ESTILO ARQUITETURA & DECORAçãO

Nos arrabaldes da arquitetura

Projetos arquitetônicos de concursos públicos ganham vida em uma nova exposição do Museu Oscar Niemeyer

Inaugurada em setembro no MON, a mostra ficará aberta até 12 de dezembro e merece uma visita, não apenas dos arquitetos, como também, daqueles que convivem diariamente, de forma descompromissada, com a arquitetura.

Na chegada à sala expositiva, nos defrontamos com uma linha temporal cronológica de 252 projetos em 165 concursos de arquitetura que percorre mais de 70 anos da prática, em que equipes paranaenses foram vencedoras ou premiadas, tanto nacional com internacionalmente. Um retrato da amplitude da inteligente fadiga aplicada nestes certames. Muitos dos arquitetos pioneiros dessa trajetória foram professores das primeiras turmas das escolas de arquitetura em Curitiba, transmitindo seu entusiasmo para as gerações seguintes – e assim sucessivamente. Essa exposição é um registro de continuidade e uma homenagem aos mestres que iniciaram esse percurso.

Exemplo de um dos infográficos: origem e destino. As linhas extrapolam os limites da circunferência com projetos de paranaenses para o Japão, a China, a Guiné-Bissau, a Espanha e a Antártida. Concepção e desenvolvimento: arquitetas Marina Oba e Daniela Moro.

Na extensão longitudinal da sala, foi disposta uma grande mesa, semelhante à estrutura de um barco, que transporta alguns dos projetos para serem observados em detalhe e que são apresentados ao público por meio de redesenhos, maquetes e fotografias. Recortes do olhar privilegiado de Leonardo Finotti ilustram os projetos que lograram serem construídos. Por outro lado, as delicadas maquetes de papel nos fazem refletir sobre aqueles que nunca atingiram tal feito, permanecendo apenas no projeto. Resta o consolo para esses projetos um dia realimentarem novas arquiteturas, com a possibilidade de nascerem de outra forma.

No final da sala, há um documentário em que profissionais das mais diversas idades compartilham seus depoimentos. Originais de desenhos à mão foram emoldurados para apreciação, documentando os meios de representação anteriores à revolução digital. E, finalmente, temos os infográficos relatando as redes de relacionamentos, as trajetórias, os destinos e a participação feminina nesses concursos. De organização radial e com círculos concêntricos, os gráficos evocam um mandala: nada mais significativo da relação humana com o cosmos do que o esforço por construir.

Sede do BNDES. (Foto: acervo
de José Sanchotene)

Thais Saboia

Thais Saboia Martins, arquiteta e urbanista formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1998 e sócia-fundadora da Saboia+Ruiz Arquitetos, é a nossa convidada do mês. Mestre em Teoria e História da Arquitetura pela Escola Técnica Superior de Barcelona, atualmente, dedica-se à docência e à pesquisa na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

A exposição Concursos como Prática, com curadoria de Bete França, no Museu Oscar Niemeyer, propõe-se ao resgate e à documentação da produção arquitetônica paranaense para concursos públicos. Entre tantos acertos, a exposição, ainda que indiretamente, traz ao debate a interrupção dos concursos públicos para os principais projetos na cidade de Curitiba nos últimos 30 anos, o que chama a atenção, especialmente em uma cidade tão bem servida por escritórios de arquitetura, muitos dos quais se tornaram referência nacional ao abocanhar prêmios de grande envergadura. O edifício sede da Petrobrás e o edifício sede do BNDES, vizinhos no centro do Rio de Janeiro, o Centro de Convenções de Pernambuco e, muito mais recentemente, a Estação Antártica, todos saídos de pranchetas curitibanas! Grandes concursos que revelaram a potência e a capacidade dos nossos arquitetos, que continuamos sem oportunidades de contribuir com o desenvolvimento cultural e o patrimônio construído de nossa cidade.

Em Curitiba, de maneira estatizante, o poder público tomou para si os projetos urbanísticos, paisagísticos e arquitetônicos. Sem abertura de concursos ou concorrência, sem transparência nas contratações ou amplas consultas aos profissionais atuantes na área, fomos desconvidados a projetar nossa cidade. Hoje, Curitiba se encontra repleta de lamentáveis revivals passadistas e estruturas descontextualizadas – típicas de culturas colonizadas – quando, de forma oposta, deveria apontar o avanço e o futuro.

Faz-se urgente e já demasiadamente tardia a retomada dos concursos públicos em Curitiba.

Thais Saboia Martins. (Foto: divulgação)

*Matéria originalmente publicada na edição #254 da revista TOPVIEW.

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