa. “A gente precisa cumprir funções específicas, não precisamos de produtos. Se eu preciso de um potinho para colocar escova de dentes no banheiro, por exemplo, não preciso comprar um novo produto, às vezes posso usar um pote de vidro que tinha outra função, mas agora pode ser usada ali.”Buscar a forma correta de descartar cada produto é essencial, e ter essa responsabilidade faz muita diferença, em especial com relação a reciclagem. Outro aspecto diz respeito às verdadeiras necessidades de cada um, que muitas vezes são exageradas por conta da lógica de consumo. “Tente simplificar e precisar de menos coisas. Sempre indico pensar: ‘isso vale meu tempo de tirar pó e limpar esse objeto Vale a pena o espaço que ele ocupa?’ Somos acumuladores de várias coisas desnecessárias”, reflete. A natureza é outra grande inspiração nessa mudança de paradigma: tudo funciona de forma simples e funcional.

NA COZINHA
Ter uma composteira

Com uma composteira você evita mandar os resíduos orgânicos para um aterro sanitário e ele vai ser transformado em adubo, evitando transmitir gás metano, atrair pragas e produção do chorume tóxico. “Parece complicado, mas não é. Depois de colocar a composteira em casa, a manutenção é supersimples”, ressalta Cristal.

Fazer compras a granel

O aspecto principal da escolha de fazer compras a granel, para Cristal, está em criar consciência sobre a comida e, assim, evitar desperdício de alimentos. A granel, é possível comprar a quantidade exata que cada indivíduo vai utilizar sem que o alimento estrague. Além disso, há a diminuição do uso de plástico, em especial esse que é utilizado por apenas alguns minutos e depois vai para o lixo. Confira

Produzir o próprio limpador para casa

“Essa dica me faz economizar mui-to dinheiro, melhorar minha saúde, porque deixo de entrar em contato com ingredientes alérgicos e tóxicos, além de evitar várias embalagens”, diz Cristal sobre o sabão líquido natural que produz em casa. Ele substitui o detergente para lavar louça e o sabão em pó para lavar roupa e pode ser usado em qualquer outra limpeza. A receita é simples: bicarbonato de sódio, álcool e o sabão de coco.”

NO BANHEIRO
Repensar os cosméticos

A lógica é simplificar. “Muitas vezes a gente tem muito mais do que realmente precisa e muitos nem fazem muita diferença se usamos ou não. Nessa simplificação reduzimos as embalagens e repensamos o consumo”, analisa. A dica é usar cada produto que estiver em cada até acabar, de acordo com a data de validade. Depois, substituir apenas aqueles necessários, dando preferência aos que têm múltiplas funções. “Comprar produtos naturais é legal, mas se não repensar o consumo dá, basicamente, na mesma.” Cristal faz a própria pasta de dente e desodorante e o xampu e sabonete são artesanais.

Usar lâmina de barbear reutilizável

Ao invés de comprar uma lâmina de barbear descartável, que precisará ser substituída de tempos em tempos, prefira uma reutilizável, daquelas que nossos avós costumavam usar.

Usar escova de dentes de bambu

Outra substituição de plástico que precisará ser descartado e substituído várias vezes. Escolha uma escova de dentes com cabo de bambu, que é biodegradável e pode ser colocado na terra quando chegar ao fim da sua vida útil.

NO QUARTO
Ser mais criterioso na compra de roupas

Antes de comprar, fazer uma avaliação das peças que ainda funcionam e daquelas que já não fazem sentido no armário – para ficar claro quais peças estão por lá e manter apenas as que a pessoa gosta e usa.Ao comprar, questionar a si mesmo com algumas perguntas: eu sei de onde essa peça vem? Quem fez essa peça? Em qual país foi feita? Qual a qualidade desse tecido? Se esse tecido solta microplástico? Evitar marcas que tem envolvimento com trabalho escravo e preferir fibras naturais, que têm menor impacto ambiental, pois não soltam micropartículas de plástico na lavagem. Entre elas, o algodão ou algodão orgânico, liocel, linho e viscose. Fazer compras de segunda mão, em brechós, ou fazer trocas entre amigos são outras opções. “A ideia é fazer a vida útil das roupas ser mais longa. Isso não significa que não pode comprar mais, mas o importante é buscar pela qualidade, para garantir que essa peça vai ser usada por muito tempo”, indica.

Consertar antes de descartar

Se a peça estragou de alguma forma, a indicação é procurar uma costureira para avaliar se tem conserto ou se aquela peça pode passar pelo processo de upcycling e ser transformada em outra roupa. Caso não seja possível, é o momento de avaliar se ela pode ter outro uso, como na função de pano de chão e afins. “Esses produtos têm uma reciclagem superdifícil, então é ideal é que a gente consiga evitar que ela chegue lá resolvendo seu reuso antes.”

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