Concreto e água: detalhes do projeto do CCO da Sanepar

Curitiba é uma cidade internacionalmente reconhecida por suas propostas urbanísticas justas e inovadoras. Nossos prédios públicos deste mesmo período, lamentavelmente, não repetem a mesma performance, longe de se constituírem em um legado arquitetônico à altura de nossas capacidades. Sofrem os efeitos de contratações que visam, em grande parte das vezes, atender ao gosto e às vontades pessoais de prefeitos, mais preocupados com a sua imagem e desinformados o suficiente para impor à população suas escolhas arquitetônicas anacrônicas, ingênuas e descontextualizadas.

O IPPUC – orgão criado para pesquisa e planejamento, jamais projetos, comporta-se como o escritório particular da Prefeitura, sem demérito aos colegas ali alocados. Fica evidente a falta da necessária e saudável autonomia no desenvolvimento da maioria dos projetos. Na prática, contratações que deveriam escoar para os escritórios particulares de maior prestígio e reconhecimento, estes sim independentes e capazes de contribuir de maneira consistente para a nossa paisagem construída, são definidas em gabinetes, em uma espécie de arquitetura oficial ou estatal de péssimos antecedentes.

Nesse cenário de penúria e ausência de prédios públicos com arquitetura de qualidade, chama atenção o sóbrio e elegante edifício projetado como CCO da Sanepar. O bloco prismático, em estreita relação com seu entorno, fala sobre arquite- tura, seja por meio de seus elementos construídos e sua materialidade ou de suas belas proporções e modenatura. Dispensa narrativas ou referências impostoras, sejam passadistas ou estrangeiras. O projeto é do escritório Slomp & Busarello Arquitetos, mestres e queridos convidados deste mês. Boa fruição e leitura!

O prédio da vida

Situado no Alto da Rua XV, o CCO é responsável pelo controle e pela distribuição de água tratada para atender uma população aproximada de 3 milhões de habitantes em Curitiba e Região Metropolitana. O projeto foi elaborado em 2013 como parte das recomendações da FIFA para realizar jogos da copa em Curitiba. O objetivo era garantir maior segurança e manutenção da eficácia do abastecimento d’água, permitindo que as ações de comando e controle fossem efetuadas com novas tecnologias de automação, supervisão e gestão. Construído em 2021 e 2022, os serviços ali concentrados são efetuados por uma equipe de 70 técnicos e engenheiros, que se revezam em tempo integral e ininterrupto 24 horas por dia.

A arquitetura do CCO é silenciosa, contemporânea e dialoga harmoniosamente com o antigo reservatório de água ali existente, que é uma importante referência simbólica na paisagem de Curitiba. Nosso jeito de fazer arquitetura, seja para projetos de edificações públicas ou privadas, traduz a linguagem do nosso tempo e respeita o espírito e a memória do lugar.

São 2.780 m² distribuídos em subsolo e mais dois pavimentos, com espaços flexíveis para mudanças de layout construídos em concreto aparente e vidro, e 8.300 m² de jardins, construídos sobre reservatórios d’agua subterrâneos, projetados para uso público e privado.

Não existem barreiras visuais entre espaço público e espaço privado. A relação entre ambos é gentil e cordial com a cidade. O gestor público, neste caso, a sensibilidade da Sanepar ao apoiar projetos com conceitos sobre tempo, memória e lugar, traz importante contribuição para o processo civilizatório da sociedade.

Dilva Slomp e Orlando Busarello

Arquitetos e urbanistas pela Universidade Federal do Paraná, especialistas em Arquitetura da Paisagem pela Pontifícia Universida- de Católica do Paraná e professores titulares do curso de Arquitetura e Urbanismo na PUCPR. Sócios-diretores do escritório Slomp & Busarello Arquitetos.

Autores de projetos nas áreas de arquitetura e urbanismo, arquitetura paisagística de espaços públicos e privados. Participação na II, III, IV e VI Bienal de Arquitetura de SP. Premiação em concursos nacionais de arquitetura.