Aterrorizantes e alegórico! Confira o trabalho do curitibano Toni Graton
O trabalho do jovem artista plástico curitibano Toni Graton está presente em importantes coleções em Curitiba e São Paulo. Sua obra emerge das profundezas do inconsciente mais sombrio e arquetípico manifestando-se de maneira aterrorizante e alegórica. Assim, vai se construindo um fascinante repertório de mitologias pessoais, que ressoam universalmente, povoadas de figuras fantásticas e sobrenaturais.
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Suas obras colocam em oposição vida e morte, dor e o prazer, beleza e monstruosidade, sagrado e profano, Apolo e Dionísio, graças a criaturas impiedosas e aterrorizantes que ceifam e devoram. Entidades belas e sedutoras em suas elaboradas formas e colorido, mas também implacáveis e terríveis. Capazes de infligir dor ou prazer, lembrando-nos que os sentidos que captam a dor são os mesmos que experimentam o prazer.
A conexão histórica com a obra do pintor holandês do medievo Hieronymus Bosch, repleta de figuras extraordinárias e, por vezes, considerada religiosa ou herética, se impõe.
Um neófito nas artes, ao tomar literalmente os desenhos e esculturas de Toni, poderia considerá-los feios, assustadores ou até desagradáveis. Provavelmente, não reconheceria a carga simbólica dessas obras ou as contradições psíquicas inerentes a todos os seres humanos. Segundo Umberto Eco em seu livro História da Feiura, o conceito de feiura na arte é complexo e subjetivo, ainda que possa ser fonte de fascínio e desafie frequentemente as convenções estéticas tradicionais.
A arte de Toni, habilidoso desenhista, pintor e escultor, deve ser apreciada em toda sua complexidade e contemplada não apenas com os sentidos, mas também emocionalmente, sem sustos.
Boa fruição!
Toni Graton
Natural de Curitiba, no Paraná, formado na graduação de Gravura na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (UNESPAR campus EMBAP 1, 2017), desenvolvo em minha produção principalmente trabalhos utilizando a linguagem da gravura em metal e da cerâmica, apesar de também explorar outras linguagens em situações específicas.
Comecei a trabalhar com gravura já no primeiro ano da faculdade. A gravura em metal foi a que mais atendeu minhas necessidades de criação e, por isso, comecei a desenvolver meu trabalho individual quando entrei em contato com o ateliê coletivo do Museu da Gravura Cidade de Curitiba, em 2011. Permaneci frequentando-o até 2020 e com a ocorrência da pandemia e da quarentena, montei um ateliê individual. Desde então, desenvolvo meus trabalhos nele.
Meu percurso com a cerâmica teve início em 2016 em uma matéria optativa da faculdade, logo em seguida comecei a fazer o curso de cerâmica no Museu Alfredo Andersen, onde fiquei por dois anos. Depois, comecei a frequentar o ateliê de escultura do Centro de Criatividade do Parque São Lourenço e atualmente desenvolvo as peças em meu ateliê.
Em paralelo a produção de arte, trabalho como tatuador desde meus 17 anos. A tatuagem foi a primeira porta que se abriu para que eu pudesse desenvolver minha criatividade de uma forma rentável, devido a isso ela tem influência na minha produção até hoje.
Neste percurso, tive a oportunidade de mostrar meu trabalho algumas vezes, entre elas, minha exposição individual de gravuras no Museu da Gravura Cidade de Curitiba, intitulada Reorganização de fragmentos sentidos, em 2013, e em 2015 recebi o Prêmio Ibema de gravura. Também tive alguns trabalhos expostos fora do Brasil em duas mostras de gravura, a Bienal Internacional de Grabado y Arte Impreso (Córdoba – Argentina, 2019) e “17ª The International Triennial of Small Graphic Forms (Lodz – Polônia, 2020), e em uma publicação independente no The Drawing Stall vol. 1 (2022).
*Matéria originalmente publicada na edição #288 da TOPVIEW.