A arquitetura e o retrofit na recuperação de espaços
A arquitetura tem um papel vital ao criar espaços para convívios, e possibilidades e tem mostrado que estes projetos podem estar relacionados ao desenvolvimento de áreas, muitas vezes abandonadas por longos anos, simplesmente esquecidas ou em desuso por grande parte da cidade, em novas possibilidades desejadas até mesmo pelo mercado de luxo.
De pouco tempo para cá, cidades ao redor do mundo têm mostrado que revitalizar regiões que se encontravam distantes de prioridades de governos locais podem tornar bairros inteiros em novos espaços turísticos e de convívio entre as pessoas que vivem neles e que passam a viver.
Os exemplos mais clássicos e que certamente aparecem na memória logo de início são os bairros do Brooklyn, em Nova Iorque, e Puerto Madero, em Buenos Aires. Ambos revitalizados pelas mãos de arquitetos e urbanistas que transformaram espaços abandonados em metros quadrados com valores semelhantes aos melhores endereços daquelas cidades.
Muitas vezes, esta estratégia une a assinatura de ícones arquitetônicos, como é o caso da área ao redor da Battersea Power Station, em Londres, totalmente revitalizada pela mãos dos escritórios Foster + Partners e Gehry Partners, que construíram prédios residenciais e comerciais ao lado de uma usina termoelétrica construída em 1930 e que chegou a fornecer um quinto da eletricidade de Londres, alimentando alguns dos marcos mais famosos da capital, como a Casa do Parlamento e o Palácio de Buckingham.
O próprio projeto de revitalização da Usina, desativada em 1983, incorporou escritórios – o mais famoso sendo o da Apple, e residenciais com algumas opções de plantas, além dos grandes vazios, antes ocupados pelas turbinas, serem ocupados por lojas, cinema e espaços para eventos. O projeto, inaugurado em 2022, é assinado pelo arquiteto uruguaio Rafael Viñoly.
Bilbao, no país Basco do lado espanhol, uniu arquitetura e arte no início da década de 1990 e se tornou um exemplo de requalificação urbana a nível mundial. A cidade, que estava devastada por diversos fatores políticos e econômicos, ressurgiu nas décadas seguintes com o “Efeito Guggenheim”, em homenagem ao marco icônico do arquiteto Frank Gehry: o Museu Guggenheim de Bilbao, construído em uma das margens do rio, que então foi totalmente revitalizado, e que se uniu a outras grandes assinaturas, como o arquiteto espanhol Santiago Calatrava, na ponte que liga as duas margens.
Conheça um pouco mais dessa história:
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O exemplo brasileiro em São Paulo
Nos últimos três anos, foi colocado em ação o plano urbanístico de revitalização da região central da cidade de São Paulo, para melhorar a qualidade de vida de quem mora na região e atrair novos moradores para lá.
Pela primeira vez na história, a prefeitura tem um plano urbanístico para a região. Com a aprovação da Área de Intervenção Urbana (AIU) do Setor Central, resultado do Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Setor Central, através de incentivos, o plano é atrair 200 mil novos moradores em dez anos para o centro da cidade.
Na DW! Semana de Design de São Paulo em 2024, um dos maiores festivais urbanos do Brasil e do mundo, o design e a arquitetura invadiram o centro da cidade. Galeria Metrópole, Edifício Itália, Edifício Renata, Edifício Virgínia, Basílio 177, Edifício Comandante Linneu Gomes, Casarão Doimo, Edifício Martinelli, Galeria Zarvos e Edifício Misericórdia receberam visitas guiadas, palestras e exposições, tornando-se vitrines e a cara da arte paulistana.
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Ocupar o centro é uma das maneiras de revitalizá-lo. O Programa Requalifica Centro traz incentivos fiscais e urbanísticos para os investidores que buscam restaurar e requalificar prédios antigos da região central de São Paulo. O alvo do programa são edificações construídas até setembro de 1992.
Até o momento, 14 projetos já foram licenciados. Entre os imóveis requalificados, está o Edifício Renata Sampaio, assinado pela METRO Arquitetos. O escritório de arquitetura paulistana está trabalhando na região, principalmente através dos retrofits, buscando atualizar os prédios clássicos de São Paulo, enquanto as características principais são preservadas e, em alguns, o uso misto é incorporado, trazendo trabalho e moradia para a região, abraçados pela cultura de se viver o centro novamente, com seus marcos arquitetônicos de uma época de ouro para cada cidade. O Edifício Renata é um exemplo desses, originalmente projetado pelo arquiteto Oswaldo Bratke em 1956.
Assim, tão logo São Paulo, com toda sua grandiosidade, sendo exemplo brasileiro na transformação pela arquitetura de áreas esquecidas, outras cidades irão se inspirar para também concretizar projetos de revitalização em grandes centros, como mostra o início do texto, encontrando oportunidades na forma de fazer seus centros históricos, os novos pontos de encontro entre pessoas interessadas em manter as histórias para que se possam criar novas.