ESTILO ARQUITETURA & DECORAçãO

Como a arquitetura bioclimática une sustentabilidade, sofisticação e valorização imobiliária no Brasil

A arquitetura bioclimática mostra que integrar clima, bem-estar e eficiência energética pode transformar cidades e gerar valor para moradores e investidores

Segundo a ONU, os edifícios e a construção civil consomem 36% da energia mundial e respondem por 39% das emissões de CO₂. Às vésperas da COP30, que será realizada no Brasil em 2025, fica evidente que a forma como projetamos precisa mudar. Nesse contexto, a arquitetura bioclimática — que considera o clima, a ventilação e a luz natural desde a concepção do edifício — deixa de ser tendência para se tornar imperativo.

O Estúdio Convexo Arquitetura, fundado em Curitiba por Paula Morais e Rogério Shibata, se tornou referência ao colocar o clima no centro do processo criativo. Para Paula, especialista em Arquitetura Bioclimática pela Universidad Politécnica de Madrid, “orientação solar, ventilação natural e sombreamento moldam a forma arquitetônica e se traduzem em eficiência energética e conforto”. Shibata, mestre em Sustentabilidade pela UTFPR, complementa: “A adoção de sistemas passivos reduz custos operacionais, aumenta a qualidade de vida dos moradores e fortalece a valorização imobiliária. É uma equação em que todos ganham.”

Exemplos da bioclimática na prática

Projetos em diferentes regiões do Brasil mostram como essa abordagem pode transformar tanto edifícios quanto cidades. Em Palmas, o Forma 32 foi implantado em terreno cercado por áreas de preservação e inclui uma praça pública que conecta moradores ao parque vizinho. Uma segunda camada estrutural protege as fachadas do sol, dá suporte à vegetação e potencializa a ventilação cruzada, reduzindo a dependência de ar-condicionado.

Empreendimento Forma 32, em Palmas.
Empreendimento Forma 32, em Palmas. (Foto: divulgação)

Em Curitiba, o Sublime se destaca pela biofilia aplicada de forma estratégica. Implantado em uma área de alta densidade urbana, o edifício adota um recuo de 10 metros em relação à rua, funcionando como filtro verde. A vegetação integrada às varandas garante privacidade, melhora a qualidade do ar e reduz os ruídos da cidade.

Bioclimática e regeneração: a nova fronteira da arquitetura

A arquitetura bioclimática e a arquitetura regenerativa já estão no centro das discussões globais. Enquanto a primeira busca reduzir impactos ambientais através do uso do clima como aliado, a segunda vai além e propõe restaurar ecossistemas e revitalizar territórios. Como define a arquiteta Paula Morais: “Não se trata apenas de erguer edifícios sustentáveis, mas de repensar como a arquitetura responde ao território. Regenerar é tão urgente quanto construir.”

Essa visão aproxima o trabalho de Paula e Shibata das práticas mais avançadas no mundo, em que edifícios não apenas minimizam danos, mas devolvem vitalidade ao ambiente e ao tecido social.

A experiência do escritório paranaense mostra que pequenas escolhas já fazem diferença como inspirações para um futuro mais sustentável. Para isso, é necessário analisar o clima local como fundamento do projeto; apostar em sistemas passivos, como ventilação cruzada e sombreamento; integrar a biofilia de forma estratégica, incluindo vegetação, luz natural e materiais como madeira e pedra; pensar no coletivo, devolvendo espaços de convívio à cidade; e optar por materiais duráveis que prolonguem a vida útil das construções.

LEIA TAMBÉM: Studio DIEEDRO inaugura em São Paulo com peças inéditas de Jayme Bernardo

O futuro já começou

No Brasil e no mundo, a redução das emissões diretas de CO₂ em edifícios precisa alcançar 50% até 2030. Assim, práticas como as citadas neste texto são imperativas.

Com projetos que unem sustentabilidade, sofisticação e valorização imobiliária, a arquitetura mostra que o futuro já está acontecendo agora, e que o clima não é obstáculo, mas o grande protagonista do processo criativo.

Esse futuro exige também uma mudança de mentalidade: investidores e incorporadores precisam entender que edifícios mais eficientes geram maior retorno financeiro a longo prazo; arquitetos e urbanistas têm a responsabilidade de projetar espaços que dialoguem com o território e ofereçam conforto sem desperdício; e moradores são convidados a reconhecer o valor de habitar construções que respeitam o planeta e promovem bem-estar.

A arquitetura bioclimática, nesse sentido, não é apenas uma técnica: é um convite para repensar como vivemos, trabalhamos e ocupamos as cidades. Quanto mais cedo abraçarmos essa lógica, mais preparados estaremos para enfrentar os desafios climáticos que já se impõem, e mais próximos estaremos de criar uma vida urbana resiliente, saudável e verdadeiramente sofisticada.